Nota de solidariedade da APUFPR à professora Lucimar Rosa Dias, vítima de racismo

10 de março de 2020
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A Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR) se solidariza à professora Lucimar Rosa Dias, vítima de um vergonhoso caso de racismo na manhã deste sábado (7) no Centro de Curitiba.

O racismo é um dos crimes mais cometidos no Brasil e um dos menos notificados. Vivemos em um país ainda racista e precisamos combater este preconceito que faz com que a cor da pele acabe virando uma sentença para falsas acusações, muitas vezes sem chance ao contraditório e a todos os direitos que a Constituição em tese deveria prover.

A vítima deste racismo estrutural da sociedade brasileira é professora doutora em Educação pela nossa Universidade Federal do Paraná (UFPR), pesquisadora brilhante que coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação para as Relações Étnico-Raciais (ErêYá) do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros da UFPR, que integra o Programa de Pós-Graduação em Educação da linha de pesquisa Diversidade, Diferença e Desigualdade Social em Educação.

Lucimar, que havia sido homenageada na véspera pela Câmara Municipal pelo Dia Internacional da Mulher, foi ao Emporium Rei do Queijo, em Curitiba, comprar comida para um almoço com o filho, recém-calouro universitário, e amigos deles, para festejar esta conquista. Como sempre faz, colocou suas compras na esteira, pagou no caixa e colocou a maior parte delas em sua ecobag, seguindo a pé em direção à residência.

Quase duas quadras à frente, ela acabou sendo alvo do racismo que estuda como pesquisadora e que já havia sofrido de diversas outras formas durante sua vida. Três homens, dois deles com o uniforme do mercado, interromperam de forma brusca a caminhada da professora. O terceiro deles, sem uniforme, a acusou de, segundo um outro cliente, ter furtado o mercado e que teria imagens das câmeras de vídeo como prova.

Ou ela voltava à loja para supostamente acertar o que estava sendo acusada ou eles chamariam a Guarda Municipal. Surpresa, confusa e assustada com a injusta abordagem, ela preferiu que chamassem a guarda.

Lucimar, numa inversão de ônus da prova da acusação, precisou mostrar item por item que constava em sua bolsa. Todos os itens estavam ali listados. Os seguranças da loja colocaram a mão dentro da bolsa e queriam saber de uma caixa de barras de cereal, que inclusive constava na nota fiscal.

Ao retornar à loja, descobriu que aquilo tinha nome e era um velho conhecido dela: racismo. Não havia roubo, não havia imagem de câmera, não havia nada de verdade. Clientes, ao perceber o que ocorria, ajudaram Lucimar. Foram horas de discussão. As desculpas do estabelecimento só pioraram e escancaravam a cultura racista em que estavam imersos.

Em nota publicada em sua página no Facebook para tentar amenizar a situação, o estabelecimento ainda escolheu uma péssima abordagem, ao dizer que tanto o funcionário como os proprietários seriam afrodescendentes. Como se pessoas que podem ser vítimas de um crime não pudessem elas mesmas cometerem o mesmo tipo de crime.

A professora fez um Boletim de Ocorrência (BO) na delegacia próxima para denunciar a violência sofrida, pois todos esses episódios precisam se tornar públicos. Ela, como proeminente pesquisadora, sabe como ninguém que eles precisam ter consequência para que um dia deixem de existir.

Nós, da APUFPR, nos colocamos à disposição para qualquer contribuição e apoio que possa vir a ajudar nesta luta pela justiça depois de episódio tão lamentável a que foi sujeita.

Diretoria da APUFPR

Fonte: APUFPR


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