A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32/20, que trata da Reforma Administrativa, apresentada pelo governo Bolsonaro, foi enviada ao Congresso Nacional em setembro de 2020 e, desde então, vem sofrendo enorme resistência por parte do funcionalismo público como de grande parte dos parlamentares.
Apesar do próprio governo não ter a certeza de que conseguirá colocá-la em votação ainda neste ano, é preciso estar atento, pois é uma das pautas prioritárias para os setores que pretendem acabar com os serviços públicos ou se apropriar deles para lucrar sobre o sofrimento da população.
Depois de muitas manobras e sete versões, o texto foi aprovado na Comissão Especial da Câmara dos Deputados, com uma série de normas gerais sobre políticas de gestão de pessoas para toda a administração pública brasileira. De início, o governo tinha pensado mais em uma “Reforma de RH”, mas depois embutiu medidas para facilitar a entrega dos serviços públicos para a iniciativa privada.
E o que está por trás da Reforma Administrativa?
Basicamente, o que está sendo vendido na reforma (principalmente pela mídia, para a população) não é exatamente o que está no texto da PEC. Por isso, é importante colocar luz nas entrelinhas dessa proposta.
De forma resumida, a proposta prevê formas de prejudicar os atuais e os futuros servidores, com a contratação por processo seletivo simplificado com direitos reduzidos (pelo praxo de até 10 anos de contrato), avaliação de desempenho (dos órgãos e entidades e dos ocupantes de cargo, emprego ou função pública, em ciclos de 12 meses) para facilitar a perda do cargo (após três ciclos consecutivos ou cinco intercalados de avaliação insatisfatória, com conceitos que poderão ser criados posteriormente, o que embute no projeto um alto grau de insegurança jurídica e política).
Uma das maiores ameaças no texto são as “parcerias” com entidades privadas para a execução de serviços públicos. Empresas poderão se aproveitar da estrutura custeada com dinheiro público para lucrar. Com isso, terão mais vantagem contra as empresas concorrentes.
Para os servidores, além de acabar com a estabilidade, o projeto ainda propõe a possibilidade de redução de até 25% da jornada de trabalho, com a redução proporcional dos salários também.
Também serão vedados os benefícios remuneratórios para futuros servidores como quinquênios, triênios, adicionais por tempo de serviço, licenças premiadas, férias de mais de 30 dias, dentre outros.
A reforma vai acabar com os altos salários e privilégios?
Uma das justificativas do governo para apresentar essa Reforma é que se combateriam os “privilégios” do serviço público no Brasil. Porém, o que o governo e a velha mídia não contam, é que as carreiras que recebem os maiores salários (muitas vezes, com remunerações acima do teto constitucional) não serão afetadas. Ficam de fora promotores, magistrados e parlamentares. O texto também traz poucas alterações para a carreira militar, mas concede maior flexibilidade para acumulação de cargos.
Portanto, esse discurso não passa de uma hipocrisia criada para enganar a população.
O Brasil tem um número alto de servidores públicos?
Outra justificativa usada para aprovar a Reforma seria que o Brasil teria muitos servidores públicos. A proporção de empregos públicos em relação à força total de trabalho no Brasil é relativamente baixa em comparação aos países desenvolvidos.
O Brasil tem cerca de 12% de sua força de trabalho no poder público. A média dos 32 países pesquisados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de 21% sobre o total de trabalhadores.
Importante lembrar que no Brasil os serviços públicos são essenciais para garantir o acesso da população a direitos dos mais básicos, como saúde e educação. A população sente na pele a falta servidores nessas áreas.
Menos qualidade no atendimento à população
A Reforma Administrativa pretende reduzir o Estado e transformá-lo em coadjuvante no provimento de serviços essenciais à população. Com isso, a iniciativa privada se tornará protagonista, determinando preços e os rumos das políticas públicas.
Entre a busca pelo lucro e a segurança, não há dúvidas de que os interesses financeiros irão prevalecer.
