
O governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas (Republicanos), que até pouco tempo estava sendo tratado como favorito da velha imprensa para alçar voos mais longos numa pretensa candidatura à Presidência da República em 2026 (por ser considerado um “Bolsonaro um pouquinho mais educado”), começa a mostrar sua verdadeira face.
Ele determinou que diretores das escolas estaduais paulistas devem, já a partir deste semestre, assistir ao menos duas aulas por semana e produzir um relatório sobre o que observarem em sala.
Não por acaso, isso lembra os momentos mais obscuros da ditadura militar, quando professores eram vigiados, denunciados e perseguidos pelo teor de suas ideias expostas em sala de aula.
Segundo a portaria, publicada no Diário Oficial na última sexta-feira (28), os diretores terão que produzir um relatório com o que observarem das “práticas pedagógicas” dos professores e encaminhar para a diretoria de ensino da região, algo completamente subjetivo e que estará invariavelmente contaminado pela visão política e ideológica dos gestores.
A portaria não explica o que as diretorias de ensino farão com os relatórios, Mas há um grande risco de que as observações dos diretores possam validar a intenção de punir professores que não se alinham ao pensamento de extrema-direita do governador.
A medida é tão absurda que fará com que alguns diretores, de escolas maiores, gastem mais de 80% de seu tempo assistindo aulas. Isso em um cenário em que as gestões escolares já estão sobrecarregadas, especialmente pela falta de profissionais.
Dois coelhos
Não é de hoje que extremistas atacam a educação e perseguem professores que estimulam o pensamento crítico dos alunos. Ao criar o clima de vigilância nas escolas, o governo estadual tentará coibir o diálogo e as reflexões sobre o cotidiano dos alunos.
É uma medida que agrada os radicais, cujas ideologias se espalham em ambientes onde há deficit de reflexão e de pensamento crítico, e também cai como uma luva para os representantes das elites, que desejam que tudo permaneça como está porque uma sociedade desigual é sempre favorável a eles.
Não por acaso, o secretário de Educação de São Paulo, Renato Feder, ocupou o mesmo cargo no governo paranaense de Retinho Jr e implementou ideias típicas do empresariado voraz, mas incompatíveis com o espaço escolar e acadêmico. Ao mesmo tempo, foi sua gestão que criou o projeto de implementação de 200 escolas cívico-militares no estado, mostrando que a visão empresarial e as ideias extremistas no Brasil se combinam de forma oportunista com muita frequência.
Fonte: Apufpr