Um milhão nas ruas para defender as universidades públicas na Argentina. Por que no Brasil é diferente?
Foto: Conadu Histórica

30 de abril de 2024
Marcha de cima Foto Conadu Histórica (1)
Foto: Conadu Histórica

Argentina em abril, em uma demonstração massiva em defesa das universidades públicas. A Marcha Universitária Nacional marcou a maior manifestação contra o governo extremista de Javier Milei desde sua posse, em dezembro do ano passado. 

As manifestações ocorreram em um momento em que as universidades públicas argentinas enfrentam severos cortes orçamentários e políticas de ajuste fiscal que ameaçam sua autonomia e qualidade.

O que está acontecendo na Argentina, neste momento, é algo praticamente inédito. Diferentemente dos ataques que as elites brasileiras, seus políticos e apoiadores (incluindo a imprensa tradicional) sempre fizeram contra as universidades públicas brasileiras, com o objetivo de fomentar a privatização dessas instituições, na Argentina, os ataques nunca foram comuns, especialmente após o fim da ditadura (que durou de 1976 a 1983).

 

Por que é diferente lá?

Na Argentina, existe uma compreensão maior quanto ao papel central e histórico das universidades públicas na sociedade e há, inclusive, uma forte tradição de protestos em defesa da educação pública. 

O país possui uma população de 46 milhões de pessoas, sendo que 2 milhões estudam em cerca de 70 universidades públicas (equivalente a 86% do total). Não há vestibular nem restrição de vagas. Já o Brasil, tem aproximadamente a mesma quantidade de estudantes em instituições de ensino superior públicas (nas diferentes esferas), mas nossa população é 4 vezes maior. Ou seja, proporcionalmente, há 4 vezes mais estudantes em universidades públicas lá do que aqui.

Na Argentina, as universidades públicas são vistas não apenas como centros de ensino, mas também como espaços críticos de resistência política e social. Isso reflete um profundo valor cultural atribuído à educação pública e sua função na promoção de uma sociedade mais justa e igualitária. 

Já no Brasil, a percepção é bem diferente. As elites daqui têm uma relação mais ambígua com a educação pública: embora abandonem o ensino básico e o fundamental, reconhecem a qualidade das universidades públicas (estaduais e federais). Ao mesmo tempo, essas mesmas elites (e agora, os setores extremistas, que passaram a ditar os rumos das disputas políticas no Brasil) atacam sistematicamente as instituições públicas de ensino superior.

Isso acontece por questões ideológicas. As elites brasileiras são consideradas uma das mais mesquinhas e egoístas do planeta. Tanto é que o Brasil é um dos países com maior concentração de renda do mundo: 14ª posição, segundo análise dos coeficientes de Gini pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) em 2023. E essas mesmas elites sabem que das universidades públicas vem a maior resistência contra as políticas de perpetuação da desigualdade, e que essas instituições fomentam debates que atingem os interesses das classes dominantes.

Além disso, nas universidades públicas, o estímulo ao pensamento crítico é um princípio, o que ameaça os setores que desejam que tudo sempre permaneça como está (isto é, sempre favorável a eles).

Recuperar a opinião pública

Os ataques constantes às universidades públicas brasileiras distorcem a percepção de grande parte da população sobre o papel que essas instituições desempenham no desenvolvimento do país. 

Ao mesmo tempo, a maioria das universidades públicas falha no diálogo com a população e tem muitas dificuldades para mostrar seu valor à sociedade. 

É preciso reverter esse problema histórico, inclusive para que as lutas da comunidade acadêmica, especialmente em momentos de greve, sejam acolhidas e apoiadas pela população.

Fonte: Apufpr


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