Não é hora de retomar atividades não essenciais. É hora de preservar vidas!

16 de abril de 2020
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Estimuladas por setores empresariais, várias cidades do estado do Paraná estão tentando articular medidas para reabertura do comércio não essencial. Esse posicionamento, além de irresponsável, traz riscos imensuráveis à população e pode contribuir para a ampliação da pandemia do Coronavírus.

A Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR), que representa docentes da UFPR que atuam em Curitiba, Toledo, Jandaia do Sul, Palotina, Pontal do Paraná e Matinhos, faz um alerta à população e às autoridades: não é hora de retomar atividades não essenciais. É hora de preservar vidas!

Apesar de ampla, há muitas deficiências na cobertura do sistema de Saúde. O Paraná e a imensa maioria dos municípios não estão preparados para enfrentar os impactos da pandemia, caso ela se amplie. Há poucos testes, e nem haverá leitos de internação ou UTIs para receber pacientes contaminados com a Covid-19.

  • Na Regional de Saúde Metropolitana de Curitiba, há 3.654.960 habitantes, mas apenas 981 leitos de UTI e 1.650 respiradores. Se apenas 0,5% da população desenvolver os sintomas mais graves, seriam necessários 18.274 leitos de UTI.
  • Na Regional de Apucarana, que inclui Jandaia do Sul, há 384.198 habitantes, mas apenas 50 leitos de UTI e 120 respiradores.
  • Na Regional de Toledo, onde também está Palotina, moram 398.323 pessoas, mas há apenas 58 leitos de UTI e 72 respiradores.
  • Na Regional de Paranaguá, que inclui Matinhos e Pontal do Paraná, há 297.029 habitantes, mas apenas 18 leitos de UTI e 39 respiradores.

A retomada das atividades comerciais não essenciais vai na direção contrária do que a Ciência vem comprovando, e dos exemplos de países do mundo inteiro. O isolamento horizontal (ou seja, de todas as faixas etárias) e o fechamento de atividades não essenciais são a única maneira existente até o momento para reduzir a disseminação do Coronavírus e evitar, ou ao menos reduzir, o colapso dos sistemas de Saúde.

É preciso relembrar: são vidas que estão em jogo. O Brasil é o único país do mundo onde os empresários estão se posicionando contra o isolamento social. Há algo muito errado nisso enquanto sociedade.

As autoridades municipais de todo o estado não podem se dobrar aos interesses de grupos privados para quebrar as medidas de segurança. A atual metodologia de isolamento social tem embasamento científico em diversos estudos, que comprovam também que os impactos econômicos de uma proliferação generalizada da doença serão muito mais severos do que os causados pelo isolamento.

Promover a abertura neste momento, próximo do provável pico da pandemia, é uma medida que pode ser considerada criminosa, porque comprovadamente atenta contra a vida da população. Foi o erro cometido pelos governos da Espanha, de parte da Itália e dos Estados Unidos, que privilegiaram a economia e agora estão tendo que lidar com o desastre de suas decisões. Dezenas de milhares de vidas poderiam ter sido poupadas caso tivessem adotado o isolamento antes da disseminação da doença.

 

Os prefeitos das cidades paranaenses e de todas as demais devem escolher se querem ser lembrados pelas vidas que salvaram ou pelas pessoas que enviaram para a morte.

As entidades empresariais que estão fazendo lobby pela retomada dessas atividades estão colocando a população em risco e poderão causar milhares de mortes, seja pelas complicações causadas pela doença, seja pela falta de vagas nos serviços de Saúde, que fatalmente entrarão em colapso.

É preciso lembrar que há enormes indícios de subnotificação de casos devido à escassez de testes de detecção, o que leva a um quadro real bastante pior do que o oficial. Vários estudos realizados em instituições renomadas indicam que apenas 7% a 8% dos casos no Brasil estão notificados. Há uma enorme quantidade de pessoas contaminadas que não apresentam sintomas, mas que podem contaminar outras pessoas.

As mesmas entidades empresariais tentam empurrar um modelo de isolamento vertical, isolando apenas as pessoas com idade acima de 60 anos ou com condições de saúde que possam ser agravantes. Mas não há embasamento científico ou empírico para isso. É o que pode ser chamado de terraplanismo sanitário.

Além disso, em várias regiões do país, mais da metade das pessoas internadas em estado grave têm menos de 60 anos.

A obrigação do poder público é defender a vida de seus cidadãos e não implantar medidas que gerem mais risco. Do mesmo modo, é obrigação de todas as esferas governamentais a implantação de medidas econômicas para garantir a todos as condições de um isolamento com tranquilidade e garantia de salários, emprego e renda.

Por isso, é necessário garantir às camadas menos favorecidas (trabalhadores públicos e privados, pequenos empresários, desempregados, trabalhadores informais e pessoas em situação de rua) políticas de proteção e acesso aos serviços públicos.

Deste modo, a APUFPR defende que o comércio não essencial precisa ser mantido fechado em nome da vida de todos. Está na Constituição como direito fundamental.

Diretoria da APUFPR


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