Nota da APUFPR sobre a retomada das atividades por via remota em caráter excepcional, durante a instituição do período especial

23 de abril de 2020
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A APUFPR acompanha com atenção os desdobramentos relacionados à pandemia do coronavírus (Covid-19) e suas consequências junto à comunidade universitária. Desde a interrupção das atividades didáticas em 16 de março deste ano (Resolução 26/2020 do Cepe), a APUFPR participa das discussões sobre uma possível implantação de atividades remotas ou de ensino à distância pela Administração da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Estamos cientes de que o amplo debate com todas as esferas da comunidade universitária – a fim de levantar seus eventuais benefícios, limitações e dificuldades operacionais e humanas que permearão essa modalidade de ensino – tem sido benéfico para o universo docente.

Após levantamento prévio realizado pelas coordenações de curso e pelos departamentos da instituição, a Pró-reitoria de Graduação (Prograd) apresentou à comunidade uma minuta de resolução visando a discussão de tais atividades, consideradas no documento como “período especial” para os cursos de graduação. Apresentamos as seguintes considerações:

1) O calendário acadêmico seguirá suspenso, apesar da minuta definir o período de 4 de maio a 13 de junho de 2020 como período especial, contabilizando seis semanas. Somente após a elaboração de um novo calendário as atividades poderão ser regularmente integralizadas. Assim, questiona-se sua validade, visto que o calendário ainda estará suspenso.

2) Provavelmente, parte dos estudantes estará impossibilitada de acompanhar as atividades (por falta de equipamento, conexão com a internet, recursos didáticos ou de ambiente propício), por isso os docentes manifestaram preocupação sobre a necessidade de conduzir a disciplina com a anuência de apenas uma parcela da turma durante o período especial. Esta situação teria como consequência, após o retorno às atividades presenciais e retomada normal do calendário, a necessidade de o docente conduzir em paralelo grupos de alunos com diferentes níveis de conhecimento, ou seja, aqueles que teriam aderido às atividades remotas e aqueles estiveram impossibilitados de tal adesão. Na prática, isto resultaria na divisão da turma em duas, havendo, desta forma necessidade de duplicação de salas ou laboratórios e, principalmente, de horário.

3) A maior parte dos docentes não possui o domínio ou mesmo o devido treinamento e experiência para coordenar atividades à distância. Muitos relatam insegurança na investida do uso de tecnologias digitais para a continuidade de suas disciplinas. Dessa forma, entende-se que embora as tecnologias educacionais à distância estejam disponíveis e sejam inclusive utilizadas pela própria universidade, é no mínimo desejável que os docentes recebam, antecipadamente, treinamento adequado, visando sua capacitação e posterior adoção como ferramenta de ensino.

Percebe-se que muitos docentes não possuem uma clara definição do conceito de ensino a distância e desconhecem os distintos métodos didáticos disponíveis nessa modalidade. Essas definições, metodologias e suas nuances são mecanismos pedagógicos importantes, mas que como qualquer outro exigem conhecimento, preparo, domínio e tempo de preparação.

4) Como as atividades desenvolvidas no período especial dependerão da natureza das respectivas disciplinas, caberá aos docentes definir quais conteúdos poderão ser plenamente contemplados por essas atividades. Na impossibilidade de realizar atividades de caráter prático, laboratorial ou de campo, que são interdependentes com o conteúdo teórico, o aprendizado torna-se bastante limitado e, consequentemente, deficiente ao pleno preparo profissional dos estudantes. Esse aspecto está em dissonância com o elevado nível de qualidade prezado pelo ensino superior presencial oferecido pela UFPR e defendido pelos seus docentes. Entendemos que a qualidade de ensino não pode ser afetada, mesmo em situações excepcionais como a que estamos vivenciando.

5) Estando os colegiados de curso (e não os departamentos) incumbidos de indicar quais disciplinas poderão ser contempladas no período especial, é possível que isso acarrete desigualdades em relação à distribuição do esforço docente entre e dentro dos departamentos. É possível que, em função do caráter de suas disciplinas (teórico, prático, laboratorial ou de campo) algumas unidades (departamentos) e seus docentes venham a ser mais exigidos pelo acúmulo de atividades após o período especial.

6) Também cabe salientar as discrepâncias em termos de condições de aprendizagem para os discentes, tendo em vista a disponibilidade de recursos de informática, acesso à internet de qualidade, acessibilidade para deficientes auditivos e visuais, entre outros. Pelo menos 30 centros acadêmicos de diferentes cursos e campus da UFPR já manifestaram posição contrária às atividades remotas, expondo suas dificuldades e limitações em relação a aspectos de aprendizagem, emocionais e até mesmo financeiros, sobretudo em solidariedade àqueles colegas com as dificuldades mencionadas acima. Soma-se, ainda, a indisponibilidade de recursos bibliográficos, mesmo em formato digital, para uso dos discentes, posto que são elementos essenciais para a aprendizagem.

7) Cabe lembrar que boa parte trabalho cotidiano do docente, neste momento difícil, está sendo realizado no formato home-office. Orientações online de pós-graduandos, correção de textos de orientandos, continuidade dos projetos de pesquisa, atualização ou preparação de materiais didáticos e aulas, leitura e estudo de nova bibliografia, planejamentos didáticos e até cursos remotos de atualização estão sendo realizados pelos professores, pois nada mais são do que suas atividades cotidianas realizadas em seus próprios gabinetes transpostas para seu trabalho no formato home-office. Ou seja, grande parte do trabalho do docente está em realização plena, incluindo reuniões colegiados de curso (graduação e pós-graduação), plenárias de departamento ou setoriais e outras de comissões.

Assim, consideramos que o debate sobre a retomada das atividades é necessário, porém merece um exame bastante cuidadoso por parte de toda a comunidade universitária e que, principalmente, possa ser construído de forma a proporcionar educação de qualidade, com igualdade de condições de aprendizagem, com planejamento e tempo de maturação, investindo nos recursos materiais e formação e capacitação dos recursos humanos.

Percebe-se que quase a totalidade do corpo docente entende que a utilização de forma remota de meios e tecnologias de informação e comunicação é importante e extremamente útil no processo ensino-aprendizado, contudo tais recursos não poderão ser aplicados de forma açodada mesmo em caráter excepcional, com o risco de comprometimento de um ensino de qualidade que sempre foi objetivo da categoria docente de nossa instituição.

Diante do exposto, a APUFPR entende e recomenda que a modalidade de ensino remoto na graduação não seja aplicada na UFPR nas atuais circunstâncias, não pelas suas características intrínsecas, mas em função das dificuldades acima elencadas.

Diretoria da APUFPR


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