Debate sobre gênero, raça e classe marca abertura de Seminário Integrado do GTPCGEDS

25 de agosto de 2017

Com a apresentação “A Reminiscência dos Tambores do Corpo”, com o artista Daniel Amaro, teve início na manhã dessa quinta-feira (24), o Seminário Integrado do Grupo de Trabalho de Políticas de Classe para questões Étnico-raciais, Gênero e Diversidade Sexual (GTPCGEDS), em Pelotas (RS). Na sequência, foi apresentado o vídeo da campanha contra o assedio sexual, lançada pelo Sindicato Nacional, no mês de julho, durante 62º Conad.

Na sequência foi composta a mesa de abertura do encontro, com representações do Sinasefe IF-Sul, da Asufpel, do DCE/Ufpel, da Adufpel, Seção Sindical do ANDES-SN que sedia o evento, e do ANDES-SN, que saudaram os participantes e destacaram a importância da atividade.

A conferência “Gênero, Raça e Classe: uma discussão interseccional”, com Eblin Farage, presidente do ANDES-SN, e Claudia Durans, 2ª vice-presidente do Sindicato Nacional, abriu os debates do Seminário Nacional, que congrega o III Seminário Nacional de Mulheres, o II Seminário Nacional de Diversidade Sexual e o II Seminário de Reparação e Ações Afirmativas.

A necessidade de reconhecer e ‘descamuflar’ as opressões, tanto na sociedade e também no movimento sindical, para introduzir e enraizar esse debate no cotidiano dos docentes e fazer o combate às diferentes opressões, que recaem sobre a classe trabalhadora, foi ressaltada pelas conferencistas.

Eblin Farage destacou que outra sociabilidade não será possível se não for incorporada, no debate sindical, a discussão de gênero, raça e diversidade sexual. “É importante que nós, sindicalistas, nos desafiemos nesse debate. Não pode existir hierarquia entre debates. É necessário que haja intersecção para a emancipação da classe trabalhadora. Pois não é possível a emancipação das mulheres, dos negros, das negras e LGBTS sem a superação do Capital”, destacou.

Ela afirmou que é importante identificar a nossa história de desigualdade e opressão, para definir o horizonte da luta: uma sociedade igualitária que supere todas as formas de opressão e desigualdade. “A indiferenças não nos ajudam a superar a ordem do Capital, que oprime qualquer segmento. Precisamos identificar e ter como horizonte a superação, pois visamos à emancipação do ser humano”, disse , afirmando que o ponto de partida tem que ser o histórico de opressões que mulheres, negros, negras, quilombolas, indígenas sofreram.

A presidente do ANDES-SN ressaltou que, muitas vezes, as bandeiras das igualdades são incorporadas pelo capitalismo como algo útil, e são, ainda, mercantilizadas, pois podem até ser discutidas na lógica do Capital, desde que desligadas da lógica de classe. Ela destacou ainda que não é à toa que projetos conservadores e reacionários como o Escola Sem Partido, o estatuto do Nascituro, o Marco Temporal, os movimentos neonazistas, entre outros, avançam em nossa sociedade. “Cada vez que reagimos à opressão de classe ou às opressões específicas – aos negros, mulheres e aos lgbts -, o Capital também reage. Quando avançamos nesse debate sob uma perspectiva classista, o capitalismo vem sobre nós”, alertou.

Saudou, ainda, o fato do Sindicato Nacional construir a campanha de combate ao assédio sexual. “Não é pouca coisa reconhecer que nós, professores, somos assediadores, e que nós mulheres sindicalistas não reconhecemos o assedio ou não tivemos coragem de denunciar, pois é lógico que não começou agora. É fundamental reconhecer o assédio, introduzir o debate no nosso cotidiano, produzir material, e trazer homens mulheres, negros, negras lgbts para o debate”.

“Da mesma forma, nós não podemos ser indiferentes ao debate de gênero e raça. Não é tarefa só das mulheres, dos gays e dos negros, é uma tarefa do conjunto do sindicato fazer o enfrentamento”, concluiu.

Reforçando a importância de fazer esse debate entre a categoria docente, a diretora Claudia Durans ressaltou que a universidade concentra todas as cargas de opressão e citou exemplos de casos de estupro, racismo e lgbtfobia no ambiente acadêmico.

