Encontro do ANDES-SN abordou impactos da extração mineral no Bioma Pampa

Os impactos da mineração no bioma do Pampa e para as comunidades locais foram temas do “Seminário Regional Sobre os Impactos dos Projetos de Mineração”, promovido pelo Grupo de Trabalho de Política Agrária, Urbana e Ambiental (Gtpaua) do ANDES-SN, em São Lourenço do Sul (RS), nos dias 5 e 6 de junho. O encontro foi organizado pela Regional Rio Grande do Sul e seções sindicais gaúchas do Sindicato Nacional.
Cerca de 400 pessoas – entre docentes, estudantes, técnico-administrativos, representantes de movimentos sociais, das comunidades indígenas, trabalhadores rurais, ciganos, prefeitos, vereadores, assessores políticos e moradores da região – lotaram o Galpão Crioulo do Camping Municipal. A cidade de São Lourenço do Sul está na Bacia do Rio Camaquã, uma das raras áreas ainda preservadas do bioma Pampa, mas que se encontra ameaçada por um projeto de mineração da empresa Votorantim, de chumbo, zinco e cobre.
Leandro Roberto Neves, coordenador do Gtpaua do ANDES-SN, conta que a diversidade do público garantiu um amplo e qualificado debate. “No Rio Grande do Sul está havendo um processo de especulação da Votorantim para exploração mineral. Só que esse processo vai afetar todo o bioma pampa. O Gtpaua local já vem discutindo essa questão e tem feito um amplo trabalho com os estudantes e com a comunidade local de conscientização. A proposta do evento foi ampliar esse debate, via o próprio GT, mas chamando as universidades e a comunidade. O evento teve a participação de pessoas de vários estados do país, de um representante do Chile, além da palestrante peruana convidada, e da comunidade local”, detalha.
Segundo o diretor do Sindicato Nacional, os debates apontaram, com argumentos científicos, que o empreendimento não é viável, seja do ponto de vista econômico, ambiental, social ou político. “Economicamente não é viável. Socialmente também não, porque afeta a população de uma forma geral, mas, principalmente, as comunidades rurais, a população cigana e os povos originários. E, politicamente, também não se sustenta porque tem certa consonância com o que vem ocorrendo em âmbito federal, que é o fato dessas empresas financiarem campanhas eleitorais e, em troca, os políticos flexibilizam o processo de exploração, mas não isso traz nenhum benefício para as comunidades locais. Isso ficou demonstrado através das exposições. Foi um debate qualificado, que chegou a um consenso de que se deve tentar barrar esse processo de mineração, visto que o Rio Grande do Sul tem um histórico de monocultura e mineração”, explicou.
Após os debates, os participantes se dividiram em grupos de trabalho para elaboração de três cartas – dos prefeitos, da comunidade acadêmica e dos movimentos sociais -, que foram lidos na plenária final, a qual apontou também como encaminhamentos dar ampla divulgação aos documentos, que também serão encaminhados à autoridades públicas, ampliar o diálogo com a população local, dando continuidade à realização de audiências públicas,  e realizar manifestação unificada, relacionando a luta contra a mineração e em defesa do bioma do pampa, com as contrarreformas que estão ocorrendo no âmbito federal e estadual.
“A luta tem que ser unitária e conjunta, contra as reformas previdenciária, trabalhista e a reforma, já aprovada do código florestal, que flexibilizou o processo de licenciamento ambiental. Ou seja, é uma luta local, mas que não pode estar dissociada da pauta nacional”, concluiu.
Os debates
A primeira mesa redonda, na segunda-feira (5), teve como tema “Impactos da Mineração na América Latina”, com a professora Adriana Peñael (FURG –Campus São Lourenço do Sul) e com a participação especial de Ana Maria Llamoctanta Edquen, presidente de base dos Círculos de Mulheres Camponesas do povoado de El Tambo, no Peru. No povoado está localizada a Mina de Yanacocha, maior mina de ouro da América do Sul e segunda maior do mundo, e é operada por um consórcio que inclui uma empresa estadunidense, uma peruana e um órgão do Banco Mundial. Os movimentos sociais peruanos lutam contra os impactos da atividade de mineração na região, entre os quais está a contaminação por metais pesados.

Em seguida, teve lugar a mesa “Mineração e Sociobiodiversidade no Pampa: o que está em jogo?”, com os palestrantes Flávia Silvia Rieth (UFPel); Marcos Flávio Silva Borba (Embrapa/Bagé) e Paulo Brack (UFRGS).
Marcos Flávio Silva Borba ressaltou que os grandes projetos de mineração, os quais poderão ser implantados em regiões como as de Caçapava do Sul, Lavras do Sul, São José do Norte, não se resumem a uma disputa econômica. Passam por uma concepção de mundo de que é possível destruir uma bacia hidrográfica, como é o caso do Rio Camaquã, ou corromper um ecossistema, como é o caso de São José do Norte, para a extração de minerais que serão exportados para outros países, ou seja, uma forma de “neocolonialismo”.
O biólogo Paulo Brack destacou que o projeto da Votorantim Metais para exploração de zinco, chumbo e cobre, em Caçapava do Sul, poderá se dar em cima de uma área considerada “prioritária para a biodiversidade”, conforme o próprio Executivo federal. No caso das hidrelétricas mais recentes, Brack comentou que 2/3 delas foram planejadas e construídas em áreas de biodiversidade.
Conformes os números apresentados por Brack, o projeto da Votorantim pretende minerar na região de Caçapava do Sul ao redor de 36 mil toneladas de chumbo ao ano, 16 mil toneladas de zinco também anualmente, além de 5 mil toneladas ao ano de cobre.
O biólogo explicou que a extração de chumbo, que junto com os outros produtos, é considerado um metal pesado, causa não apenas uma poluição simples, mas poderá contaminar rios e nascentes d’água, gerando problemas para a fauna, flora e o próprio ser humano, pois no momento em que é ingerido, tem efeito cumulativo no organismo, se localizando nos rins e no fígado. Na avaliação do professor, a relação custo-benefício entre instalar uma empresa de mineração com o argumento de que vai gerar empregos, movimentar a economia, não é compensatório.
Especificamente em relação ao pampa gaúcho, a professora da área de Antropologia da Ufpel, Flávia Silvia Rieth, enfatizou justamente a importância de que projetos econômicos, como os de mineração, não  podem ser responsáveis pela implantação de um modelo que violente a história e a cultura de uma região. Para a professora, o pampa deve ser pensado a partir de seus protagonistas sociais, entre os quais ela inclui, desde o pecuarista familiar, passando por indígenas e quilombolas, que ainda hoje vivem às margens do Rio Camaquã, que poderá ser assassinado por projetos que devastarão o meio ambiente.
No dia seguinte, pela manhã, ocorreu a mesa “A Mineração na Metade Sul do Rio Grande do Sul”, com Luiz Bravo Gauterio (gestor ambiental e vereador em São José do Norte), que destacou a luta contra o projeto de extração de titânio, que ameaça solo e comunidades regionais; Jaqueline Durigon (Gtpaua da Aprofurg SSind.), que trouxe detalhes sobre o projeto da Votorantim Metais em relação à extração de minérios como chumbo e zinco na bacia do Camaquã; e Marcílio Machado Moraes (Unipampa/Bagé), que destacou os impactos do projeto para extração de fosfato no interior de Lavras do Sul, pela empresa de origem australiana, Águia Metais.
No período da tarde, os participantes se dividiram em grupos de trabalho, para elaboração das cartas que serão divulgadas posteriormente.

*Com informações e fotos da Sedufsm SSind.

Fonte: ANDES-SN

 


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