Facilitar a corrupção
Os defensores da PEC 32 costumam mentir ao dizer que todos os servidores efetivos terão a estabilidade assegurada. Só que o projeto estabelece medidas para fragilizar o sistema de proteção que garante ao funcionalismo condições para resistir contra as investidas de políticos, empresários e governantes oportunistas, ávidos por implementar esquemas de corrupção.
A ideia do governo é fazer com que os servidores fiquem fragilizados e, por medo da demissão, deixem de denunciar esquemas de corrupção.
Retrocesso de direitos
Poderão ser extintos benefícios como a licença-prêmio, adicional por tempo de serviço, parcelas indenizatórias, adicional de substituição não efetiva, progressão na carreira e promoção baseada em tempo de serviço, incorporação ao salário por substituição; entre outros direitos.
Nova avaliação de desempenho sem regulamentação
Inicialmente, não há mais previsão de lei regulamentadora para o procedimento de avaliação de desempenho em si, apenas para o processo posterior, de perda do cargo em caso de desempenho insuficiente. Em segundo plano, a PEC 32/2020 prevê a reavaliação de desempenho insatisfatório por instância revisora, caso suscitada pelo servidor, não deixando claro que instância seria essa.
Outro ponto que preocupa é que não haverá contraditório e ampla defesa nem durante, nem depois da avaliação. A regra estabelece que no processo de perda do cargo por mau desempenho somente se poderá discutir questões de legalidade da avaliação anteriormente feita.
Reforma não trará economia
O governo Bolsonaro argumenta que a Reforma Administrativa traria economia para os cofres públicos. Só que eles não conseguiram apresentar uma prova sequer sobre isso.
O Tribunal de Contas da União (TCU) cobrou do Governo Federal a divulgação dos estudos e da metodologia de cálculo que fundamentaram as projeções de impacto fiscal da Reforma Administrativa.
Em resposta, porém, o Ministério da Economia reconheceu, em nota técnica, que não há como calcular o impacto financeiro. É a repetição do método de divulgação de informações falsas para esconder as reais intenções de um projeto.
A PEC representa, na verdade, uma aventura jurídica cujos efeitos financeiros sobre o serviço público só poderão ser calculados na prática, depois que já aconteceu, o que é muito temerário. Ou seja, de acordo com o próprio governo, não é possível comprovar se a proposta terá o resultado esperado.
Fonte: APUFPR
Em um dia agitado e cheia de reuniões, representantes da APUFPR estiveram novamente em Brasília nesta ontem (21), pressionando deputados a não aprovarem a Reforma Administrativa (PEC 32/2020) do Governo Federal. A necessidade de reversão dos cortes anunciados na ciência também foi tema das conversas com os parlamentares.
A gestão Bolsonaro tenta aprovar a Reforma Administrativa em meio às denúncias que comprovaram a existência de milionárias contas “offshore” em paraísos fiscais no nome do ministro da Economia, Paulo Guedes, que teria lucrado cerca de R$ 14 milhões desde que entrou no governo, por causa da subida do dólar.
Também cercado pelas denúncias do relatório final da CPI da Covid-19 no Senado, o Governo Federal se comprometeu a destinar R$ 20 milhões em emendas parlamentares para cada deputado que votar a favor da destruição do serviço público brasileiro, em uma compra de votos que envolveria, pelo menos, R$ 6 bilhões.
Já em relação ao orçamento da ciência, há uma grande reação por parte das comunidades acadêmica e científica contra o corte de cerca de R$ 600 milhões do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), equivalente a 92% dos recursos da pasta. A verba era prevista para financiar a pesquisa no país, cada vez mais sufocada pela gestão negacionista de Bolsonaro e seus apoiadores extremistas.
APUFPR na pressão
A delegação da APUFPR foi composta pelo presidente, Paulinho Vieira; pela vice-presidente, Andréa Stinghen; e pelo docente Marcelo M. S. Lima, do Departamento de Fisiologia da UFPR.
