O reitor Luiz Carlos Cancellier não precisa morrer de novo

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                Pipo Quint/Agecom/UFSC

Fruto da seletividade da Justiça e da política de desmonte e privatização das instituições federais de ensino superior (Ifes), as sucessivas operações policiais e ações de outros órgãos nas universidades federais vêm maculando a imagem do ensino superior público. De todas as perseguições registradas, uma em específico seguiu um roteiro semelhante ao de um filme de terror.

Em setembro do ano passado, a operação Ouvidos Moucos, da Polícia Federal (PF), conduziu sete pessoas à prisão por suspeita de desvio de verbas da Educação a Distância (EaD) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Entre elas, estava o reitor da instituição, Luiz Carlos Cancellier. Perseguido e moralmente atacado em escala nacional, ele foi a vítima mais proeminente dessa ofensiva contra as universidades.

A operação teve cenário cinematográfico: com ampla cobertura da imprensa, mais de 100 policiais foram mobilizados para prender seis professores e um técnico administrativo. Aos jornais, a PF divulgou a suspeita de desvios de R$ 80 milhões – quando, na verdade, essa é a verba total da EaD. Sem um trabalho adequado de apuração, parte da mídia tradicional reproduziu esse discurso de maneira irrefletida, contribuindo para que uma suspeita consideravelmente infundada se transformasse em uma condenação prematura de Cancellier perante a opinião pública.

Sem garantia à defesa e ao contraditório, o reitor foi preso e acusado de obstrução  das investigações, além de ser proibido de entrar no campus da universidade. Dias depois, ele foi encontrado morto em um shopping da capital catarinense. Um bilhete em seu bolso expressava suas últimas palavras: “Minha morte foi decretada no dia da minha prisão”.

No final de abril, sete meses após o episódio trágico, a Polícia Federal (PF) divulgou o relatório da investigação. Apesar de indiciar 23 pessoas pelos supostos desvios – referentes à gestão anterior à de Cancellier, outro absurdo da investigação –, o conteúdo do documento impressiona pela inconsistência das conclusões e pelo excesso de achismos, reforçando ainda mais o caráter infundado e espetacularizado da ação. Julgado midiaticamente em vida, Cancellier continua sendo condenado sem provas mesmo depois de sua morte.

Até onde vão a difamação e o autoritarismo?

No caso da UFSC, o abuso de poder, a precipitação dos órgãos de Justiça e a espetacularização midiática caminharam de mãos dadas. Somadas ao ataque à autonomia universitária, essas práticas representam o aprofundamento da campanha difamatória contra as universidades federais e estaduais.

Tudo indica que não se trata de uma ação isolada: no final do ano passado, a PF conduziu ação semelhante na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que contou com conduções coercitivas e medidas igualmente abusivas. Essas intervenções desenfreadas, carentes de provas e de investigações minimamente respeitáveis, precisam ser denunciadas à exaustão para que não se criem novas vítimas do linchamento moral cada vez mais perpetrado pelas instituições do país.

Na ânsia de enxugar as responsabilidades do Estado com a educação e destruir o campo de produção crítica do conhecimento, o Governo Federal, com apoio declarado da mídia tradicional, está colocando em prática um rol de estratégias de ataque aos docentes e às universidades. Nessa verdadeira campanha pela privatização do ensino superior público, os professores federais já foram tratados como ineficientes, caros e até “doutrinadores” em publicações jornalísticas de alcance nacional. Não espanta que eles também estejam sendo vítimas de ações autoritárias, desproporcionais e espetacularizadas.

A solução para essa onda de autoritarismo depende de uma resistência organizada e coletiva, que denuncie os desmandos da Justiça e coloque em evidência o valoroso papel das universidades federais para a sociedade.

A APUFPR-SSind vem cumprindo com esse papel, denunciando e combatendo diretamente os ataques aos docentes da UFPR. Verifique aqui o direito de resposta da APUFPR-SSind à Gazeta do Povo e aqui a resposta da Universidade Pública à velha mídia.

Clique aqui e confira a coluna de Elio Gaspari na Folha de S. Paulo sobre o relatório da Polícia Federal referente à operação Ouvidos Moucos.

Fonte: APUFPR-SSind

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