Segunda Nota da APUFPR sobre a retomada das atividades por via remota em caráter excepcional, durante a instituição do período especial

19 de junho de 2020
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A APUFPR acompanha com atenção os desdobramentos relacionados à pandemia do coronavírus (Covid-19) e suas consequências junto à comunidade universitária. Desde a interrupção das atividades didáticas em 16 de março deste ano (Resolução 26/2020 do CEPE), a APUFPR tem participado de discussões sobre uma possível implantação de atividades remotas ou de ensino à distância pela Administração da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Estamos cientes de que o amplo debate com todas as esferas da comunidade universitária – a fim de levantar seus eventuais benefícios, limitações e dificuldades operacionais e humanas que permearão essa modalidade de ensino – tem sido benéfico para o universo docente.

Após levantamento prévio realizado pelas coordenações de curso e pelos departamentos da instituição, a Pró-reitoria de Graduação (PROGRAD) apresentou à comunidade uma minuta de resolução visando a discussão de tais atividades, consideradas no documento como “período especial” para os cursos de graduação. Apresentamos as seguintes considerações:

  • O calendário acadêmico segue suspenso, havendo, porém, a recomendação do MEC (Portaria 544) de que as atividades sejam retomadas atendendo o período de pandemia e algumas situações especiais.

Segundo Nota Técnica do Andes, recém-lançada, o MEC “interpreta que o estabeleceu prazo exíguo para manifestação da adesão e não apresentou nenhuma indicação de solução para os problemas que serão enfrentados pelas instituições, o que certamente gerará situações desiguais e anti-isonômicas […]. O importante é identificar que todas as medidas em questão são excepcionais e, em razão disso, possuem aplicabilidade limitada ao período em que perdurar a pandemia, ao menos no estágio atual de necessário isolamento das pessoas, como forma prioritária de contenção do contágio.”

2) Mesmo que se reconheça o esforço da PROEC em tentar solucionar eventuais problemas de acesso remoto para os estudantes, uma parte do conjunto de discentes poderá continuar impossibilitada de acompanhar as atividades (por falta de equipamento adequado, conexão com a internet, recursos didáticos ou de ambiente propício). A APUFPR ainda manifesta preocupação sobre a necessidade de conduzir as disciplinas com a anuência de apenas uma parcela da turma durante o período especial. Esta situação teria como consequência, após o retorno às atividades presenciais e a retomada normal do calendário, a necessidade do docente conduzir, em paralelo, grupos de alunos com diferentes níveis de conhecimento, ou seja, aqueles que teriam aderido às atividades remotas e aqueles estiveram impossibilitados de tal adesão.

3) Continuamos, como docentes, não dominando de forma adequada as ferramentas necessárias para levar a um bom termo as atividades à distância. Embora as tecnologias educacionais à distância estejam, em parte, disponíveis e sejam inclusive utilizadas pela própria universidade, não há treinamento adequado da maioria dos professores em relação às atividades remotas e desconhece os distintos métodos didáticos disponíveis nessa modalidade.

Percebe-se que muitos docentes não possuem uma clara definição do que está se discutindo: conceito de ensino a distância; atividades remotas; questões de avaliação e, fundamentalmente, questões ligadas ao ambiente de FORMAÇÃO profissional e não meramente de INFORMAÇÃO. Essas definições, metodologias e suas nuances são mecanismos pedagógicos importantes, mas que como qualquer outro exigem conhecimento, preparo, domínio e tempo de preparação.

4) Na impossibilidade de realizar atividades de caráter prático, laboratorial ou de campo, que são interdependentes com o conteúdo teórico, o aprendizado torna-se bastante limitado e, consequentemente, deficiente ao pleno preparo profissional dos estudantes. Esse aspecto está em dissonância com o elevado nível de qualidade prezado pelo ensino superior presencial oferecido pela UFPR e defendido pelos seus docentes. Entendemos que a qualidade de ensino não pode ser afetada, mesmo em situações excepcionais como a que estamos vivenciando.

5) Caso se decida pelas atividades remotas, é possível que, em função do caráter de suas disciplinas (teórico, prático, laboratorial ou de campo) algumas unidades (Departamentos) e seus docentes venham a ser mais exigidos em função do acúmulo de atividades após o período especial.

6) Continuamos lembrando que boa parte trabalho cotidiano do docente, neste momento difícil, está sendo realizado no formato home-office. Orientações online de pós-graduandos, correção de textos de orientandos, continuidade dos projetos de pesquisa, oferecimentos de disciplinas teóricas de pós-graduação, atualização ou preparação de materiais didáticos e aulas, leitura e estudo de nova bibliografia, planejamentos didáticos e até cursos remotos de atualização estão sendo realizados pelos professores, pois nada mais são do que suas atividades cotidianas realizadas em seus próprios gabinetes transpostas para seu trabalho no formato home-office. Ou seja, grande parte do trabalho do docente está em realização plena, incluindo reuniões colegiados de curso (graduação e pós-graduação), plenárias de departamento ou setoriais e outras de comissões.

Continuamos com a posição de que o debate sobre a retomada das atividades é necessário, merecendo um exame bastante cuidadoso por parte de toda a comunidade universitária. Para tanto a APUFPR já solicitou que o GTPE (Grupo de Trabalho de Políticas Educacionais), que é formado por uma maioria de professores que atuam academicamente nessa área, busque uma reflexão aprofundada sobre a questão.

Sabemos da premência de prazos e exigências impostas pelo MEC, mas decisões açodadas não ajudarão a construir um ambiente que possam proporcionar educação de qualidade, com igualdade de condições de aprendizagem, com planejamento e tempo de maturação, investindo nos recursos materiais e formação e capacitação dos recursos humanos. Esse processo não pode ser realizado com atropelo, como se percebe que seja a intenção do MEC por meio da Portaria 544.

Muito de nossos colegas entendem que a utilização de forma remota de meios e tecnologias de informação e comunicação é importante e extremamente útil no processo ensino-aprendizado. Outros, contudo, argumentam que tais recursos não poderão ser aplicados de forma apressada, mesmo em caráter excepcional, com o risco de comprometimento de um ensino de qualidade que sempre foi objetivo da categoria docente de nossa instituição. Nós entendemos que a boa solução do problema exclui dois limites: a proibição de que qualquer professor ofereça conteúdos remotos em uma disciplina qualquer; a exigência de que todos os professores façam isso. Excluídos esses dois absurdos, o bom senso será encontrado no meio termo. Cabe aos professores e seus colegiados de curso respectivos decidirem estratégias para o oferecimento de disciplinas remotas. Isso, com certeza, não substitui nem supre o funcionamento regular do curso – que, é claro, não pôde acontecer por força da pandemia. Seria importante que esse semestre fosse pensado como uma exceção.

Além disso, reiteramos que a APUFPR julga que cursos remotos comprometem a qualidade da formação de nossos alunos, uma vez que essa formação pressupõe contato interpessoal e interação social presente apenas em uma forma de vida que, no limite, caracterizou o modo de ser e a prática das universidades pelo menos no último milênio.

Diante do exposto, a APUFPR entende e recomenda que a modalidade de ensino remoto na graduação seja discutida amplamente com a comunidade por seus meios orgânicos, como Coordenações de Cursos e Departamentos, bem como sua representação política e sindical. Consideramos que a UFPR deve aprofundar ainda mais as discussões sobre isto, que é o principal assunto didático-pedagógico a ser enfrentado diante desse período excepcional que estamos vivendo hoje.

 

 

Diretoria da APUFPR


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