Tentativa de desmonte da Unila é denunciada em audiência no Senado

16 de agosto de 2017

A ameaça de extinção da universidade foi tema de audiência que debateu a crise nas Instituições Federais de Ensino. O ataque à Unilab e demais IFE também pautado

Em audiência pública realizada pela Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Senado Federal na manhã dessa terça-feira (15), a comunidade acadêmica da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) denunciou a tentativa de extinção da instituição. Os docentes da Unila estão em greve, por uma semana, para aumentar a mobilização em defesa do caráter internacional e público da instituição. 

A audiência pública tratou, além da tentativa de extinção da Unila, de situação semelhante na Universidade Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), e também da crise financeira das Instituições Federais de Ensino (IFE) e do crescente assédio a servidores das IFE, em especial de Institutos Federais. Confira o vídeo com a íntegra da audIência pública.
A Unila está ameaçada de extinção após a inclusão de Emenda do deputado Sergio Souza (PMDB/PR) na Medida Provisória 785/2017, que modifica regras do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). A comunidade acadêmica denunciou que o deputado quer acabar com a instituição, de caráter singular por ser bilíngue e prezar pela integração latino-americana, em especial de Brasil, Paraguai e Argentina, para transformá-la em Universidade Federal do Oeste do Paraná, com foco na formação de mão-de-obra para o agronegócio. O projeto de Sergio também prevê a fusão dos campi Toledo e Palotina da Universidade Federal do Paraná (UFPR) à instituição.
Andréia Moassab, secretária-geral da Seção Sindical dos Docentes da Unila (Sesunila – Seção Sindical do ANDES-SN), representou os docentes da instituição na audiência. Eblin Farage, presidente do Sindicato Nacional, também fez uso da palavra para denunciar a situação de ataques à educação pública. Em ambas manifestações foi ressaltado que a tentativa de extinção da Unila e os duros ataques à instituição fazem parte de um amplo projeto político de precarização e privatização da educação e dos demais serviços públicos.
Para a secretária-geral da Sesunila-SSind, a Unila está sendo usada como “ponta-de-lança” no processo de ataques à universidade pública justamente pelo seu caráter singular, de buscar a integração latino-americana, o que assusta as elites brasileiras. “É uma escolha política onde investir dinheiro público. E a opção política é cortar da educação, e Unila e Unilab são “ponta-de-lança” desse corte. É importante refletir de por que essas duas universidades? O que elas significam para o processo de integração? Para a entrada de negros e ameríndios para a universidade, e para o interior do Paraná e do Ceará? Essas universidades expõem feridas da sociedade brasileira por meio de seus projetos, e isso incomoda a elite do país”, afirmou a docente.
“A vinda para Brasília, isoladamente, não resolve. A gente acha que são necessárias diversas frentes de luta pela manutenção dos direitos, mas é um espaço que precisa ser ocupado. A presença na capital é importante, mas a gente se sustenta na luta local. Foi uma vinda bem sucedida. Foi importante dar o recado e conseguir sensibilizar alguns parlamentares”, avaliou Andréia.
Eblin Farage, presidente do ANDES-SN, avaliou positivamente a denúncia realizada na audiência. “A audiência foi importante porque dá visibilidade a um projeto, que se intensificou no último período, que é de ataque às universidades públicas. Com o corte de verbas, o que já era insuficiente vem diminuindo. E o ataque tem a ver com autonomia. Na Unila e na Unilab, existe uma afronta à autonomia universitária, porque não houve sequer consulta pública para eleição de reitores”, comenta a docente.
Para Eblin, o enfrentamento que Unila e Unilab estão fazendo dá visibilidade também à ameaça ao caráter internacional dessas instituições, que representam solidariedade e cooperação com países lusófonos e da América Latina. “O mercado quer justamente o contrário, impõe uma lógica de mercantilização da educação. Nessa perspectiva, a solidariedade e cooperação entre países não cabe”, completa.
“Dar visibilidade ao racismo, à xenofobia e à misoginia que há por trás dos ataques a essas universidades é muito importante para o ANDES-SN. São universidades únicas no Brasil e, de fato, vão precisar de uma estruturação maior. É necessário que elas tenham recursos e também autonomia universitária para desenvolver seus projetos pedagógicos”, conclui Eblin Farage.

Mobilização

Na tarde dessa terça (15), representantes dos docentes, técnico-administrativos e estudantes da Unila buscaram dialogar com os parlamentares com o objetivo de denunciar o desmonte da universidade e pressionar para que os deputados e senadores se posicionem contrários à emenda. Na quinta-feira (17), também está agendada uma Audiência Pública da Assembleia Legislativa do Paraná, que será realizada na Câmara Municipal de Foz do Iguaçu.

Imagem: Agência Senado

Fonte: ANDES-SN


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