Historiador contratado pela Volks confirma ação da empresa na ditadura brasileira

imp-pop-657671935A filial brasileira da Volskwagen (VW) colaborou ativamente com a ditadura empresarial-militar no Brasil na repressão aos trabalhadores. A informação foi confirmada pelo historiador Christopher Kopper, contratado pela montadora, na Alemanha, para investigar as relações da empresa com o aparato repressivo brasileiro. A notícia foi divulgada no último domingo (23) pelo jornal Süddeutsche Zeitung e pelas emissoras NDR e SWR, e repercutida no Brasil pelo site Opera Mundi, que acompanha o caso extensivamente há mais de três anos.

Segundo os veículos de imprensa alemães, a filial brasileira da Volks espionou seus trabalhadores e suas idéias políticas, e os dados foram repassados para a polícia.

“Eu posso dizer que havia uma colaboração regular entre o departamento de segurança da VW do Brasil e os órgãos policiais do regime”, afirmou Kopper aos veículos, e citou que a Volkswagen “autorizou prisões” dentro do complexo. “O departamento de segurança atuou como um braço da polícia política dentro da fábrica da VW”, apontou.

A investigação feita pelo historiador abrange os arquivos da montadora na Alemanha.  A sede da empresa, em Wolfsburg, não se pronunciou sobre as afirmações de Kopper, que é vinculado à Universidade de Bielefeld e tem até o final deste ano para apresentar suas conclusões finais.

CNV
Um relato detalhado do ocorrido na fábrica da montadora alemã consta no relatório final da Comissão Nacional da Verdade (CNV), documento com mais de 3.000 páginas, publicado em 2014, que revelou a existência de um aparato repressivo militar-empresarial, na qual as firmas monitoravam funcionários, repassando informações e fazendo denúncias ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops).

“Estava trabalhando e chegaram dois indivíduos com metralhadora, encostaram nas minhas costas, já me algemaram. Na hora em que cheguei à sala de segurança da Volkswagen, já começou a tortura, já comecei a apanhar ali, comecei a levar tapa, soco”, contou Lúcio Bellentani, funcionário da Volkswagen de São Bernardo do Campo, à CNV.

Nazista
O responsável pela criação do aparato repressivo dentro da Volkswagen do Brasil foi Fritz Paul Stangl, criminoso nazista que fugiu para o Brasil depois da Segunda Guerra Mundial. A conclusão consta também no relatório da CNV. No capítulo dedicado à repressão aos operários, intitulado “Violações de direitos humanos dos trabalhadores”, a CNV escreve que Stangl, preso no Brasil em 1967 e extraditado para a Alemanha, foi o “funcionário da Volkswagen do Brasil responsável pela montagem do setor de vigilância e monitoramento” da unidade do ABC paulista.

O aparato acompanhava de perto o dia a dia da fábrica e, especialmente, as atividades sindicalistas consideradas “subversivas”, e estava em constante contato com órgãos da repressão do governo brasileiro na ditadura.

“Existe uma profusão de documentos que comprovam a cooperação da empresa [Volkswgen do Brasil] com órgãos policiais de segurança do Dops”, afirma o texto final da CNV. Uma das provas citadas pela comissão é um relatório enviado ao Dops por este setor de segurança interna da multinacional relatando a atividade sindical. O documento, encontrado nos arquivos da polícia política paulista, apresenta “um resumo” informativo, comunicando, por exemplo, a realização de um comício na portaria da Volkswagen, em 26 de março de 1980 — mais de dez anos depois de Stangl ter sido capturado no Brasil.

Com edição do ANDES-SN

Fonte: Opera Mundi

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