Organizadora de grupo contra Bolsonaro relata agressão no Rio

10 de outubro de 2018

44960201711_213dd64534_zUma das administradoras do grupo de Facebook Mulheres Unidas Contra Bolsonaro registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil afirmando que foi agredida na noitede 24 de setembro, quando chegava em casa, na Ilha do Governador, na zona norte do Rio, por dois homens ainda não identificados. O grupo, que já reúne cerca de 3 milhões de usuárias, foi hackeado e derrubado diversas vezes por homens que se identificaram como partidários do candidato do PSL à Presidência nas eleições 2018, Jair Bolsonaro, desde que foi criado, há aproximadamente um mês. Várias mulheres do grupo foram agredidas verbalmente e receberam ameaças via internet.

Identificada, por medida de segurança. apenas como Maria, a administradora do grupo de mulheres no Rio de Janeiro afirmou que três homens não identificados participaram do ataque. Um estava ao volante de um táxi, os outros dois, do lado de fora do veículo – um portava uma pistola. Eles a esperavam na porta de casa, por volta das 20h15, na Ilha do Governador, na zona norte.

“Um deles saiu de trás de um carro e me deu um soco”, contou Maria, que coordena a campanha de Sérgio Ricardo Verde, do PSOL, à Assembléia Legislativa do Rio (Alerj). “Eu me agachei no chão e comecei a gritar por socorro. Então levei uma coronhada na cabeça.”

Maria disse que um dos homens roubou o celular que ela tinha na mão. Os dois então fugiram no táxi (um Meriva), que os aguardava a menos de um quarteirão de distância. Outros pertences não foram levados.

A ativista afirmou que vinha sendo ameaçada nas redes por causa de sua militância política e feminista, mas disse que não pode afirmar quem são os agressores e prefere aguardar pelas investigações.

Ameaças em Ribeirão Preto assustam ativistas
Em Ribeirão Preto, as dez mulheres que registraram queixa de ameaças à polícia tinham confirmado participação no evento contra Bolsonaro marcado para o próximo sábado.

Figuras públicas, como a cantora Marília Mendonça, afirmaram terem sido ameaçadas depois de se posicionarem contra a candidatura de Bolsonaro e compartilharem as hashtags do movimento. A candidata a vice na chapa de Fernando Haddad, Manuela D`Avila (PC do B), uma das candidatas mais ativas nas redes sociais, também foi ameaçada.

A última pesquisa do Ibope confirmou que o maior porcentual de rejeição ao candidato ocorre, justamente, entre as mulheres (54% delas declararam que não votam em Bolsonaro “de jeito nenhum”). Já a pesquisa do Datafolha da quinta-feira passada revelou que metade das eleitoras do sexo feminino (51% ou 39 milhões) não sabiam ainda em quem iriam votar para presidente.

Segundo cientistas políticos ouvidos pelo Estado, os números mostram que as eleitoras podem ser decisivas na decisão de quais candidatos chegarão ao segundo turno.

Partidários ofendem mulheres

“Não se trata de uma questão de direita ou esquerda, mas de marco civilizatório; em todo o mundo, pessoas de direita e de esquerda combatem a violência contra a mulher”, disse a socióloga Alessandra Maria Terra Faria, da Pontifícia Universidade Católica (PUC/RJ), especialista em teoria política. “E aqui no Brasil temos partidários do candidato comparando mulheres a cadelas”, afirmou, referindo-se a recente manifestação de bolsonaristas, que cantavam: “Dou para CUT pão com mortadela e para as feministas ração na tigela. As minas de direita são as top mais belas, enquanto as de esquerda têm mais pelo que cadela.”

Medições feitas pelo Laboratório de Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) entre os dias 15 e 22 de setembro encontraram 903 mil posts contrários a Bolsonaro com os termos #EleNão, #EleNunca, #EleJamais, #NotHim, e #NotNever. O movimento de apoio a Bolsonaro, capturado nas hashtags #EleSim e #MulheresComBolsonaro, teve 142,3 mil publicações.

Segundo o professor Fábio Malini, responsável pelo levantamento, o tom observado nestes posts é mais agressivo, e são abundantes os xingamentos. “Já havíamos estudado ameaças contra mulheres na internet e esse é um comportamento padrão”, afirmou.

O coordenador do Labic, Fábio Gouveia, também comentou a tendência: “Esse movimento das na rede é muito significativo porque tem um impacto direto nas mulheres, que são (a parcela do eleitorado) que mais rejeita o candidato. Nos últimos dias, com a aproximação do evento do sábado, o movimento está tendo um impacto concreto na imagem do candidato e nas intenções de voto. As últimas pesquisas mostram uma rejeição crescente.”

Estado de São Paulo


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