1984 e a distopia antissindical da direção do ANDES para barrar os docentes da UFPR no Congresso

1 de fevereiro de 2024
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No livro “1984”, o escritor George Orwell descreve uma sociedade controlada por uma figura enigmática conhecida como o “Grande Irmão” (Big Brother, em inglês) onde a verdade é o que os governantes dizem ser a verdade. Esse controle é mantido não apenas por vigilância e força, mas também por meio da limitação das formas de expressão e comunicação.

A atitude da direção do ANDES em restringir a participação de docentes da UFPR e de outras universidades em seu próximo Congresso é uma demonstração alarmante do totalitarismo descrito em “1984”. A direção do Sindicato Nacional e o grupo que a apoia transformaram o ANDES no Grande Irmão de Orwell.

O escritor, que era um socialista democrático (ao contrário do que muitos pensam), cria um cenário em que um regime esmaga a individualidade e a liberdade, usando a censura e a manipulação como ferramentas de controle.

De forma semelhante, a insistência da direção do ANDES e de seu grupo de apoio em usar métodos obsoletos e considerar a presença física como única forma de participação em assembleias e processos de escolha de delegados não é apenas retrógrada, mas uma manobra autoritária para perpetuar o poder nas mãos de poucos.

Ao forçar a participação física nas assembleias e desprezar as possibilidades que a tecnologia oferece para uma participação mais ampla e democrática, a liderança do ANDES mostra um desprezo pela modernidade. Além disso, revela uma estratégia clara de silenciar a maioria.

É uma tática de intimidação e exclusão, onde só tem voz quem se submete às regras impostas por um grupo desesperado para se manter no poder a qualquer custo.

Se continuar assim, em breve veremos o ANDES abandonar as redes sociais e voltar a se comunicar nas portas das salas de aula com panfletos rodados em mimeógrafos, afinal, acreditam que a única forma de se comunicar e fazer o debate com as pessoas é estando fisicamente na frente delas. Talvez tenhamos que adquirir um FAX para receber circulares e comunicados do Sindicato Nacional…

 

Fragilidade argumentativa

Após receber do ANDES a negativa para a inscrição dos delegados da UFPR no Congresso, a direção da APUFPR enviou ofício reiterando o direito de os docentes da nossa Universidade participarem do evento, após escolha legítima e democrática da categoria.

Em resposta, a direção do Sindicato Nacional apresentou uma série de argumentações incoerentes, restringindo a interpretação do próprio estatuto do ANDES quanto ao termo presencial, como se a presença de docentes em uma Assembleia híbrida fosse algo abstrato e imaterial.

Forçando o argumento, a direção do ANDES chega a fazer uma falsa equivalência entre as Assembleias (onde a participação é livre e voluntária) e as aulas (onde a presença é, via de regra, compulsória). 

Ao que parece, na visão deles, os docentes não têm capacidade cognitiva e elaborativa para participar de debates em qualquer método e, assim, não teriam capacidade de tomar decisões conscientes sem enxergar “fisicamente” uma pessoa enquanto ela fala.

Ao defender a ideia de que uma Assembleia com 10 pessoas fisicamente presentes vale mais do que uma com 100 docentes presentes em outro formato, fica evidente a intenção ególatra de discursar para si mesmos, ou o anseio por espaços onde podem gritar, intimidar e ameaçar as pessoas que não alinham às ideias deles, transformando a participação nessas instâncias em momentos enfadonhos, cansativos, extenuantes e, consequentemente, esvaziados.

 

Sempre no passado

Curiosamente, enquanto George Orwell, nascido em 1903 na Índia, antecipou de forma crítica uma sociedade futurista em sua obra “1984”, escrita em 1949, a direção do ANDES parece regredir ao passado. Orwell, influenciado por suas experiências pessoais e sua militância em uma organização marxista antiestalinista durante a Guerra Civil Espanhola entre 1936 e 1937, retratou em seu livro uma distopia que alertava sobre os perigos de regimes totalitários e a manipulação da verdade. 

Em contraste, a direção do ANDES, ao rejeitar métodos modernos de comunicação e insistir em práticas obsoletas de organização, não apenas ignora os avanços tecnológicos que facilitam a inclusão e a democracia, mas também se afasta dos ideais progressistas que deveriam orientar sua atuação. Ao invés de olhar para o futuro e buscar formas de ampliar a participação e representatividade da categoria docente, opta por um retrocesso que limita a voz da maioria e fortalece a posição de quem quer se manter no poder.

Ao interferir na autonomia das entidades de base, como a APUFPR, a direção do ANDES está, paradoxalmente, personificando a figura do Grande Irmão, o onipresente líder totalitário de “1984”. 

Esta atitude vai além de uma simples questão burocrática de organização interna (não se trata meramente da interpretação do estatuto do ANDES). Ela reflete uma usurpação da autonomia que ressoa com a distopia orwelliana. 

Em “1984”, o Grande Irmão é um símbolo de supressão de qualquer forma de dissidência ou autonomia. Da mesma forma, ao tentar controlar e limitar a autonomia das entidades de base, a direção do ANDES está exercendo um poder que não apenas sufoca a liberdade de ação dessas entidades e de suas bases nas universidades, mas também impõe métodos para anular a diversidade e a pluralidade de opiniões e de abordagens dentro do movimento docente. 

E quando o grupo ligado à direção do ANDES ataca a direção da APUFPR para defender a mesma forma de organização excludente e menos democrática, da presença exclusivamente física nas Assembleias, transforma o próprio Sindicato Nacional em uma figura de autoridade absoluta e inquestionável, muito semelhante ao Grande Irmão da obra de George Orwell.

A comparação com “1984” se torna ainda mais pertinente quando observamos a tentativa do grupo que dirige o ANDES de controlar a narrativa e moldar a realidade a seu favor, com objetivos particulares (com o crescimento das organizações políticas nas quais eles militam). Assim como o governo da obra de Orwell manipula a verdade, o ANDES, ao limitar a participação nas assembleias a um pequeno grupo, busca criar uma ilusão de consenso e apoio a decisões, que não refletem a realidade da maioria dos docentes.

O uso de táticas intimidadoras e truculentas (como impedir a ida de docentes ao Congresso) contra quem se opõe a essa visão estreita e autoritária é um reflexo da distopia orwelliana, onde a discordância é reprimida com mão de ferro. A ironia é palpável quando líderes que se dizem progressistas agem com a mesma intolerância e despotismo que criticam em outros contextos.

Enquanto os extremistas vêm avançando no Brasil e no mundo, conquistando apoio massivo com o uso da tecnologia, a direção do ANDES e seus apoiadores não só viram as costas para o avanço tecnológico, mas também para a inclusão. Essa atitude retrógrada não é apenas um passo atrás para o movimento sindical, mas uma afronta aos princípios de democracia e de representatividade. 

Na tentativa de se agarrar ao passado e silenciar a maioria, a direção do ANDES não apenas contradiz os avanços da era digital, mas também encarna a distopia orwelliana, transformando-se no Grande Irmão de ‘1984’. Em sua busca obstinada por se manter no poder, esquecem que, no fim, a verdadeira força de um sindicato reside na pluralidade de suas vozes e na liberdade de suas bases, não na repressão e na censura que tanto criticam. A liberdade começa onde termina o autoritarismo. 

E o ANDES, ao rejeitar o futuro em favor de um passado autoritário, caminha na contramão da história.

Fonte: Apufpr


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