Docentes da Unila sofrem ameaças para cercear eventos acadêmicos

6 de dezembro de 2017

Docentes da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) foram ameaçadas na últimas semana, por organizarem, na universidade, a atividade “Corpo, Arte e Política”. Na divulgação do evento nas redes sociais, as pesquisadoras usaram fotografias da performance de Ana Mendieta, artista que denunciava as opressões contra as mulheres e que acabou sendo vítima fatal da violência doméstica.

As docentes foram ameaçadas pelas redes sociais – tanto de forma aberta quanto por mensagens privadas. Em nota, a Seção Sindical do ANDES-SN na Unila (Sesunila SSind.) denunciou as ameaças e repudiou qualquer tipo de ameaça e cerceamento de pesquisas, projetos de extensão e práticas de ensino por parte de pessoas e/ou grupos conservadores, que tenha por objetivo impedir de realizar o evento e cercear a liberdade de produção acadêmica e intelectual. “Lutamos contra a censura e pela construção de espaços democráticos que estejam livres do racismo, do fascismo, da misoginia, das violências e opressões. Lutamos pelo respeito à diversidade de opiniões e de identidades”.
A seção sindical lembrou ainda outros casos de perseguições sofridas em universidades públicas, como os casos das universidades Federal de Ouro Preto (Ufop), onde foi aberto inquérito policial contra um professor que pesquisa a Liga dos Comunistas, Federal da Bahia (UFBA), onde docentes que promovem estudo de gênero foram ameaçadas, na Federal do Pará (UFPA), quando, na semana passada, um evento que discutiria os impactos de uma mineradora na região foi invadido por um grupo liderado por políticos locais e os participantes ameaçados, incluindo a professora organizadora do evento e da pesquisa.
Francieli Rebelatto, presidente da Sesunila SSind., disse que, apesar das ameaças, o evento “Corpo, Arte e Política” foi realizado sem nenhuma intervenção e com grande participação. “O evento lotou, pois as ameaças serviram para divulgá-lo”, contou. De acordo com Francieli, as docentes irão registrar boletim de ocorrência contra as pessoas que as ameaçaram, sendo que algumas das intimidações partiram de pais de estudantes da Unila. Ainda de acordo com a presidente da seção sindical do ANDES-SN, a reitoria não se manifestou sobre o caso.
Outro caso de intimidação
Francieli relatou, ainda, outro caso de intimidação, envolvendo uma professora do curso de licenciatura de História, que solicitou da reitoria a disponibilização de um ônibus para transportar os estudantes para uma audiência pública na Câmara de Vereadores, realizada também na sexta-feira (1), sobre projetos que pretendem instituir a censura na educação pública, em especial o debate sobre ideologia de gênero. A docente achou pertinente, enquanto atividade de ensino, a participação os estudantes na audiência. No entanto, a reitoria recebeu ameaças de pessoas, externas à universidade, por liberar o ônibus, as quais disseram, segundo a presidente da Sesunila SSind., que registrariam denúncia no Ministério Público contra a instituição por uso de recursos públicos para uma atividade que não estava relacionada ao ensino. Diante da pressão exercida sobre a docente, que está em estágio probatório, a mesma retirou a solicitação.
De acordo com Francieli, a seção sindical segue denunciando as ameaças, oferecendo suporte político e assessoria jurídica. “Estamos também realizando debates para dialogar com os docentes sobre como vamos atuar, enquanto educadores, frente a essas situações e pensar, coletivamente, como nos posicionar. O primeiro debate foi realizado em 10 de novembro e o objetivo é dar continuidade ao diálogo com a categoria”, completou.

Imagem: Ana Mendieta – Sem título (Blood Sign #2 / Body Tracks) – 1974

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Fonte: ANDES-SN


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