Em relação à Reforma Administrativa, o sentimento predominante no Congresso é de que, mesmo com o oferecimento de emendas parlamentares, o Governo Federal ainda não tem os 308 votos necessários para sua aprovação na Câmara. Por isso o desespero em abrir os cofres para comprar votos.
Os representantes da APUFPR conversaram com vários deputados e também se articularam com outras instituições e frentes atuantes no Congresso, nesse momento em que os cofres públicos estão sendo abertos para todo tipo de negociatas.
Em resposta aos cortes na ciência e na pesquisa, a APUFPR reuniu-se, separadamente, com vários deputados, que relataram a existência de uma forte pressão para que a medida seja revertida.
O ministro Paulo Guedes foi convocado à Câmara para prestar explicações. O deputado paranaense Aliel Machado (PSB) relatou que seu gabinete entrou com medidas judiciais no STF exigindo a recomposição dos recursos.
Assim como todos os que defendem os investimentos em Educação e Ciência, e nos serviços públicos em geral, a APUFPR continuará atuante para barrar a Reforma Administrativa de Bolsonaro e os sucessivos – e absurdos – cortes nas verbas da pesquisa, da ciência e da educação.
Fonte:APUFPR
A Direção do Setor de Educação da UFPR, o Centro de Articulação das Licenciaturas e o Centro de Assessoramento Pedagógico convidam para o evento “Dia D Educação”, em comemoração ao dia das professoras e professores, com o tema “As atuais políticas curriculares no contexto da educação básica e da formação inicial e continuada de professores”, a ser realizado de forma remota, no dia 15 de outubro de 2021, conforme programação.
Dia D Educação
“ As atuais políticas curriculares no contexto da educação básica da formação inicial e continuada de professores”
Horário:
9:00 ÀS 11:30
Atividade:
-Abertura do evento
-Mesa Temática:
“Interlocuções entre a formação inicial e continuada de professores”
Link: https://youtu.be/jFwZeaE 7QEo
Horário:
14:00 ÀS 16:40
Atividade:
– Apresentação Cultural
– Mesa Temática: “A proposta de integralização da extensão na UFPR”
Link: https://youtu.be/F4W9aO 8e97M
Horário:
18:30 ÀS 21:00
Atividade:
– Lançamento do E-book “Estágios de formação pedagógica e a relação universidade-escola: dilemas, desafios e perspectivas em tempos de pandemia”
– Mesa Temática: “O Novo Ensino Médio e implicações na formação do professor”
Link: https://youtu.be/F4W9aO 8e97M
Saiba mais detalhes aqui.
Fonte: APUFPR
❤ “A educação é um ator de amor e, por isso, um ato de coragem”. A frase de Paulo Freire é bastante apropriada não só para hoje, Dia dos Professores, mas para todos os dias dos educadores brasileiros.
👩🏫 Um ato de amor pela construção e difusão do conhecimento, pelo estudo – e, acima de tudo, pelos estudantes, que são o presente e o futuro de nosso país.
💪 Um ato de coragem diante não só da extrema responsabilidade que envolve o processo educativo, mas também frente os desafios cada vez maiores de um país governado pelo negacionismo, pela mentira e por uma visão que combate o conhecimento e a democracia.
👏 Nessa data, a APUFPR homenageia todos professores e professoras do Brasil, por seu amor à educação e por sua e coragem: parabéns, docentes, sigamos juntos na luta!
Na tarde de ontem (29), a diretoria da APUFPR se reuniu com a Reitoria da UFPR para tratar dos adicionais de insalubridade dos professores da universidade. Participaram também docentes que integram a comissão criada na reunião do dia 22.
Entre várias questões debatidas, inclusive sobre as metodologias utilizadas pela instituição para fazer as avaliações, a UFPR se comprometeu a rever 54 laudos que foram negados inicialmente, de professores que perderam o adicional por assumir cargos administrativos ou que tiveram seu pedido negado.
Esta conquista foi possível a partir da movimentação da APUFPR que, inclusive, contratou uma engenheira do trabalho, capaz de confrontar tecnicamente laudo por laudo.
