Resultado: o “bolsonarismo de esquerda” dominou o ANDES nas eleições

15 de maio de 2023
resultado-eleicoes-andes-bolsonarismo-de-esquerda

resultado-eleicao-andes-2023-bolsonarismo-de-esquerdaPara vencer as eleições de 2018 e manter um gigantesco séquito de apoiadores durante os quatro anos de seu nefasto governo (e até hoje), Jair Bolsonaro e seus apoiadores de extrema-direita espalharam medo, em larga escala, contra uma inexistente “ameaça comunista”.

Agora, troque a palavra “comunista” por “governista” e repita insistentemente nas universidades a mesma estratégia de espalhar medo contra adversários. Foi exatamente isso que a Chapa 1 – ANDES Pela Base fez para conquistar voto dos docentes na eleição para a diretoria do Sindicato Nacional, ocorrida nos dias 10 e 11 de maio.

Com dificuldades para convencer seus eleitores de que faria agora o que não fez nos últimos 20 anos, a chapa formada por grupos que comandam o ANDES há tanto tempo espalhou o medo de algo imaginário. Em vez do fantasma do “comunismo”, usaram o espectro de um pretenso “governismo”.

Eles aprenderam com o bolsonarismo que o medo é um sentimento muito mais motivador do que a racionalidade (mesmo no ambiente acadêmico). E foi esse medo que a Chapa 1 espalhou insistentemente para vencer as eleições do ANDES.

 

Derrotados 2 vezes na UFPR (#AquiNão!)

Em abril deste ano, na eleição local para a diretoria da APUFPR, os grupos dominantes do ANDES compunham a chapa de oposição e usaram absolutamente o mesmo mantra da “autonomia frente a reitorias, partidos e governos” que a Chapa 1 – ANDES Pela Base usou na disputa do Sindicato Nacional.

Não colou. Foram derrotados pela terceira vez seguida na eleição do nosso sindicato local porque nossa categoria, por aqui, não cai facilmente nesse tipo de discurso demagógico, fantasioso e oportunista (afinal, enfrentamos desde o começo o germe da nefasta “República de Curitiba” e também impedimos o golpe bolsonarista na eleição da reitoria em 2020).

Só que em 3 de maio, durante o debate realizado pela nossa seção sindical entre as três chapas que disputavam o ANDES, o candidato a presidente do Sindicato Nacional pela Chapa 1 atacou grosseiramente nossa diretoria e, de forma sectária, pediu votos exclusivamente para os eleitores da nossa oposição.

Resultado: a chapa dele teve só 81 votos (vencendo em apenas 3 urnas das 21 urnas e empatando em 2). Já a Chapa 3 Renova ANDES recebeu 241 votos dos docentes da UFPR (vencendo em 13 e empatando em 2 urnas). A Chapa 2, que teve 128 votos, venceu em 6 urnas e empatou em 2.

 

Autonomia, “pero no mucho”

Em vez do mantra “pátria, família e religião” adotado hipocritamente pela extrema-direita no Brasil, os grupos dominantes do ANDES adotaram o mantra “autonomia frente a reitorias, partidos e governos”, para estimular o pânico, enganar os docentes e conseguir votos. Mas como diria Marx, “a prática é o critério da verdade”. E a prática deles no processo eleitoral foi bastante reveladora…

 

Frente a reitorias? #SQN

Curiosamente, aqui na UFPR a chapa de oposição à diretoria da APUFPR, derrotada no final de abril, foi montada com uma aliança entre grupos políticos que já estiveram à frente da nossa seção sindical por vinte anos e um grupo que foi derrotado em eleição para a Reitoria em 2016 e queria usar nosso sindicato desta vez como trampolim para a eleição da Reitoria em 2024.

Para esconder essa manobra, tentam criar no imaginário acadêmico a ideia de que todas as reitorias são braços de governos (ou “patrões) com quem não seria possível dialogar, esquecendo-se que as gestões são eleitas pelas próprias comunidades universitárias (exceto nas instituições onde Bolsonaro impôs reitores-interventores – algo que o ANDES pouco fez para combater nos últimos 4 anos de governo).

 

Frente a partidos? #SQN

A demonização da política sempre foi uma tática usada pela direita para despolitizar as pessoas. A extrema-direita elevou isso a níveis catastróficos ao se apresentar como única solução para todos os males, como se fossem “paladinos da justiça e do bem”. Já os “bolsonaristas de esquerda” que dominaram o ANDES repetem essa mesma tática de esconder suas filiações político-partidárias.

