Eventos do ANDES-SN em Mato Grosso pautam casos de assédios contra mulheres

A atividade contra opressões realizada nos campi da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT) de Cuiabá e Sinop, nos dias 5 e 6 desse mês, trouxe para o centro dos debates sindicais a questão da descriminação de gênero, étnico-racial e sexual. Nesses dois dias de ações políticas, estiveram reunidos estudantes, professores e técnico-administrativos em atividades como mesas de discussões, marchas contra opressões, oficina de cartazes e debates com a apresentação da Cartilha de Opressões – Desafio e Possibilidade elaborada pelo ANDES-SN.
As atividades foram organizadas pelo Grupo de Trabalho de Política de Classe para as questões Étnico-Raciais, de Gênero e Diversidade Sexual (GTPCEGDS) da Seção Sindical do ANDES-SN na UFMT (Adufmat SSind.), em conjunto com o GTPCEGDS do Sindicato Nacional, a Regional Pantanal do ANDES-SN e com a Frente de Mulheres na Luta do estado.
Em Cuiabá, a discussão da mesa “Lugar de mulher é onde ela quiser: a participação da mulher no espaço sindical” abordou denúncias de preconceitos e misoginia sofridos por estudantes da UFMT, com o relato de um caso de uma agressão por parte de um técnico-administrativo a um grupo de estudantes que realizou intervenções com cartazes na universidade.
Depois de ouvir o relato das estudantes e ter lido a carta anônima escrita pelo agressor, 1ª secretária da Regional Pantanal do ANDES-SN, Vanessa Furtado, fez observações sobre o tratamento dado às mulheres nos espaços públicos e a naturalização das opressões contra elas. Além disso, chamou a atenção para quando classificamos como “distúrbios” reações de homofobias e machistas presentes em nosso cotidiano.
“Quando elas dizem que essa pessoa tem um distúrbio, eu fico pensando o quanto colocamos na ordem do distúrbio coisas que são do senso comum, fora do âmbito humano! Pois, quando colocamos isso no âmbito da loucura acabamos por desresponsabilizar o humano. A carta expressa o que está posto na sociedade, principalmente a mulher que está num espaço tão masculino como é o sindicato ou como é a política. Muitas vezes fico pensando quantas mulheres nesse espaço sindical precisam se performar masculinamente para serem respeitadas ”, observou Vanessa.
Incomodada com os relatos das alunas, a coordenadora geral do Sindicato dos técnico-administrativos da UFMT (Sintuf), Léia Oliveira, defendeu que a mesa deveria propor medidas concretas quanto ao caso, uma vez que não se trata de um fato isolado. “O assédio que vivemos na UFMT é sofrido por mulheres estudantes, técnicas, mas imagine pelas mulheres terceirizadas? É visível que sofrem todo tipo de assédio, desde o moral ao sexual, quando andam de cabeça baixa ”, comentou.
Instrumento de comunicação
“Lugar de mulher é onde a gente quiser, só que não”, declarou Caroline Lima, coordenadora do GTPCEGDS do ANDES-SN e 1ª vice-presidente da Regional Nordeste 3 do Sindicato Nacional. Ela lembrou que, historicamente, muitos espaços foram negados às mulheres, mas foi a partir das organizações em movimentos sociais, que espaços como a direção de sindicatos começaram a serem ocupados pelas mulheres.
“É imprescindível que o debate classista no Brasil dialogue com as questões de gênero, sexualidade, cultura e raça. Porque nós estávamos em um país escravocrata até outro dia, e ainda temos os aspectos da escravidão em nossa sociedade. Nós ainda não conseguimos romper com muitos marcos da fundação da nação brasileira. Logo, não tem como o movimento sindical não pautar essas discussões, mas é importante lembrar que essas discussões só estão sendo pautadas, porque nós começamos a nos colocar nesses espaços”, avaliou Caroline.
A propagação de uma consciência é fundamental para que políticas públicas sejam feitas para incluir os movimentos feminista, LGBT, indígena e negro, uma vez que eles sempre foram marginalizados. Pensando nisso, o ANDES-SN elaborou a Cartilha de Combate as Opressões. “O material faz um debate do assédio sexual, moral e foi distribuída no 60º Conad do ano passado, em Boa Vista, e já está sendo atualizada. Dessa forma, hoje temos um instrumento para que professores dialoguem com seus pares para que eles compreendam o que é isso”, contou a diretora do Sindicato Nacional.
Ouvidoria
A ausência de canais para a comunicação de casos de opressões dentro da instituição foi questionada pela mesa de debates. As participantes observaram a contradição que existe entre as prerrogativas de reflexão e construção de conhecimento de uma universidade, e a falta de ações políticas voltadas para o combate as opressões.
“Lamentavelmente, a nossa universidade, não tem em sua estrutura, nenhuma instância, nem para denúncias e nem creche, muito menos se debate isso. Em contrapartida, se formos levantar o número de mulheres na estrutura de poder na universidade verificaremos que são a maioria. Elas estão presentes nas pró-reitorias, em coordenações e chefias de departamento, entretanto, essa ocupação não se traduz em políticas institucionais”, observou Léia Oliveira.
Reivindicações
Ao final do debate, os participantes listaram algumas políticas para mulheres que devem ser realizadas dentro da UFMT. Dentre elas estão a criação de uma ouvidoria, a construção de creches, ampliação da rota do Ligeirão – ônibus que circula dentro da universidade -, melhoria da iluminação do campus,  revisão do efetivo de segurança da instituição – com a proposta de incluir mulheres nesta função -, reivindicar o debate do tema Combate às Opressões dentro dos cursos de formações voltados para os profissionais do campus, entre outras. O GTPCEGDS da Adufmat SSind, juntamente com o ANDES-SN, a Coordenadoria Geral do Sintuf e a Frente de Mulheres na Luta, se comprometeu em elaborar um cronograma de atividades e fortalecer a lutar por políticas de inclusão e acolhimento das mulheres da UFMT.
36º Congresso do ANDES-SN
Durante o 36º Congresso do ANDES-SN, realizado no início desse ano na UFMT, docentes e trabalhadoras do evento realizaram uma manifestação, para denunciar casos de machismo e assédio ocorridos durante o Congresso e também na sociedade. As mulheres ocuparam o palco do teatro onde ocorriam as plenárias, com cartazes e faixas, e repudiaram as atitudes de violência de gênero.

*Com edição do ANDES-SN

Fonte: Adufmat SSind.

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