Entre quatro paredes, Paulo Guedes desdenha da educação pública, repete preconceitos e discurso de ódio

7 de maio de 2021
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O ministro da Economia, Paulo Guedes, que foi propagandeado como um “técnico” da equipe do presidente Jair Bolsonaro, segue comprovando que não tem nenhuma diferença em relação aos membros “ideológicos” e extremistas do Governo Federal.

Sem perceber que estava sendo gravado em uma reunião com outros ministros, Guedes falou bobagens dignas de uma competição com os contrassensos do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, considerado o pior da história do país.

Além de ter reclamado que o Fies deu oportunidade de acesso ao ensino superior para pessoas que “não sabiam ler e escrever”, o ministro da Economia insinuou verdadeiras sandices sobre as universidades públicas, como a de que elas fazem “pessoas ensinar sexo para criança de cinco anos” (o que nos leva a questionar por onde o ministro tem andado…) e as resumiu à “maconha, bebida e droga”, repetindo as mesmas mentiras que já renderam a Weintraub uma condenação (e um processo do MPF, que quer cassar os direitos políticos dele) e outra à União.

Guedes também ressaltou que considera a educação privada mais eficiente do que a educação pública.

O curioso é que as falas de Guedes são típicas de militantes extremistas ou de apoiadores incontestes do governo, geralmente ludibriando pelas enxurradas diárias de fake news que acabam moldando sua compreensão de mundo.

Alguém que ocupa uma função tão importante no ordenamento da República e mesmo assim repete essas tolices enquanto fala para outros ocupantes de altos cargos, mostra que a distorção da realidade se tornou padrão na mente deles, ou que eles realmente desconhecem as universidades públicas brasileiras e, por isso, acabam acreditando nas mentiras que eles próprios inventam.

 

Pesquisa e conhecimento X desconhecimento (do governo)

Soa um tanto patético quando Guedes diz que há maior eficiência no ensino superior brasileiro privado.

As universidades públicas são responsáveis por mais de 90% da produção científica brasileira, de acordo com dados da base Web of Science. Entre as 50 universidades que mais produzem pesquisa no país, nada menos do que 46 são públicas. Os professores das universidades estaduais e federais se dedicam não apenas a dar aulas, mas participam de projetos de pesquisa e de extensão, com relevante impacto econômico e social.

É uma questão de não apenas reproduzir o conhecimento voltado a um interesse particular (como é a regra da iniciativa privada), mas de criá-lo, compartilhá-lo e aproximá-lo da sociedade, retornando o investimento que a própria sociedade faz nas universidades públicas.

Se dependesse apenas da iniciativa privada, não haveria produção significativa de conhecimento no Brasil, já que a maioria das instituições particulares não considera o setor lucrativo.

Aliás, na pandemia, foram as universidades públicas as responsáveis por importantes estudos sobre a Covid-19 (que ajudaram o poder público a tomar medidas de enfrentamento ao vírus), e por pesquisas para o desenvolvimento de vacinas e de testes rápidos para diagnóstico da doença, como tem feito a própria UFPR.

Em diversos outros aspectos, há também evidente destaque das universidades públicas. Por exemplo, a parcela de universidades públicas com nota máxima no Índice Geral de Cursos (IGC), um dos indicadores de qualidade do MEC, é quatro vezes maior do que a parcela de instituições privadas que alcançaram esse patamar.

No último Ranking Universitário do jornal Folha de São Paulo, entre as 20 melhores universidades do país, nada menos que 18 eram públicas, quando são avaliados critérios gerais das instituições. Entre as 10 mais bem colocadas, todas são públicas (a UFPR ocupa a oitava posição).

Em sua constrangedora fala, Paulo Guedes confessou que seu desejo é o de simplesmente acabar com universidades públicas no Brasil, manter apenas instituições privadas e dar uma espécie de “voucher” para a população poder custear o ensino superior, o que significaria abrir mão de quase toda a produção científica do país, da excelência de ensino das universidades federais.

Não parecer ser apenas coincidência que a irmã do ministro, Elizabeth Guedes, seja presidente da Associação Nacional de Universidades Privadas (Anup), entidade que representa monopólios educacionais no país, de olho em um potencial mercado “consumidor” formado por milhões de estudantes (só nas federais são mais de 2 milhões).

 

Retórica extremista

Frente a todas os contrassensos do ministro, é cristalino como o atual governo, independente da área de atuação, tem compromisso com a retórica do ódio em relação aos serviços públicos e desdenha do acesso à educação de qualidade.

O ministro, em vez de formular políticas para tirar o país do abismo que ele mesmo ajudou a criar, gasta tempo com discursos para agradar apoiadores extremistas que precisam ser alimentandos constantemente para manter apoio ao governo de Jair Bolsonaro.

Paulo Guedes deveria também dedicar parte de seu tempo para tentar retirar recursos constitucionais da educação (desde que assumiu o ministério da Economia, em 2019, o orçamento de custeio das universidades federais já diminuiu 25%).

Deveria estar preocupado com a profunda crise econômica que assola o país, deixa mais de 14,5 milhões de desempregados e corrói drasticamente o poder de compra dos brasileiros que, em meio à pandemia, ainda veem o preço de produtos básicos como alimentos e combustíveis dispararem.

Paulo Guedes já chamou servidores públicos de “parasitas”, criticou empregadas domésticas que viajavam de avião e, agora, quis deixar claro que o ensino superior não é lugar para “filhos de porteiros”, para citar apenas algumas de suas recentes manifestações públicas execráveis.

A retórica de ódio desse que é considerado um dos principais pilares da atual equipe de ministros, é uma evidência de que o governo Bolsonaro não se importa com a população, não valoriza a educação pública e não tem compromisso com a garantia de sua qualidade e atendimento universal dos serviços públicos.

A APUFPR não irá se calar diante de ofensas infundadas e que só contribuem para o clima de permanente perseguição e descrédito das universidades públicas. A educação de qualidade e a ciência salvam vidas e devem ser valorizadas, principalmente por aqueles que comandam a nação.

A única coisa que Paulo Guedes acertou até agora foi a sua antecipação da catástrofe, quando disse que “se fizermos muita besteira, dólar vai a R$ 5”. Pois é, o dólar já superou esse patamar há mais de um ano….

 

 

Fonte: APUFPR


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