É como se membros da Chapa 1 do ANDES não fossem filiados a partidos e a outras organizações políticas (que funcionam como partidos, mas não disputam eleições para governos), não privilegiassem, no âmbito do Sindicato Nacional e de suas entidades locais, a presença de lideranças e políticos de seus partidos e correntes e nem tivessem usado o ANDES para tentar fazer suas organizações crescer.

Balela.

A direção do ANDES é movida por interesses pessoais e dos grupos que o comandam há tempos. Não pelas pautas e necessidades da categoria docente.

Por exemplo, quando adotaram o lema do “fora todos” para derrubar o governo Dilma, se uniram em discurso à extrema-direita que começava a colocar as garras de fora no Brasil. Dizendo que tudo na política era “uma coisa só” (sempre ruim), o objetivo deles era fazer como que seus partidos e organizações políticas “mais à esquerda” crescessem e ocupassem o espaço na sociedade que sempre foi ocupado pela força política que estava no governo. Não deu muito certo, como a história provou depois. Em vez de se tornarem a “força hegemônica da esquerda”, ajudaram a extrema-direita a crescer.

Nós acreditamos que é absolutamente legítimo e necessário que a militância política e partidária esteja presente nas entidades sindicais porque as lutas sociais precisam estar conectadas. Mas consideramos profundamente antiético e desrespeitoso que escondam essa militância com o mantra da “autonomia frente a partidos”.

É uma farsa que despolitizou bases de diversas categorias e gerou graves prejuízos à luta social, porque em vez de levar docentes, outros servidores públicos e trabalhadores em geral para organizações “mais à esquerda”, jogaram multidões nos braços da extrema-direita, cujos militantes se apresentavam como “salvadores da pátria contra tudo de ruim que estava ali”.

Esse é um exemplo que mostra como a ultra-esquerda se conecta com a extrema-direita nos discursos demagógicos e na prática, com uma frequência tenebrosa.

 

Frente a governos?

Outro casuísmo caiu como uma luva para o discurso demagógico dos grupos dominantes do ANDES: ao prorrogar o mandato da atual diretoria do Sindical nacional e atrasar por um ano o processo eleitoral, eles conseguiram colar a mentira de que a Chapa 3 Renova ANDES, de oposição, seria governista (em relação ao novo governo Lula) e não lutaria pelos docentes. Se a eleição fosse no ano passado, ainda durante o governo Bolsonaro, essa mentira não colaria porque seria uma suposição ainda mais abstrata do que é hoje.

Convenientemente, foi justamente essa a tática mais aplicada pela Chapa 1: espalhar medo quanto à possibilidade de um suposto “governismo”. Com isso, eles conseguem também esconder a incapacidade de dialogar e articular com diferentes setores da sociedade.

Para eles, funciona muito mais a ideia do “quanto pior, melhor”, que sempre usaram no movimento sindical. Querem crescer nos escombros dos direitos e no sofrimento dos servidores. Só assim conseguirão “fazer a revolução” ou se manter eternamente no poder (enquanto a “revolução não vem”). Por esse mesmo motivo, muitos militantes dos grupos dominantes do ANDES tentaram convencer as bases de suas seções sindicais a rejeitar as negociações que resultaram no reajuste salarial de 9% neste ano.

 

E fake news, podia?

Teve fake news na eleição, como fazem os bolsonaristas? Teve sim. Nas vésperas da votação, a Chapa 1 publicou uma postagem repleta de fake news contra diversas diretorias de seções sindicais que fazem oposição aos grupos dominantes do ANDES. Por exemplo, disseram que nós, da APUFPR, teríamos feito propaganda em nosso jornal (oi?) para a Chapa 3.

Só que há muito tempo não temos jornal na APUFR, porque investimos pesadamente na inclusão digital de nossa categoria. A única publicação impressa nos últimos tempos foi o balanço da gestão passada, que não faz nenhuma menção à eleição do Sindicato Nacional.

Pior: ainda tentaram referendar a mentira dizendo que foi atestada pela Comissão Eleitoral Central (CEC) do ANDES. Só que a Chapa 1 tinha maioria na Comissão Eleitoral e decidia tudo a favor de si mesma. Portanto, se a Chapa 1 disse à CEC que o céu tem gosto de baunilha e as nuvens são feitas algodão-doce, ninguém conseguiria contestar, pois a CEC/Chapa 1 derrubava todas as contestações das outras chapas (como ocorreu em várias ocasiões) e “confirmava” qualquer argumento de seu próprio grupo político.