Tema 942
Sobre o Tema 942 do STF (que reconhece o direito do servidor público em converter, em tempo comum, aquele prestado sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física, mediante contagem diferenciada, válido para períodos trabalhados antes da Reforma da Previdência de 2019).
Apesar de reconhecer a legitimidade, a Progepe afirmou que não consegue implementar porque o sistema que gere isso (Sipec) deve ser modificado, para acrescentar o campo com as informações sobre a contagem do tempo especial. Mas que isso dependeria do Ministério da Economia. Há, inclusive, uma nota técnica do próprio STF, respaldada pela Controladoria Geral da União (CGU), que garantiria essa implementação. Segundo a UFPR, só seria viável implementar por meio de ação judicial própria com parecer de força executória.
A APUFPR vai avaliar os instrumentos jurídicos e políticos para que isso ocorra, e também para que o Ministério da Economia tome as providências necessárias.
Adicional de insalubridade é um direito
A APUFPR reforça a importância dos docentes requerem a insalubridade, inclusive por causa do coeficiente aplicado sobre o tempo trabalhado, que é de 1.4 para os homens e 1.2 para as mulheres.
O sindicato entende que o ideal é que todos os ambientes proporcionem meios que garantam as condições ideais de trabalho e segurança. Quando não há como garantir as condições ideais, o adicional de insalubridade é uma compensação.
O tema é urgente e atinge muitos docentes, que estão tendo seus vencimentos afetados.
Fonte: APUFPR
Aparelhada pelo governo de Jair Bolsonaro, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) vem sofrendo com a queda da sua credibilidade.
Seja porque hoje é comandada por pessoas sem qualificação, pelos cortes de bolsas ou pela aplicação de critérios ilegais para fazer as avaliações que irão ranquear os cursos de pós-graduação no país.
Essa última questão, inclusive, fez o Ministério Público Federal (MPF) ingressar com ação civil pública na Justiça Federal, que concedeu liminar determinando a suspensão imediata dos processos de avaliação dos programas de pós-graduação atualmente realizados pela Capes.
Questionados por cientistas e pesquisadores há tempos por sua falta de clareza e objetividade, os critérios foram recentemente modificados pela Capes que, além de tudo, aplicou retroatividade nas avaliação feitas pelo órgão.
Critérios ilícitos de avaliação
O MPF exigiu que a Capes apresente em até 30 dias uma relação completa dos “critérios de avaliação”, “tipos de produção/estratos” e as “notas de corte” usadas para o ranqueamento das pesquisas, cursos e periódicos.
Foi exigida também a divulgação dos parâmetros de avaliação que criaram critérios novos, com efeito retroativo sobre avaliações já em curso.
Segundo o MPF, os critérios adotados pela Capes em suas avaliações são ilícitos, já que são definidos e modificados durante o período que se faz a avaliação e depois aplicados de forma retroativa.
“O problema central não é a modificação dos parâmetros em si, mas sua imprevisibilidade e sua retroação ilícita”, afirma a ação civil pública.
As mudanças dos critérios implementadas retroativamente incidem sobre a avaliação do período entre 2013 e 2016, afetando 3.100 programas de pós-graduação (89%). Se fossem aplicadas retroativamente, poderiam afetar também as notas referentes ao quadriênio de 2017-2020, impactando a distribuição de recursos públicos para os 3.594 programas de pós-graduação existentes no Brasil.
