Em todo o país, mulheres dizem não ao conservadorismo

2 de outubro de 2018

Milhões de mulheres de todo o país disseram não ao machismo, ao racismo, à LGBTfobia e ao recrudescimento do conservadorismo. As manifestações ocorreram no sábado (29), em mais de 200 cidades brasileiras, em 26 estados e no Distrito Federal. Os docentes das instituições de ensino atenderam ao chamado do ANDES-SN, via seções sindicais e secretarias regionais, e se somaram às mobilizações.
As manifestantes portavam cartazes, camisetas e bandeiras com frases sobre a luta contra o machismo, a LGBTfobia e o racismo. Também houve adaptações de músicas como a canção italiana “Bella Ciao”, hino da resistência guerrilheira contra o fascismo de Benito Mussolini, durante a Segunda Guerra Mundial.
A mídia comercial e as polícias tentaram diminuir a magnitude do ato, porém as imagens divulgadas nos telejornais e redes sociais mostraram o contrário. No Rio de Janeiro (RJ), por exemplo, o movimento organizado pelas mulheres reuniu mais de 200 mil pessoas. A concentração foi na Cinelândia e os manifestantes se dirigiram para a Praça XV, também no centro da capital fluminense. Um palco foi preparado para apresentações teatrais e shows. A comunidade acadêmica das universidades federais Fluminense (UFF) e do Rio de Janeiro (UFRJ) estiveram presentes no ato.
Em São Paulo, a concentração ocorreu no Largo da Batata e o ato contou com mais de 500 mil pessoas. Já em Brasília, as manifestantes saíram da Rodoviária do Plano Piloto e caminharam pelo Eixo Monumental até a Torre de TV, ponto turístico da capital federal. Mais de 60 mil pessoas participaram. Nas capitais Salvador (BA), Recife (PE), Fortaleza (CE) e Belo Horizonte (MG) mais de 100 mil pessoas participaram de cada uma das manifestações. Em Porto Alegre (RS) a participação estimada é de 25 mil. Houve grandes atos no interior do país com participação de dezenas de milhares de pessoas, em cidades como Juazeiro do Norte (CE), Campina Grande (PB) e Campinas (SP).
Em Curitiba, no Paraná, estima-se que mais 50 mil pessoas participaram do ato, que se concentrou em frente à faculdade de direito da Universidade Federal do Paraná (UFPR). Em Maringá (PR), a comunidade da Universidade Estadual de Maringá (UEM) participou da mobilização que contou com a presença de mais de 5 mil pessoas. Em Pelotas (RS), a população ocupou o largo do Mercado Público contra o fascismo.
Em Santa Maria (RS), mais de 10 mil pessoas marcharam no centro da cidade, na maior manifestação popular da cidade desde junho de 2013. A comunidade acadêmica da Universidade Federal de Santa Maria (RS) se somou ao ato, assim como os docentes de diversas instituições de ensino do país que estavam na cidade gaúcha para participar de eventos que o ANDES-SN organizou no final de semana: o Seminário sobre Capacitismo, o painel sobre o Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta pela Descriminalização do Aborto  e as reuniões de Grupos de Trabalho do Sindicato Nacional.
Avaliação
Mariana Trotta, 1ª vice-presidente da Regional Rio de Janeiro do ANDES-SN, disse que as ideias fascistas precisam ser freadas e que elas andam de mãos dadas com as políticas de ajuste fiscal, de desmonte dos serviços públicos e da eliminação de diretos trabalhistas, previdenciários e sociais. “Sempre defendemos a universidade pública e os serviços públicos, não podemos deixar de fazer isso agora”, afirmou.
Caroline Lima, 1ª secretária do ANDES-SN participou do ato em Santa Maria (RS). “Esse evento superou, com certeza, as expectativas. E houve um elemento presente em todos os atos: o ato era contra um projeto. Nas falas e nos cartazes, não só a defesa da democracia, mas a luta contra o fascismo e como a população é contra o projeto neoliberal e privatista que tem um caráter conservador”, disse.
Ela criticou a cobertura da mídia comercial que omitiu as manifestações e, em alguns casos, divulgou números errados sobre a participação de manifestantes. “Estão tentando esvaziar politicamente o que foi o dia 29 de setembro e não conseguiram. Apesar das manifestações não terem tido destaque nas televisões e nos jornais, as redes sociais e a mídia alternativa foram importantes para desmentir a essa omissão”, completou Caroline.
Qelli Rocha, 1ª vice-presidente do ANDES-SN, conta que em Mato Grosso, além de Cuiabá,  foram realizados em cidades do interior, como Barra do Garças e Sinop. “Na capital Cuiabá a manifestação foi massiva. Seis mil mulheres participaram do ato, o que para o Mato Grosso é uma grande conquista. Vivemos em um estado bastante conservador, marcado pelo agronegócio. O ministro da agricultura é daqui, por exemplo”, comenta.
“Uma grande vitória desta ação política foi que ela começou com as mulheres e logo houve adesão da sociedade em geral. Estamos em constante vigília neste processo eleitoral e conseguimos denunciar o processo fascista em curso na América Latina, principalmente no Brasil. Conseguimos que a grande mídia pautasse as nossas reivindicações, a manifestação e o posicionamento contrário à misoginia, LGBTfobia e todas as formas de opressão. Conseguimos construir um movimento unitário, que agregou desde torcidas de futebol a partidos políticos. Um processo complexo da sociedade que está se materializando em uma grande vitória, principalmente no movimento de mulheres”, completa Qelli.
Raquel Araújo, 1ª tesoureira do ANDES-SN, afirma que a manifestação em Fortaleza foi a maior desde a Greve Geral de 24 de abril de 2017. “Foi um ato muito importante, as mulheres saíram muito fortalecidas”, disse. “Eu participei do ato em Santa Maria (RS) e as organizadoras apontaram que foi o maior ato desde junho de 2013. Uma cidade relativamente pequena, mas com um ato muito grande. Foi um marco para a cidade”, comenta a docente.
Raquel argumenta que os atos superaram as expectativas em todo o Brasil e que eles expressaram muito mais do que a rejeição a um ou outro candidato. “Os atos foram um repúdio das mulheres ao avanço das ideias conservadoras, reacionárias, que expressam a opressão sobre mulheres, negras e negros, LGBTs. Por isso houve tanta adesão”, defende.
Para a docente, os atos materializaram o repúdio e uma vontade de lutar contra todas as formas de opressão, inclusive contra o fascismo, e em defesa das liberdades democráticas. “Foi o fenômeno mais importante que ocorreu nesse processo de eleições gerais no país”, avalia a 1ª tesoureira do ANDES-SN. “As pessoas saíram do ato não apenas fortalecidas para lutar, mas reconhecendo que as movimentações de rua são as que fazem a diferença. Saíram embaladas por um sentimento de esperança de que um futuro melhor é possível”, completa Raquel.
Exterior
As manifestações ocorreram também no exterior. Ocorreram atos em cidades como Nova Iorque (EUA), Viena (Áustria), Milão (Itália), Londres (Reino Unido), Paris (França), Berlim (Alemanha), Barcelona (Espanha), Porto, Coimbra e Lisboa, em Portugal, e Buenos Aires (Argentina).
 

Fonte: ANDES-SN

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