Milícia MBL volta a atacar a comunidade acadêmica e a UFPR

19 de setembro de 2023
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Não bastam os membros da milícia extremista Movimento Brasil Livre (MBL) terem invadido o espaço físico da UFPR para agredir membros da comunidade acadêmica no começo do mês, com o intuito evidente de causar conflitos para atrair seguidores radicalizados e, futuramente, votos nas próximas eleições, eles voltaram a atacar a universidades em um “programa” nas redes sociais na segunda-feira (19).

Em um vídeo que é difícil de assistir sem tomar algum tipo de medicamento antiemético (para conter náusea), um “analista” parte para o ataque contra as universidades públicas e, com termos de baixo calão (típicos de quem escolhe amealhar seguidores com reduzida capacidade de reflexão), mais uma vez tentar desvalorizar o papel essencial das instituições para o desenvolvimento do país.

Usando como trampolim fatos isolados e uma pretensa análise sobre o pronunciamento do reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, durante um painel em um seminário no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre combate à desinformação, o “apresentador” parte de falsas premissas para levar adiante aquilo que interessa: o discurso fácil, rebaixado e dissimulado do neoliberalismo contra tudo que é público (afinal, eles são financiados justamente para fazer esse discurso).

É óbvio que por se tratar de discursos de militantes extremistas, ninguém deveria levar a sério. O problema é que esse discurso tem repercussão entre pessoas radicalizadas, que acabam acreditando nessas mentiras e reforçam os ataques, inclusive, com agressões físicas.

 

É nojo que fala?

Apesar de asqueroso, o conteúdo do vídeo revela que as táticas discursivas dos extremistas são semelhantes: pegam fatos isolados, picotam conteúdos para fazer análises fora do contexto e extrapolam a realidade de situações para que as pessoas acreditem que a alternativa seria acabar com os serviços públicos. Alguns exemplos:

– Tentaram superdimensionar um pequeno incêndio ocorrido na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) há uma semana, para fazer seus seguidores acreditarem que o prédio inteiro foi destruído e que isso acontece o tempo todo em outras instituições por falta de cuidado e porque são geridas por pessoas “de esquerda” (na lógica deles, nunca houve incêndio em prédios de instituições dirigidas por pessoas de direita).

– Usam o discurso de que supostamente teriam o direito de invadir qualquer espaço público, já que “pagam impostos”, como se não houvesse regras em relação ao uso do patrimônio público. É um argumento extremamente infantil, afinal, seria interessante eles relatarem se conseguem entrar em outros órgãos públicos sem qualquer controle (curioso pensar qual seria o resultado se eles fizessem o mesmo em um quartel do Exército, em uma delegacia de polícia ou mesmo em uma agência do INSS).

– Usam reiteradamente o termo “Cracolândia” para tentar fazer as pessoas acreditarem que existiria algum tipo de consumo generalizado de drogas ilegais em todas as instituições. Importante lembrar que essas mesmas mentiras já levaram o ex-ministro bolsonarista Abraham Weintraub a ser condenado por danos morais coletivos (denunciado também pela diretoria da APUFPR ao Ministério Público Federal).

– Insistem na mentira de que não há qualidade nas universidades públicas, fato derrubado por inúmeros estudos que comprovam que a imensa maioria da produção científica brasileira (mais de 90%) vem das universidades públicas, e que essas instituições lideram todos os rankings de qualidade no Brasil e na América Latina, sendo que, das 50 instituições de ensino superior brasileiras mais bem avaliadas nessas aferições, uma média de 80% a 90% são públicas.

 

Hipócritas na essência

A milícia MBL foi criada no Brasil (ou trazida para cá) para reforçar a pauta neoliberal e a ideia das privatizações, com financiamento de empresários estrangeiros, principalmente do ramo do petróleo, que desejavam derrubar o governo Dilma para tentar se apossar das empresas estatais no país e, principalmente, de nossos recursos naturais.

Como essa não é uma pauta aceitável para a maioria da população brasileira (segundo pesquisas Datafolha e de outros institutos), eles identificaram que seria muito mais vantajoso enganar as pessoas com discursos demagogos e infantilizados.

Curiosamente, eles não agem como tradicionais liberais, já que se colocam como defensores de um tipo tacanho de moralidade superficial que tem mais apelo em seus seguidores do que as pautas neoliberais. Na prática, não passam de oportunistas que adaptam os discursos e a bússola de sua moralidade frágil conforme a conjuntura.

Por isso mesmo, é comum revelarem-se hipócritas. Inclusive, porque alguns de seus membros mais proeminentes já perderam o mandato, após serem flagrados cometendo crimes:

– O extremista conhecido como “Mamãe Falei” foi um dos primeiros a fazer fama gravando vídeos contra estudantes secundaristas e universitários. Foi eleito deputado estadual em São Paulo, mas teve o mandato cassado depois da divulgação de áudios em que se vangloriava de se aproveitar sexualmente da situação de fragilidade das mulheres na Ucrânia diante da guerra daquele país contra a Rússia. Segundo ele, eram “fáceis porque são pobres”. Seu nome ficou associado ao termo “turismo sexual em guerra”.

– O ex-policial militar Gabriel Monteiro fez fama gravando vários vídeos atacando as universidades públicas do Rio de Janeiro, repetindo os mesmos discursos moralistas dos tais “analistas” deste último vídeo. Está preso e teve o mandato de vereador cassado por estupro e por ser pedófilo (ter tido relações sexuais com menores de idade – inclusive, forçadas), além do abuso de poder ao publicar vídeos em que ele aparecia fazendo atos “heroicos”, mas que, depois, foi revelado que ele mesmo pagava para que pessoas cometessem os crimes que ele fingia combater.

Em outras situações, militantes do MBL demonstraram sua verdadeira “moralidade”:

– Kim Kataguiri, um dos maiores líderes do movimento, defendeu, em um podcast, a existência de um partido nazista no Brasil, e que é um erro a Alemanha criminalizar o nazismo.

– Um dos militantes extremistas que atacou a comunidade da UFPR já foi candidato a deputado estadual no ano passado, mas não foi eleito. Em maio deste ano, foi obrigado pela Justiça a retirar um vídeo de suas redes sociais em que ridicularizava uma pessoa autista. Em julho, fez na UFSC o mesmo que tentou fazer na UFPR: agrediu a comunidade universitária e depois postou imagens dizendo que foi ele o agredido.

Matéria do The Intercept revelou que os principais líderes do MBL, em 2019, cogitaram “comprar” um partido já em criação (o que é ilegal), por cerca de R$ 500 mil, uma vez que não conseguiriam as assinaturas necessárias para fundar sua própria agremiação política. Na prática, desejavam comprar as assinaturas já coletadas.

 

Enfrentar o extremismo

As universidades públicas e suas comunidades têm o dever de combater discursos de ódio, desinformação e extremismos que prejudicam o ambiente acadêmico e a sociedade como um todo.

É preciso compreender que existe uma diferença entre permitir uma variedade de perspectivas e tolerar discursos ou comportamentos extremistas que possam ameaçar a segurança ou o bem-estar das pessoas. A direção da APUFPR está à frente dessa luta e tomará medidas para defender coletivamente a nossa categoria, a cada ataque de militantes, políticos ou organizações extremistas.

As universidades públicas são espaços essenciais para o desenvolvimento econômico e social do país, ao mesmo tempo em fomentam ambientes de debate saudável, respeitando a diversidade de opiniões e estimulando seus membros a pensar criticamente sobre as questões do mundo.

 


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