Importante lembrar que a atual presidente da Capes, Cláudia Mansani Queda de Toledo, coordenava um programa de pós-graduação que teve o descredenciamento recomendado pela própria Capes em 2017 (no governo Temer) por não ter atingido a nota mínima (sua nota foi 2) para continuar seu funcionamento. O programa é ofertado na instituição privada de sua família, na qual, coincidentemente (ou não), também se graduaram o ministro da Educação Milton “vergonha alheia” Ribeiro e o ex-ministro da Justiça André Mendonça (aquele que usou o cargo para elaborar um dossiê contra opositores ao governo e que hoje aguarda ‘na geladeira’ uma sabatina para indicação ao STF). Em 2020, o programa voltou a ter nota 4 (milagre?) após novo parecer do Conselho Superior da Capes dois dias antes da saída do então ministro da Educação Abraham “pior de todos os tempos” Weintraub. Mais outra coincidência…
Mudanças nos critérios de retroatividade poderiam, inclusive, alterar a avaliação aplicada ao programa coordenado pela presidente da Capes ou a outros descredenciados por não alcançarem notas mínimas, especialmente em instituições privadas.
Para a APUFPR, a forma apressada com que a Capes tentou aplicar mudanças que afetariam quase a totalidade dos programas já avaliados no quadriênio anterior mostra que não se trata de falta de cuidado ou amadorismo de pessoas que ganharam cargos no governo mesmo sem terem qualificação para ocupar posições importantes.
É parte do projeto do governo de Jair Bolsonaro que promove o loteamento de espaços de construção do conhecimento por militantes extremistas que conduzirão sua estratégia de “guerra cultural”, ao mesmo tempo em que desmontam a ciência e a pesquisa nacional e ainda beneficiam setores econômicos que controlam o ensino superior privado no país.
Fonte: APUFPR
O Projeto de Pesquisa Matemática Aplicada e Computacional tem como um de seus objetivos produzir resultados e ferramentas que sejam acessíveis à sociedade.
Nossa aplicação de previsão de casos de covid19 foi desenvolvida com o objetivo de ser uma ferramenta para gestores municipais e, também, um mecanismo de conscientização da população sobre a situação atual da pandemia e seu progresso em curto prazo.
Para fazer a previsão, capturamos o comportamento recente da covid19 em cada uma das cidades do Paraná e replicamos isso para os próximos dias com base no modelo epidemiológico SIR (suscetíveis à infectados à removidos).
Por vezes não conseguimos gerar a previsão para algumas cidades, entretanto julgamos ser importante já disponibilizar a ferramenta e continuar aperfeiçoando o sistema.
Para você usufruir dos resultados gerados pelo nosso trabalho, basta acessar o site https://previsoescovid.codeitdev.com/, selecionar a cidade de seu interesse e clicar em “Gerar Previsão”.
Detalhes sobre a equipe envolvida no projeto você encontrará clicando sobre cada um dos nomes disponíveis no rodapé da página.
Sugestões e relatos sobre erros encontrados podem ser enviados para [email protected].
*Matéria enviada por Previsões Covid-19.
As recentes denúncias de esquemas de corrupção no Ministério da Saúde trouxeram, de certa forma, uma revelação: o negacionismo do governo de Jair Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19 é do tipo mezzo-mezzo: metade é ideológico e metade era uma forma de atrasar a pandemia enquanto gestavam esquemas para compras superfaturadas de vacinas contra a Covid-19 e outros produtos.
Da mesma forma, a obsessão de Jair Bolsonaro e seus apoiadores contra a ciência só existe porque o saber científico, o conhecimento e o pensamento crítico demolem as estruturas de um governo que só consegue sobreviver na base de um esquema gigantesco de distribuição de fake news e discursos de ódio para abastecer sua guerra cultural contra fantasmas e inimigos inexistentes.
A metade ideológica é mezzo oportunista ou inteira?
O negacionismo das lideranças extremistas é, via de regra, apenas uma arma política, porque nem a metade “ideológica” do negacionismo é tão autêntica assim, já que suas teorias e afirmações são tão absurdas ou patéticas que grande parte dos membros do governo e dos políticos de seu entorno certamente não acreditam nas mentiras que eles mesmos inventam.
Na imensa maioria dos casos, são apenas oportunistas, porque lucram politicamente (espalhando mentiras e discursos de ódio para ganhar votos e seguidores, e depois tentar manter sua base de apoio constantemente paranoica e radicalizada) ou financeiramente (afinal, é difícil acreditar que eles sirvam de graça como garotos-propaganda ou façam merchandising de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a Covid-19, por exemplo, sem ganhar nada em troca).
