Tribunal italiano condena oito ex-agentes de ditaduras sul-americanas à prisão perpétua

Após mais de cinco horas fechados na Câmara de Conselho, a corte do Tribunal de Roma, presidida pela juíza Evelina Canale, decidiu nessa terça-feira (17) condenar oito ex-presidentes e militares sul-americanos à prisão perpétua por assassinatos de cidadãos de origem italiana cometidos entre 1973 e 1980, período de atuação da Operação Condor.
Ao mesmo tempo, absolveu os outros 19 acusados, entre eles o uruguaio José Nestor Troccoli, militar responsável pelos interrogatórios da Fusna (Serviço de Inteligência da Marinha do Uruguai) e que, por ter fugido para a Itália, poderia ser realmente preso caso a sentença fosse diferente. A corte tem 90 dias para depositar a motivação da sentença.
Assim como o procurador, familiares de vítimas de Troccoli, incrédulos, contestaram o veredito. “O que aconteceu aqui foi algo incrível. A corte condenou a cúpula dos países envolvidos na operação Condor, reconhecendo a sua existência e modo de operação; condenou quem comandou, mas não quem praticou os crimes. É como se o tribunal de Nuremberg condenasse somente Adolf Hitler pelos crimes cometidos na Alemanha nazista, deixando de fora os oficiais da SS”, declarou Andrea Speranzoni, um dos advogados das vítimas. “As provas existem, estavam lá [no processo]”, afirmou.
Speranzoni citou alguns pontos que ele acredita que podem ter prejudicado o processo: “passaram muitos anos desde que os crimes ocorreram, a justiça de transição na América Latina é problemática, são feitos esforços enormes para apresentar provas que quem tem o poder, não quer que sejam apresentadas.” Para o advogado italiano, essa é a justiça possível que o atual momento histórico permitiu.
Tido como um dos processos históricos contra generais sul-americanos, o julgamento, que aconteceu na manhã dessa terça-feira, contou com a presença de políticos italianos, como Maria Elena Boschi, vice-secretária do Conselho de Ministros, além de embaixadores, diplomatas, representantes de partidos políticos e organizações não governamentais.
Condenações
Foram condenados à prisão perpétua Luis García Meza Tejada, ex-presidente da Bolívia (1980 e 1981); Luis Arce Gómez, um de seus generais; Francisco Morales Bermúdez Cerruti, ex-presidente peruano (1975 a 1980) ; Germán Ruiz Figueroa, ex-chefe dos serviços secretos do Peru; Pedro Richter Prada, ex-militar e político peruano; Juan Carlos Blanco, ex-chanceler do Uruguai; e os coronéis chilenos Rafael Ahumada Valderrama e Hernán Jeronimo Ramírez.
O procurador Carlos Capaldo investigou por mais de 15 anos os crimes cometidos contra cidadãos de origem italiana durante a época de atuação da Operação Condor, uma rede de repressão política e troca de prisioneiros formada pelos serviços de inteligência das ditaduras do Cone Sul (Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai). Ao todo foram investigados 146 ex-militares: 61 argentinos, 32 uruguaios, 22 chilenos, 7 bolivianos, 7 paraguaios e 4 peruanos, além de 13 brasileiros — entre os quais estão os dois últimos presidentes do período militar, Ernesto Geisel (1974-1979) e João Baptista Figueiredo (1980-1985). Por vários motivos – mortes e falta de colaboração de alguns países, sobretudo – somente 33 foram processados. Em 27 de fevereiro, acontecerá a segunda audiência do processo Condor especificamente contra ex-agentes da ditadura brasileira.

* Edição de ANDES-SN com imagem de Ecos Latinoamerica

Fonte: OperaMundi

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