Nota de repúdio da APUFPR ao presidente do CNPq, que discriminou o movimento Parent in Science

13 de fevereiro de 2024
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A Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR) vem a público expressar seu repúdio às declarações do presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão, realizadas no dia 30 de janeiro, durante a 5ª edição do Encontro dos Programas de Pós-Graduação em Biologia Morfofuncional e Molecular e em Genética e Biologia Molecular da Unicamp (GBMeeting).

As críticas direcionadas ao movimento Parent in Science, sob a alegação de que este “atrapalha muito” ao propor medidas específicas para mulheres cientistas, são não apenas inaceitáveis, mas também revelam uma visão profundamente desatualizada e discriminatória sobre os desafios enfrentados pelas mulheres na ciência.

As falas do presidente do CNPq desvalorizam os esforços incansáveis de grande parte da comunidade científica, que tem trabalhado arduamente para promover a igualdade de gênero no ambiente científico, tanto no Brasil como internacionalmente. A desigualdade de gênero na ciência é uma realidade incontestável, e as iniciativas que buscam endereçá-la são fundamentais para o desenvolvimento de um ambiente acadêmico mais justo e inclusivo.

Ao desconsiderar as condições desiguais de gênero no processo de reprodução da vida e na produção do conhecimento, a fala de Ricardo Galvão reitera uma visão machista, patriarcal e meritocrática, ignorando o árduo papel que as mulheres desempenham no âmbito dos cuidados familiares, imposto pela divisão sexual do trabalho.

Além disso, a falta de sensibilidade e de entendimento sobre as disparidades de gênero e as problemáticas que envolvem o acesso à ciência no país, demonstradas pelo presidente do CNPq, refletem um profundo desconhecimento das desigualdades estruturais que permeiam nossa sociedade. É inadmissível que alguém que ocupa uma posição tão importante na estrutura da produção científica nacional exiba tal desconsideração pelas questões de gênero na ciência.

É importante lembrar que as mulheres constituem a maioria nos cursos de graduação e pós-graduação nas universidades brasileiras, evidenciando a necessidade de políticas que assegurem sua plena participação e reconhecimento no campo científico. Ainda no ano passado, o CNPq publicou um edital que foi criticado por seu caráter preconceituoso, utilizado para reprovar uma professora da UFABC por não possuir doutorado no exterior e por estar grávida, um ato que não pode ser visto separadamente das declarações recentes de seu presidente.

A APUFPR tem estado na vanguarda da luta pela igualdade de gênero na ciência, promovendo debates e estimulando a reflexão sobre as mudanças necessárias para alcançar esse objetivo. Continuaremos a defender a importância de um ambiente científico que valorize a diversidade e a inclusão, reconhecendo as contribuições de todas e todos, independentemente de gênero.

Em resposta às declarações do presidente do CNPq, a presidente da APUFPR, Andrea Stinghen, afirma que “as palavras de Ricardo Galvão não apenas desrespeitam as cientistas e pesquisadoras que lutam diariamente por seu espaço e reconhecimento na academia, mas também negam a realidade das barreiras sistêmicas que impedem a plena igualdade de gênero na ciência. É nosso dever, enquanto comunidade acadêmica, repudiar tais visões e trabalhar incansavelmente para construir um ambiente científico mais equitativo e inclusivo.”

A APUFPR ressalta a importância do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, comemorado em 11 de fevereiro, e reitera seu compromisso com a promoção da igualdade de gênero na ciência e conclama o CNPq e outras instituições a refletirem sobre suas políticas e práticas, assegurando que estas estejam alinhadas com os princípios igualdade e inclusão, que fazem das universidades públicas instrumentos poderosos de transformação social.

 

Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR)

Fevereiro de 2024


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