Ou, mais provavelmente, ambos.
Mas isso não teve efeito somente na forma propositadamente desastrosa com a qual o governo Bolsonaro lida com a pandemia do novo Coronavírus (cujas decisões foram responsáveis pela imensa maioria das mais de 560 mil mortes por Covid-19 no Brasil). As pesquisas científicas atingiram seu menor patamar de investimento no país desde o início do século 21.
O órgão responsável por coordenar e apoiar as pesquisas no Brasil é o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), subordinado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MTI, comandado por um ex-astrounauta e ex-garoto-propaganda de uma marca de travesseiros). As verbas do órgão têm caído desde que Michel Temer assumiu o poder, em 2016, e os cortes após a eleição de Bolsonaro são ainda mais bruscos.
Um terço do que era investido em 2013
O Governo Federal estabeleceu um valor de R$ 1,21 bilhão para o CNPq, no orçamento de 2021. O montante é praticamente a metade do que era gasto com o órgão em 2000. Em comparação, o maior orçamento destinado à pesquisa nesse período foi feito em 2013, R$ 3,14 bilhões.
O número de pesquisadores apoiados pelo CNPq também teve uma queda alarmante. Em relação a 2011, as bolsas de mestrado tiveram uma redução de 32% (de 17.328 para 11.824) em 2020, e as de doutorado caíram 20% (de 13.386 para 10.738).
O valor das bolsas de mestrado e doutorado não sofre reajuste desde 2013: de acordo com cálculos da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), as bolsas tiveram uma desvalorização real de 170% e 306%, respectivamente.
Nesse cenário, não é de se surpreender que as plataformas digitais do CNPq tenham sofrido um “apagão” no final de julho, e que a situação ainda esteja sem solução. No mesmo dia que dados sobre pesquisas, bolsas e currículos saíam do ar, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações recebia uma deputada neonazista em seu gabinete, demonstrando as prioridades do governo Bolsonaro.
Ciência como alvo
Os cortes de verba não se restringem ao CNPq, atingindo o MTI como um todo. Se em 2015, ainda com Dilma Rousseff como presidente, o orçamento do ministério era de R$ 6,5 bilhões, em 2021 caiu para R$ 2,7 bilhões, menos da metade.
Já o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que recebia R$ 3 bilhões em 2015, atualmente tem orçamento de 510 milhões. O que já seria absurdo torna-se ainda mais cruel se levamos em consideração que vivemos uma pandemia: o FNDCT é responsável por financiar pesquisas de novas vacinas, por exemplo.
Isso sem falar no descaso com o patrimônio cultural do Brasil, como ficou evidenciado nos incêndios do Museu Nacional e da Cinemateca Brasileira, e com a educação e a arte em geral.
Seja por motivos falsamente ideológicos ou pelo oportunismo para montar esquemas de corrupção, o negacionismo do governo de Jair Bolsonaro trará graves consequências para o futuro do país.
Fonte: APUFPR
Diante da maior crise de saúde pública global da história, seria normal supor que todas as atenções e ferramentas de um governo estivessem voltadas para solucionar o problema e ajudar sua população.
No caso da pandemia do novo Coronavírus, a solução efetiva é a vacinação. Mas nunca foi esse o entendimento do Ministério da Saúde e dos membros do governo de Jair Bolsonaro, mesmo diante do acúmulo de contaminações e mortes por Covid-19 que levaram o Brasil ao segundo pior quadro do planeta.
Um levantamento da agência Fique sabendo, por meio de dados fornecidos pela Lei de Acesso à Informação, demonstra que, em um ano e meio de pandemia, o Ministério da Saúde promoveu apenas uma publicação paga sobre vacinação nas redes sociais. Isso mesmo, só uma postagem foi considerada importante o suficiente para que a pasta investisse recursos para alcançar mais pessoas.
