Ocupação da Pepsico na Argentina adia apresentação de Reforma Trabalhista

Uma grande ocupação da fábrica da Pepsico por seus trabalhadores fez o governo de Maurício Macri recuar, e adiar a apresentação de sua proposta de Reforma Trabalhista para depois das eleições legislativas, no final do ano. A ocupação, para impedir a demissão de 600 trabalhadores, durou 17 dias, e colocou o tema da defesa dos empregos e das condições de trabalho no centro do debate político argentino.

A Pepsico – multinacional alimentícia que detém as marcas Toddy, Pepsi, Elma Chips, Quaker, etc. – realizou um acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Alimentação para fechar sua fábrica em Vicente Lopez, na região metropolitana de Buenos Aires, e levá-la para Mar Del Plata. A justificativa da empresa para a mudança foi a redução de custos com mão de obra, já que, na nova fábrica, contrataria trabalhadores precarizados e sem acordo coletivo forte.

Os trabalhadores da Pepsico receberam a notícia da demissão por cartazes colados na porta da fábrica. Entretanto, não aceitaram o acordo assinado pela burocracia sindical com os patrões, por mais que a Pepsico oferecesse pagar a rescisão dobrada. Muitos, inclusive, denunciaram assédio da empresa e do sindicato para que assinassem os acordos de rescisão. E, em defesa dos 600 postos de trabalho, ocuparam a fábrica no dia 27 de junho.

Na manhã de 13 de julho, a polícia, a mando da justiça, armou um enorme esquema de repressão para desocupar a unidade da Pepsico. Milhares de trabalhadores e estudantes se concentraram do lado de fora da empresa, para apoiar a luta dos trabalhadores, e foram agredidos pela força policial com bombas, tiros de bala de borracha e gases.

Depois de algumas horas sob ataque, os trabalhadores e os manifestantes deixaram a fábrica. Já os policiais foram “premiados” pela Pepsico devido a boa ação de repressão, e saíram da fábrica com kits contendo salgadinhos e refrigerantes para levar a suas casas. Dez pessoas foram presas e dezenas ficaram feridas com a operação policial.

Reforma trabalhista à brasileira

A proposta de Reforma Trabalhista argentina, baseada no projeto que Michel Temer recentemente sancionou no Brasil, é tratada como um rumor pelo governo. Mas meios de comunicação alinhados a Macri, como o Clarín, já noticiaram a intenção do presidente argentino de retirar direitos dos trabalhadores, e o recuo do Executivo devido à importância que a ocupação da Pepsico ganhou na sociedade argentina.

Para Mauricio Macri, os direitos trabalhistas existentes na Argentina “impedem o país de crescer”, já que “os trabalhadores custam muito caro para os empresários”. O presidente multimilionário também critica a organização sindical, à qual atribui entraves para novas contratações de trabalhadores precarizados. Assessores do governo já afirmaram que a reforma de Temer é um exemplo para a Argentina por descentralizar a negociação coletiva, permitir contratos de trabalho precários (como o contrato de horista) e por retirar direitos de que os trabalhadores recorram à justiça do trabalho.

Milhares às ruas em defesa dos trabalhadores da Pepsico

Na terça (18), os trabalhadores demitidos da Pepsico realizaram um grandioso ato no centro de Buenos Aires para reivindicar a retomada dos seus postos de trabalho. Diversas organizações sindicais e movimentos sociais se somaram ao ato, que lotou as ruas da capital argentina. Os manifestantes exigiram das centrais sindicais a convocação de nova Greve Geral, que possa impedir o fechamentos de outras fábricas. Os trabalhadores da Pepsico também armaram um acampamento em frente ao Congresso Nacional, para cobrar respostas do poder público às suas reivindicações.

Ocupações de fábricas na Argentina

A Argentina viveu uma onda de ocupação de fábricas nas décadas de 90 e 2000, durante a grave crise econômica pelo qual o país passou. Muitos trabalhadores ocuparam seus locais de trabalho para impedir o fechamento das empresas, e passaram a geri-los como cooperativas, sem patrões. Até hoje, resistem várias fábricas ocupadas, como a Zanon – de cerâmicas – ou o histórico Hotel Bauen.

Em 2017, com o crescimento do desemprego, que atinge a marca de 11% da população, ampliação da pobreza (30% da população) e elevação do índice da inflação, aumentou também o número de fábricas e empresas que fecharam as portas no país. Na grande maioria dos casos, com conivência dos sindicatos, os trabalhadores se veem de mãos abanando.

No entanto, em janeiro, os trabalhadores da Gráfica AGR-Clarín – grupo que publica o Jornal Clarín, não aceitaram as demissões e decidiram ocupar a empresa, para mostrar à sociedade que há trabalho e que, sem os lucros dos patrões, é possível manter a gráfica funcionando. Lá permaneceram por 82 dias, ignorados pelo Ministério do Trabalho, e só saíram depois de um grande operativo de repressão.

Com informações e imagens de Trabajadores de Pepsico En Lucha Por La Reapertura e Izquierda Diário.

Fonte: ANDES-SN


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