Nota de repúdio da Abridor de Latas contra a abordagem racista da PM a um de nossos funcionários

31 de janeiro de 2019

Na tarde da última terça-feira (29), um funcionário de nossa agência (Abridor de Latas Comunicação Sindical) foi vítima de uma abordagem policial discriminatória, nos arredores da nossa empresa, simplesmente por ser negro.

Ele foi abordado por dois policiais militares durante o horário de almoço sem nenhuma razão, enquanto descansava em uma praça.

Os agentes revistaram sua mochila, sua carteira e seus bolsos, questionando a todo momento se ele não estava escondendo drogas. Quando informou que trabalhava nos arredores e estava em seu intervalo, ele foi ironizado pelos PMs, que chegaram a apontar uma arma para ele.

No momento da abordagem, o funcionário estava acompanhado de dois colegas brancos, que não receberam a mesma atenção dos policiais. Em dado momento, um dos agentes afirmou que não revistaria um dos presentes porque ele “parecia ter vindo da Austrália”. Sim, ele é loiro e, por isso, não recebeu nenhum tipo de intimidação. Muito menos teve uma arma apontada em sua direção.

Essa expressão escancarada de racismo, do tipo mais abjeto e repugnante, é uma chaga que já deveria ter sido extirpada de nosso convívio social, mas que continua presente em nossa sociedade. E nos entristece profundamente quando vem daqueles que deveriam servir e proteger a comunidade.

Em seu discurso de posse, o novo governador do Paraná, Ratinho Junior, prometeu levar o estado para o futuro. Como “comandante em chefe” da Polícia Militar, uma de suas tarefas mais urgentes será tirar as forças de segurança do passado.

No momento em que a população de nosso país descobre, atônita e horrorizada, que a família do recém-empossado chefe da nação está profundamente envolvida com policiais e ex-policiais milicianos acusados dos crimes mais hediondos (inclusive a morte de Marielle Franco e de Anderson Gomes), é cada vez mais urgente que as forças de segurança pública repensem suas ações e sua relação com a comunidade.

Existe uma distância imensa entre uma instituição ser respeitada ou temida pela sociedade. A população comum teme a polícia.

Situações como estas devem nos levar à reflexão, afinal é preocupante quando nos sentimos inseguros ao descansar em uma praça pública, não por medo de criminosos, mas por medo da própria polícia. Algo muito errado está presente nesta relação.

É essa a mensagem que as forças de segurança querem passar para a população? É essa a imagem de futuro que querem construir?

A ação daqueles policiais se travestiu de uma violência institucional descabida contra um trabalhador que estava em local público, exercendo seu direito constitucional de ir e vir. Seu direito ao lazer. Infelizmente, esse é apenas mais um exemplo do racismo estrutural que permeia as forças de segurança pública no Paraná e em todo o Brasil, e uma demonstração clara do despreparo de muitos agentes que deveriam proteger a comunidade, em vez de oprimi-la de maneira abusiva e vexatória.

Infelizmente, esse não é um caso isolado. Diariamente, a população negra é vítima de abordagens truculentas e desnecessárias, motivada exclusivamente pela cor de sua pele. De acordo com dados do Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, entre 2015 e 2016, a polícia matou 963 pessoas brancas contra 3.240 negros – um número três vezes maior, pautado exclusivamente pelo recorte racial que define geralmente o tom de uma abordagem policial.

A Abridor de Latas denuncia e repudia a abordagem racista e a violência cometida contra nosso funcionário, que está recebendo todo o suporte necessário após o ocorrido.

Lutamos por um mundo livre desse tipo de opressão. Trabalhamos para construir uma sociedade mais justa e igualitária. Mais humana. Sem preconceitos e sem violência. Sem que as pessoas sejam julgadas pela cor de sua pele ou por aquilo que vestem.

Nós, enquanto sociedade, somos melhores do que isso.

 

Agência de comunicação sindical Abridor de Latas

“Tenho um sonho de que meus quatro filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo teor de seu caráter”. Reverendo Martin Luther King Jr.


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