Por outro lado, o governo gastou milhares de reais para comprar uma imagem, em um banco de dados (espera-se que tenha agido na legalidade), de um caçador armado para produzir uma postagem em “homenagem” ao Dia do Agricultor (peça que, vergonhosamente, ficou conhecida como Dia do Jagunço, e que depois foi apagada).
Tratamento ineficaz teve mais postagens
O Ministério da Saúde fez mais de 4.800 publicações no período da pandemia, iniciado em março de 2020 aqui no Brasil. Destas, 85 foram promovidas, ou seja, receberam investimentos. Algumas até falavam de vacinas, mas não daquelas para o combate à Covid-19, e a maioria tratava de doenças como gripe, sarampo e febre amarela.
Nesse período, também houve duas postagens pagas sobre tratamentos ineficazes (os tais medicamentos propagandeados como um tipo de “elixir” milagroso). Para Bolsonaro e sua turma, essas questões eram mais urgentes do que as médias diárias que, em alguns momentos, superavam três mil mortes.
Uma análise dos termos utilizados em todas as postagens feitas durante a pandemia também demonstra que, inacreditavelmente, os termos “Coronavírus”, “Covid” ou “pandemia” não estão entre os mais utilizados. Um país que rapidamente chegou à segunda posição em quantidade de mortes não deveria tratar o tema como prioridade nos canais de comunicação do Ministério da Saúde?
Não foi isso que os governos de outros países fizeram?
O que o Brasil descobriu nos dois últimos meses é que a prioridade do governo de Jair Bolsonaro era outra: esquemas para compras superfaturadas de vacinas e outros itens.
Sem estratégia ou com estratégia de morte?
Como tem provado a CPI da Covid-19 no Senado e outras investigações, a posição do Governo Federal contra vacinas não era apenas uma postura ideológica com base no negacionismo charlatão (certamente, a maioria dos membros do governo não acreditam nas próprias mentiras), mas uma oportunidade de corrupção nas negociações dos imunizantes e de outros itens, como máscaras, que estão sendo investigadas.
O negacionismo, que tanto levantou dúvidas durante a pandemia, revelou-se apenas uma estratégia para prolongar a crise sanitária e manter uma base de apoio extremista constantemente radicalizada, alimentada por fake news, teorias conspiratórias e muitas paranoias.
Mas essa estratégia não poupou nem seguidores mais fanáticos, já que muitos morreram por acreditar nas mentiras do governo e de seus seguidores. Estudos indicam que, dependendo da proporção de votos que Bolsonaro teve para presidente, morar em algumas cidades representava riscos até 500% maiores de morte na pandemia, já que havia maior propensão da população local a seguir as ideias negacionistas e, com isso, adotar comportamentos que ajudaram a disseminar o vírus com mais rapidez.
Poderia ser diferente
É inegável a importância de boas estratégias de comunicação em políticas de saúde, como as campanhas de imunização sempre tiveram após a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), com a Constituição de 1988. O Brasil, inclusive, tem larga experiência com iniciativas no caso de outras doenças, como sarampo, gripe e dengue, e já chegou a ser, em 2012, um dos países com maior parte da população vacinada, atingindo uma média de até 95% em algumas vacinas infantis.
Há muito tempo não se questionava a necessidade da vacinação em massa. Por isso, conseguimos erradicar a maioria das doenças infectocontagiosas.
Já na atual gestão a situação é tão absurda que levou a Justiça Federal do Rio Grande do Sul a proferir uma sentença obrigando o governo Bolsonaro a elaborar um plano de comunicação para combate à Covid-19.
Diferentemente das mentiras do presidente, que tenta jogar para o STF a culpa da inação de seu próprio governo, nesse caso vemos o contrário: o poder Judiciário tendo que “avisar” o governo de suas obrigações mais óbvias.
Se Bolsonaro e sua equipe tivessem se esforçado para cumprir essas obrigações, certamente o Brasil não estaria próximo de chegar às 600 mil mortes por Covid-19.
Fonte: APUFPR