A 2ª vice-presidente do ANDES-SN contou da experiência que viveu no Haiti, quando acompanhou, pelo Sindicato Nacional, uma missão da CSP-Conlutas àquele país após o terremoto que devastou o lugar. “Eu tive a honra de compor a delegação e lá sentir uma sociedade que realizou a primeira revolução de escravizados no mundo. A altivez e luta daquele povo, mesmo na condição de completo desastre, foi impressionante”, relatou.

Claudia acrescentou o relato de uma professora haitiana, doutoranda no Brasil que, durante o 1º Congresso da CSP-Conlutas, declarou que antes de chegar ao Brasil se identificava só como mulher e aqui no Brasil se entendeu como mulher negra. “Aqui no Brasil nossa identidade vem de fora, nós somos marcadas pelo nosso processo histórico que é definido pela nossa cor e pelo nosso fenótipo”, refletiu.

“Falamos de opressão, das mulheres, negros e lgbts, mas precisamos da interseccionalidade, pois onde eu fico? Como mulher negra no movimento?”, questionou, ressaltando a interdependência do debate de gênero, raça e classe.

Para a docente, é necessário que o movimento feminista se contraponha a uma visão de ciência, de neutralidade e objetividade, a partir da perspectiva de quem constrói o conhecimento, ou seja, homens, brancos, de classe dominante, heteronormativos. “Essa interseccionalidade, ou consubstancialidade na perspectiva de gênero e classe, busca da apreensão das opressões e desigualdades na perspectiva da não hierarquização e na perspectiva classista. Não basta ser mulher, tem a perspectiva da raça e da classe”, acrescentou.

Claudia abordou ainda como o capitalismo se expandiu para o mundo através da exploração e violência. Por quase 400 anos, a riqueza do Brasil foi produzida pela força de trabalho escravizada de negros, negras e indígenas. Ao citar o autor Antonio Sérgio Alfredo Guimarães, refletiu sobre o fato de que as pessoas só têm cor no interior de ideologias racistas. “Nós temos essa marca do processo de coisificação do povo negro”, completou a 2ª vice-presidente do ANDES-SN.

Segundo ela, por mais que reconheçamos o machismo e o patriarcado, o mito da mãe zelosa do lar não cabe para as mulheres negras. “A mulher negra não cabe nesse lugar, pois o que tivemos, historicamente, foi a negação de sermos mulher, negação do direito à maternidade, inclusive como uma tática para desagregar a luta do povo negro. As mulheres negras eram caracterizadas como objetos sexuais na escravidão, o que depois se reproduz com as empregadas domésticas, para proteger o papel da mulher branca, de mãe zelosa, virgem e pura”, destacou, ressaltando que o debate de libertação da mulher negra, não se enquadra no feminismo burguês.

A conferencista apresentou dados que apontam o genocídio, feminicídio e encarceramento da população negra no país. De acordo com ela, mais de 60% da população carcerária é negra, e enquanto índice de feminicídio diminuiu em 10% entre as mulheres brancas, aumentou 54% entre as negras. “Há uma política genocida para a população negra nesse país”, completou.

Claudia concluiu destacando que esse quadro coloca, do ponto de vista classista, que as classes são radicalizadas, porque os negros e as negras são em geral, pobres e miseráveis. “Isso significa dizer que, na guerra social, é muito difícil a conciliação de classes. O que estamos fomentando é uma política que busque uma sociabilidade superior, que coloque em pauta as reivindicações das mulheres negras, dos pobres. Nossa luta tem que ser de raça e de classe. Claro que temos momentos de pauta única, mas a sororidade não será possível na sociedade burguesa, garantindo os privilégios para uns, e para outros não”, finalizou, recitando o poema de Nicinha Durans, Revolta Direcionada.

O Seminário Nacional Integrado do GTPCEGDS acontece na Escola Técnica João XXIII, em Pelotas (RS) e tem continuidade na tarde dessa quinta (24) com o III Seminário Nacional de Mulheres, e segue até sábado (26) com os debates do II Seminário Nacional de Diversidade Sexual e do II Seminário de Reparação e Ações Afirmativas.

Fonte: ANDES-SN


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