 

Autonomia x censura

Mesmo usando o mantra da “autonomia”, a Chapa 1 usou a Comissão Eleitoral Central para impor censura à APUFPR em uma informação que dizia como eram compostas as 3 chapas que disputavam a eleição do Sindicato Nacional.

Detalhe: impuseram censura pós e prévia a nossa seção sindical, que tem autonomia política e de gestão e é a segunda maior em quantidade de filiados dentro do Sindicato Nacional.

Pior: com medo de perder votos para concorrentes do mesmo “campo” político (já que há 20 anos dirigem juntos o ANDES), deixaram a Chapa 2 sem poder fazer campanha durante 5 dias e tentaram impugná-la depois do prazo formal de impugnação.

Isso prova que o discurso dos grupos dominantes do ANDES sobre autonomia só serve para ganhar votos. Na prática, são autoritários e profundamente apegados ao poder. Fizeram de tudo para não perder a entidade que dá sustentação à sua militância política e partidária.

 

Igual à PRF bolsonarista?

Lembra como Bolsonaro usou a parcela bolsonarista da Polícia Rodoviária Federal (PRF) para fazer bloqueios nas estradas no segundo turno das eleições de 2020, na tentativa de impedir o voto da população de regiões onde o governo sabia que o então candidato Lula havia conquistado mais votos no primeiro turno? A Chapa 1 aplicou a mesma lógica em universidades onde potencialmente seria derrotada e usou a Comissão Eleitoral (composta, em sua maioria, por seus apoiadores) para retirar os docentes da UFMG, da UFSCAR e de outras instituições do colégio eleitoral.

Detalhe: o candidato a presidente pela Chapa 1 é docente da UFMG, as três chapas tinham candidatos dessa mesma universidade e as chapas 1 e 3 tinham candidatos da UFSCAR. Ou seja, era possível compor a diretoria, mas as bases não puderam votar…

Segundo detalhe: a mesma lógica não se aplicou à UFRN, UFG, e UFBA, todas sem seção do ANDES-SN mas locais onde a Chapa 1 sabia que teria mais votos, além da ADUFPE, que há tempos não contribui financeiramente com o ANDES.

 

E o resultado?

O “bolsonarismo de esquerda” venceu apertado. Mesmo com todas as manobras, intervenções, autoritarismo e exclusões, a Chapa 1 ANDES pela Base teve 7.056 votos (43,16%) e foi anunciada vencedora pela Comissão Eleitoral Central. A Chapa 3 Renova ANDES teve 6.763 votos (41,37%), uma diferença de apenas 293 votos. Já a Chapa 2 – Andes-SN Classista e de Luta recebeu 2.253 votos (13,78%).

Nas 21 maiores seções sindicais (com mais de 1 mil eleitores), a Chapa 3 Renova ANDES, foi vitoriosa em 10. A Chapa 1 venceu em 7 e a Chapa 2 foi vitoriosa em 4.

No país, o ANDES tem uma base potencial composta por cerca de 300 mil pessoas. Destas, em torno de 65 mil são filiadas, sendo que pouco mais de 16 mil participaram do processo eleitoral. Há uma evidente crise de representatividade do Sindicato Nacional diante da categoria docente em todo o país.

Diante do sectarismo e do autoritarismo que vimos nas eleições, da desfaçatez com que a Chapa 1 mostrou controle absoluto sobre as decisões da Comissão Eleitoral Central, que agiu abertamente como mera despachante de seus interesses, e do resultado apertado das eleições, tudo indica que o futuro do ANDES será de mais instabilidade e maior enfraquecimento do nosso Sindicato Nacional.

E não se trata de considerar ou não o resultado legítimo. É preciso fazer uma reflexão profunda sobre tudo o que aconteceu nesse processo eleitoral nacional e pensar os próximos passos do movimento docente.

A história nos mostrou que é possível derrotar o bolsonarismo de extrema-direita. Agora, cabe aos docentes do país se organizar para impedir que o “bolsonarismo de esquerda”, que dominou o ANDES, continue trazendo mais derrotas para as professoras e para os professores das universidades públicas de todo o país.

Caso contrário, enquanto eles continuarem priorizando cada vez mais para seus próprios interesses enquanto brincam de “fazer revolução”, não restará nada além de escombros dos nossos direitos.

Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR)

15 de maio de 2023


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