A capital federal foi tomada, nesta quarta-feira (14), por camisetas lilás e por chapéus de palha decorados com flores. A sexta edição da Marcha das Margaridas, tradicional manifestação das trabalhadoras do campo, levou 100 mil mulheres à Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Trata-se da maior ação conjunta de mulheres trabalhadoras da América Latina.
Em 2019, a marcha abordou a importância da agroecologia e o necessário enfrentamento à violência contra a mulher no campo. A programação teve início na terça-feira (13), em uma sessão solene na Câmara dos Deputados que deu visibilidade às pautas das camponesas.
A primeira edição da marcha foi realizada em 2000, no dia 12 de agosto, para marcar os 17 anos da morte da trabalhadora rural e líder sindicalista Margarida Maria Alves, assassinada em 1983 por lutar pelos direitos dos camponeses da Paraíba.
Margarida, cuja voz ecoa na manifestação, é uma das vítimas de um dos países que mais matam ativistas ambientais e defensores dos direitos humanos no mundo.
Desde a primeira edição da marcha, as trabalhadoras rurais se reúnem em Brasília de quatro em quatro anos para exigir atenção às suas pautas e lutar por direitos. Em torno da Marcha das Margaridas, há espaço para todas que atuam no campo, das agricultoras familiares às pescadoras, passando pelas quilombolas, indígenas e ribeirinhas.
Do medo à luta
A edição de 2019 é emblemática. Sair às ruas em um cenário de recrudescimento de discursos e atitudes autoritárias não é tarefa fácil.
A luta das milhares de Margaridas pela natureza, por respeito e por direitos desafia interesses de setores econômicos poderosos. A defesa da agroecologia é um enfrentamento à liberação desenfreada de agrotóxicos (já são quase 300 só neste ano). A luta pela natureza e pelos direitos dos indígenas se opõe à busca desenfreada pelo lucro das mineradoras, interessadas em explorar regiões de proteção ambiental.
Somada a essas importantes bandeiras está a luta contra a invisibilidade da violência contra a mulher nos interiores do país, ainda muito subnotificada. Desassistidas, as mulheres violentadas no campo sofrem com a ausência de serviços públicos de acolhimento. Os casos mais graves, infelizmente, resultam em feminicídios.
Diante desse cenário, a edição de 2019 da Marcha das Margaridas quebrará uma tradição: pela primeira vez, as manifestantes não vão entregar suas pautas ao Poder Público. De acordo com as organizadoras, a postura intransigente e autoritária do Governo Federal faz, da marcha, um instrumento de pressão, e não de negociação.
Fonte: APUFPR