Mulheres mães enfrentam preconceitos e barreiras no meio acadêmico e científico

25 de maio de 2023
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Uma pesquisa recente conduzida na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) desvelou a extensão do estigma e do preconceito que as mulheres enfrentam no campo acadêmico quando se tornam mães. Este estudo, liderado pela professora Fernanda Staniscuaski, do Centro de Biotecnologia da UFRGS, evidencia que esse preconceito contribui para a diminuição da presença feminina na carreira científica.

O trabalho, divulgado na revista Humanities and Social Sciences Communications, do grupo Nature, destaca que a academia tende a punir aqueles que não se adaptam ao ideal de “trabalhadores perfeitos”, prejudicando assim as mulheres que escolhem a maternidade. O estudo sublinha também que as cientistas enfrentam uma percepção negativa no ambiente de pesquisa, intensificada pela falta de flexibilidade na academia. As cientistas ainda relataram sentir uma pressão adicional para equilibrar novas demandas após a licença-maternidade.

 

Diferenças Observadas

Este estudo, que teve a contribuição de 890 cientistas docentes do país, faz parte do movimento Parent in Science, que procura discutir a parentalidade no ambiente acadêmico, com um enfoque particular na maternidade. O objetivo deste movimento é recolher dados e promover debates para a criação de políticas de suporte às mães na academia.

Os resultados mostram que, no meio acadêmico, 63% dos pais não notaram qualquer mudança na maneira como eram avaliados por seus colegas e superiores após se tornarem pais. Contudo, apenas 35% das mães partilharam a mesma perspectiva. Mulheres com menos de 15 anos de serviço foram as que mais reportaram viés negativo.

Quanto às avaliações de desempenho, 74,4% dos pais concordaram que foram avaliados de forma justa pelos colegas e superiores após o nascimento dos filhos, enquanto apenas 52,4% das mães tinham a mesma visão. A respeito de oportunidades profissionais, os pais cientistas relataram maior acesso a avanços profissionais (71,8%) do que as cientistas que são mães (42,8%).

A pesquisa também evidenciou uma disparidade entre as licenças parentais pagas. A licença-maternidade oscila entre 120 a 180 dias, enquanto a licença-paternidade se situa entre 5 e 20 dias, uma diferença que alimenta a desigualdade de gênero.

 

Avanços

A partir de iniciativas do movimento Parent in Science, a Capes criou um espaço no currículo Lattes para registrar o período de licença-maternidade. Em janeiro deste ano, a organização também solicitou à Capes a inclusão de um campo de preenchimento exclusivo para licença-maternidade, paternidade e adotante na Plataforma Sucupira, que reúne informações de discentes e docentes de pós-graduação no Brasil. 

É uma forma de deixar evidenciado no currículo profissional que em determinado intervalo houve menos “produtividade” devido à maternidade.

Essas iniciativas são importantes, mas isso não significa que haja mecanismos eficazes para evitar que as pesquisadoras mães sejam desligadas de programas de pós-graduação.

 

Mudanças Necessárias

Os pesquisadores da UFRGS salientam a necessidade de mudanças culturais significativas no ambiente acadêmico. É essencial reavaliar a noção de que dedicação significa trabalhar incessantemente, inclusive em dias de folga. 

Da mesma forma, é fundamental promover uma cultura onde diferentes maneiras de exercer a ciência sejam valorizadas e aceitas. O modelo produtivista atual prejudica principalmente as mulheres, mas afeta também quem possui papéis além do trabalho. Há muitos relatos de cientistas mães que sofreram pressão para participar de atividades acadêmicas, palestras, conferências, mesmo poucos dias após o parto.

A pesquisa da UFRGS realça um desafio relevante para a comunidade acadêmica: a necessidade de tomar medidas concretas para erradicar o preconceito e assegurar igualdade de oportunidades para mães que buscam uma carreira científica. Criar um ambiente inclusivo, flexível e de suporte, reconhecendo a importância das mulheres enquanto profissionais e mães é de vital importância.

Para combater o preconceito e fomentar a igualdade de oportunidades, a implementação de políticas e estratégias que suportem mães no ambiente acadêmico é crucial. Isso inclui:

Licenças maternidade e paternidade mais equilibradas: É importante garantir uma licença-maternidade adequada, que ofereça às mães o tempo necessário para se recuperarem, cuidarem de seus filhos recém-nascidos e se adaptarem à nova rotina. Simultaneamente, promover uma licença-paternidade mais extensa, incentivando a participação ativa dos pais desde o início.

Políticas institucionais inclusivas: Universidades e instituições de pesquisa devem formular políticas institucionais que incentivem a igualdade de oportunidades para mães cientistas. Isso pode incluir a formação de comitês de igualdade de gênero, implementação de processos de avaliação justos e transparentes, garantia de que a maternidade não seja um obstáculo para a progressão na carreira e promoção de uma cultura de respeito e suporte.

A mudança cultural e a erradicação do preconceito contra mães no meio acadêmico exigem a participação ativa de toda a comunidade acadêmica, incluindo docentes, pesquisadores e gestores. Apenas através de esforços conjuntos e políticas eficazes, será possível garantir igualdade de oportunidades para mulheres que aspiram uma carreira científica enquanto se tornam mães.

Fonte: APUFPR


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