Indígenas Gamela são brutalmente atacados em conflito por terra no Maranhão

Indígenas da etnia Gamela foram brutalmente atacados, no último domingo (30), por pistoleiros no Povoado de Bahias, município de Viana, localizado há 214 quilômetros de São Luís, capital do Maranhão. Os pistoleiros, munidos de armas de fogo, facões e paus, armaram uma emboscada para os indígenas, que se retiravam da área tradicional, retomada na sexta-feira, 28 de abril, dia da Greve Geral no país.

De acordo com o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), pelo menos 13 indígenas foram feridos: cinco baleados, sendo que dois deles tiveram as mãos decepadas; e outros foram agredidos com facão e pauladas. Os indígenas baleados foram transferidos para um hospital na capital maranhense. Na manhã de segunda-feira, 1° de maio, dois dos feridos receberam alta. Os demais seguem internados, dois deles em estado grave, correndo risco de morte. Até o momento, não há confirmação de mortes.

Entidades e movimentos que apoiam a causa indígena afirmam que o ataque foi premeditado, já que os criminosos estavam reunidos no início da tarde do domingo, nas proximidades do Povoado da Bahias, numa área chamada de Santero, conforme convocação realizada pelas redes sociais e em programas de rádios locais. O deputado federal Aluisio Guimarães Mendes Filho (PTN/MA), que foi assessor presidencial de José Sarney e secretário de Segurança Pública na última gestão do governo de Roseana Sarney, é acusado pelos movimentos de incitação à violência. O deputado havia concedido entrevista a uma rádio local, após a retomada do dia 28 de abril, e se referiu aos Gamela, entre outros termos, como “arruaceiros”.

Os Gamela retomaram uma área contígua à aldeia Cajueiro Piraí, localizada no interior do território tradicional reivindicado pelo povo. Na manhã de sexta, os Gamela trancaram a rodovia MA-014, em apoio à Greve Geral e em sincronia com o 14° Acampamento Terra Livre (ATL), que ocorria em Brasília (DF). Em seguida, retomaram a área incidente na terra indígena, localizada ao fundo da aldeia Nova Vila, usada para a criação de búfalos e gado.

“Estamos fazendo toda uma mobilização nacional para defender o povo Gamela, pressionando o governador Flávio Dino para agilizar o processo de titulação do território Gamela, exigindo punição aos agressores e, ainda, que seja investigado o posicionamento do deputado Aluisio Guimarães Mendes Filho no ataque. Também será criada uma caravana até Viana. Precisamos entender que a luta dos Gamela é importante, pois é o reflexo de uma luta muito maior que é a defesa das terras dos povos originários”, disse Cláudia Durans, 2° vice-presidente do ANDES-SN, que participou de uma audiência pública na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-MA), na terça-feira (2), sobre o ataque aos indígenas no interior do Maranhão.

Quem são os Gamelas

O Povo Gamela, que já foi considerado extinto, vem, desde 2013, lutando pelo reconhecimento étnico e territorial. O território, que compreendia mais de 10 mil hectares, foi doado pelo Império Português aos Gamela. Porém, atualmente, os indígenas vivem em apenas 552 hectares, parcela que restou de um violento processo de grilagem ocorrido nos anos 70. Esse pedaço de terra, onde essa população vive e tira dele seu sustento, está novamente sendo objeto de ataques disputa e de fraude.

A demora no reconhecimento étnico e no processo demarcatório – processo que deveria ser feito pela Fundação Nacional do Índio (Funai) -, fez com que o próprio Povo Gamela realizasse a autodemarcação, colocando em risco, por diversas vezes, a própria vida.

Este não é o primeiro ataque sofrido pelo povo. Em 2015, um ataque a tiros foi realizado contra uma área retomada. Em 26 de agosto de 2016, três homens armados e trajando coletes à prova de bala invadiram outra área e foram expulsos pelos Gamela que, mesmo sob a mira de armas de fogo, os afastaram da comunidade.

“O Estado brasileiro não realizou o justo processo de reconhecimento étnico e demarcatório do Povo Gamela, que há anos reivindica seu território originário invadido para a criação de pastos para búfalos. Um Povo, como outros Povos Indígenas, que luta pelo justo direito de ter seu Território de volta”, escreveu Casé Angatu Xukuru Tupinambá, docente da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), em Ilhéus (BA), em apoio ao Povo Gamela em suas redes sociais.

Violência em Minas

No dia 1° de maio, Dia Internacional do Trabalhador, uma adolescente de 14 anos foi atingida por uma bala de borracha no rosto durante uma ação da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG), que retirou de forma violenta centenas de famílias da Ocupação Manoel Aleixo, em Mário Campos, região metropolitana de Belo Horizonte. A polícia ainda prendeu uma liderança do movimento.

Mais de dez viaturas da corporação foram empenhadas para retirar as famílias do terreno, que estava abandonado há mais de uma década. Advogados do Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB) dizem que as autoridades não apresentaram mandado da Justiça que respaldasse a remoção das pessoas que dormiam em barracas no local há cinco dias.

Chacina em Colniza

Em desdobramento das investigações da chacina que vitimou nove trabalhadores rurais na última semana, no Mato Grosso, dois homens foram presos suspeitos de terem envolvimento na tortura e morte, na gleba Taquaruçu do Norte, próximo ao distrito de Guariba, no município de Colniza, a 1.065 km de Cuiabá. A informação, divulgada na terça-feira (2), é da Secretaria de Segurança Pública de Mato Grosso (Sesp-MT). Uma terceira pessoa, que teria participado do crime, foi identificada, mas ainda não foi presa. O suspeito de ter mandado matar também já foi identificado e o advogado dele negocia a sua entrega às autoridades policiais.

Fonte: ANDES-SN com informações do Cimi, Portal bhaz e G1


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