Sufocada pelo negacionismo oportunista, ciência tem o menor orçamento deste século

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Sufocada pelo negacionismo oportunista, ciência tem o menor orçamento deste século

As recentes denúncias de esquemas de corrupção no Ministério da Saúde trouxeram, de certa forma, uma revelação: o negacionismo do governo de Jair Bolsonaro durante a pandemia de Covid-19 é do tipo mezzo-mezzo: metade é ideológico e metade era uma forma de atrasar a pandemia enquanto gestavam esquemas para compras superfaturadas de vacinas contra a Covid-19 e outros produtos.

Da mesma forma, a obsessão de Jair Bolsonaro e seus apoiadores contra a ciência só existe porque o saber científico, o conhecimento e o pensamento crítico demolem as estruturas de um governo que só consegue sobreviver na base de um esquema gigantesco de distribuição de fake news e discursos de ódio para abastecer sua guerra cultural contra fantasmas e inimigos inexistentes.

 

A metade ideológica é mezzo oportunista ou inteira?

O negacionismo das lideranças extremistas é, via de regra, apenas uma arma política, porque nem a metade “ideológica” do negacionismo é tão autêntica assim, já que suas teorias e afirmações são tão absurdas ou patéticas que grande parte dos membros do governo e dos políticos de seu entorno certamente não acreditam nas mentiras que eles mesmos inventam.

Na imensa maioria dos casos, são apenas oportunistas, porque lucram politicamente (espalhando mentiras e discursos de ódio para ganhar votos e seguidores, e depois tentar manter sua base de apoio constantemente paranoica e radicalizada) ou financeiramente (afinal, é difícil acreditar que eles sirvam de graça como garotos-propaganda ou façam merchandising de medicamentos comprovadamente ineficazes contra a Covid-19, por exemplo, sem ganhar nada em troca).

Ou, mais provavelmente, ambos.

Mas isso não teve efeito somente na forma propositadamente desastrosa com a qual o governo Bolsonaro lida com a pandemia do novo Coronavírus (cujas decisões foram responsáveis pela imensa maioria das mais de 560 mil mortes por Covid-19 no Brasil). As pesquisas científicas atingiram seu menor patamar de investimento no país desde o início do século 21.

O órgão responsável por coordenar e apoiar as pesquisas no Brasil é o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), subordinado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MTI, comandado por um ex-astrounauta e ex-garoto-propaganda de uma marca de travesseiros). As verbas do órgão têm caído desde que Michel Temer assumiu o poder, em 2016, e os cortes após a eleição de Bolsonaro são ainda mais bruscos.

 

Um terço do que era investido em 2013

O Governo Federal estabeleceu um valor de R$ 1,21 bilhão para o CNPq, no orçamento de 2021. O montante é praticamente a metade do que era gasto com o órgão em 2000. Em comparação, o maior orçamento destinado à pesquisa nesse período foi feito em 2013, R$ 3,14 bilhões.

O número de pesquisadores apoiados pelo CNPq também teve uma queda alarmante. Em relação a 2011, as bolsas de mestrado tiveram uma redução de 32% (de 17.328 para 11.824) em 2020, e as de doutorado caíram 20% (de 13.386 para 10.738).

O valor das bolsas de mestrado e doutorado não sofre reajuste desde 2013: de acordo com cálculos da Associação Nacional dos Pós-Graduandos (ANPG), as bolsas tiveram uma desvalorização real de 170% e 306%, respectivamente.

Nesse cenário, não é de se surpreender que as plataformas digitais do CNPq tenham sofrido um “apagão” no final de julho, e que a situação ainda esteja sem solução. No mesmo dia que dados sobre pesquisas, bolsas e currículos saíam do ar, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovações recebia uma deputada neonazista em seu gabinete, demonstrando as prioridades do governo Bolsonaro.

 

Ciência como alvo

Os cortes de verba não se restringem ao CNPq, atingindo o MTI como um todo. Se em 2015, ainda com Dilma Rousseff como presidente, o orçamento do ministério era de R$ 6,5 bilhões, em 2021 caiu para R$ 2,7 bilhões, menos da metade.

Já o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que recebia R$ 3 bilhões em 2015, atualmente tem orçamento de 510 milhões. O que já seria absurdo torna-se ainda mais cruel se levamos em consideração que vivemos uma pandemia: o FNDCT é responsável por financiar pesquisas de novas vacinas, por exemplo.

Isso sem falar no descaso com o patrimônio cultural do Brasil, como ficou evidenciado nos incêndios do Museu Nacional e da Cinemateca Brasileira, e com a educação e a arte em geral.

Seja por motivos falsamente ideológicos ou pelo oportunismo para montar esquemas de corrupção, o negacionismo do governo de Jair Bolsonaro trará graves consequências para o futuro do país.

 

Fonte: APUFPR


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