Nova presidente da Capes coordena curso de mestrado que foi descredenciado pela própria Capes em 2017

19 de abril de 2021
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Em mais uma prova de que o Governo Federal não prioriza a Educação pública, foi anunciado na última quinta-feira (dia 15) o nome de Claudia Mansani Queda de Toledo como nova presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

A Capes é a responsável por avaliar os cursos de pós-graduação, divulgar informações científicas, promover a cooperação internacional e atuar na formação de professores da educação básica.

Escolhida pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, a nova presidente tem interesses conflitantes com a função.

Primeiro, porque Cláudia e sua família são proprietárias de uma instituição privada de ensino superior, o Centro Universitário de Bauru, antigo Instituto Toledo de Ensino (ITE). A própria Cláudia, antes da nomeação para a Capes, era reitora da instituição.

Entre as mentiras contadas durante as eleições, Jair Bolsonaro dizia que seu governo seria formado por quadros técnicos capacitados. Na prática, isso nunca aconteceu. O MEC é o maior exemplo, já que os diversos ministros que passaram pela pasta durante no atual governo comprovaram sua absoluta falta de capacidade para o cargo. O mesmo vem acontecendo com os demais membros do primeiro escalão da pasta.

A exemplo do que foi feito com a troca de comando do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) no início de março, o ministério da Educação está ocupando alguns de seus espaços chaves com o mesmo perfil profissional, ligado às mantenedoras de ensino particular (ou diretamente proprietário dessas instituições), como no caso da nova presidente da Capes.

Vale lembrar também que foi no mesmo Centro Universitário de Bauru que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, se formou em Direito, em 1990. Quando da sua nomeação para o MEC, Milton Ribeiro chegou a ser homenageado pela faculdade.

Ou seja, está tudo “entre amigos” no ministério da Educação.

 

Perfil técnico?

Mas os absurdos não param por aí. Estão apenas começando: a nova presidente da Capes tem o título de Doutora em Direito, obtido em 2012, na mesma instituição em que sua família é dona.

No currículo lattes de Claudia, constam basicamente atividades ligadas ao Centro Universitário Bauru. Na falta de produção científica, a nova presidente chega ao cúmulo de listar no currículo reunião com professores entre as “produções técnicas”.

E pior: em avaliação de 2017 do único programa de pós-graduação do Centro Universitário de Bauru, no qual Cláudia também era coordenadora, o curso de mestrado “Sistema Constitucional de Garantias de Direito” recebeu nota 2 no conceito da Capes. A baixa avaliação ocasionou descredenciamento do curso por mau desempenho em 2017.

“Milagrosamente”, um dia antes de Milton Ribeiro assumir o comando do MEC, em novembro de 2020, o curso de pós-graduação apareceu com nota 4 na avaliação da Capes, e apto para voltar ao sistema.

É um completo escárnio. A coordenadora de um programa de pós-graduação que deveria ser fechado devido ao péssimo desempenho recebe, como prêmio, a presidência da Capes.

O temor é que o órgão seja transformado em um enorme balcão de negócios, com a distribuição de autorizações sem critérios acadêmicos e científicos.

 

Escândalos

No início dos anos 2000, o Centro Universitário foi alvo de denúncias de sonegação de impostos e desvio de dinheiro (com uso de notas fiscais frias). A acusação partiu de um membro da família que ocupava a secretaria-geral da instituição. Segundo ele, parte dos valores recebidos com as mensalidades não eram registrados na contabilidade e iam direto para o bolso de membros da família.

Segundo as denúncias, o “clã Toledo”, dono do Centro Universitário há mais de 70 anos e família influente na política do interior de São Paulo, teria desviado e sonegado milhões de reais.

Para um governo eleito com discurso de “acabar com a corrupção”, dar cargos importantes para pessoas com passados envolvidos justamente em situações como essas não reforça essa tese.

 

Fonte: APUFPR


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