De baboseiras à corrupção: cai mais um ministro da educação

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De baboseiras à corrupção: cai mais um ministro da educação

Poucos dias após o presidente Jair Bolsonaro declarar que colocaria “a cara no fogo” pela honestidade de seu ministro da Educação, Milton Ribeiro, o governo perde seu quarto (quase quinto) titular da pasta, acuado pelas denúncias de sua participação em um esquema de corrupção envolvendo verbas públicas, troca de favores e pedidos de propina em barra de ouro.

Pressionado pelo Centrão e pela bancada evangélica, que busca se desvencilhar do ministro que já foi seu aliado de primeira ordem, o Governo Federal contabiliza agora quatro ministros da Educação afastados por desvios diversos ou por pura incompetência.

Trata-se de apenas mais um exemplo não só de como o governo de Jair Bolsonaro está longe de ter “acabado com a corrupção”, como suas milícias digitais gostam de alardear, mas também de como ministérios fundamentais, como o de Saúde e o de Educação, viraram um balcão de negócios de um governo sem qualquer compromisso com o bem público.

 

Cinco ministros demitidos em menos de quatro anos

Com a demissão de Milton Ribeiro, a gestão de Bolsonaro irá para seu quinto (quase sexto) ministro da Educação. Cada um dos indicados anteriores permaneceu no cargo, em média, 296 dias, nem um ano.

Pelo ‘nível’ dos ocupantes do cargo no atual governo, fica a dúvida se a falta de qualificação é realmente o pré-requisito principal para a escolha, junto com a capacidade de falar bobagens, articular esquemas fora da lei ou qualquer coisa que fira o Estado Democrático de Direito.

O primeiro dos escolhidos por Bolsonaro foi o inexperiente e inexpressivo Ricardo Vélez Rodriguez, que ficou apenas três meses no cargo e sequer dominava a língua portuguesa (era colombiano e olavista).

Ele foi substituído pelo “economista” Abraham Weintraub (que havia saído do sistema financeiro por ‘resultados insatisfatórios, ou seja, incompetência, segundo colegas), que bateu todos os recordes de pronunciamentos absurdos e que, além de repetir a incompetência do emprego anterior, ainda fugiu do Brasil com medo de ser preso por organizar atos contra a Democracia (sua exoneração aconteceu quando ele já estava nos Estados Unidos). É considerado o pior de todos os tempos.

O quarto dos ministros da Educação de Bolsonaro durou apenas cinco dias no cargo: Carlos Alberto Decotelli teve que pedir demissão após ter sido acusado de plágio no mestrado e de mentir em seu currículo, fato que é a cara de um governo no qual a mentira é uma das principais ferramentas políticas. Ficou conhecido como “o Breve”.

Em seguida, Bolsonaro escolheu o empresário Renato Feder, que ocupava a Secretaria de Estado da Educação no governo paranaense de Ratinho Jr, onde já colecionava lambanças. Apesar de agir com truculência no Paraná, ele foi descartado pelas alas mais radicais do governo Bolsonaro. Por ter sido preterido duas vezes (seu nome havia sido aventado antes de Decotelli), é chamado de “Quase ministro” (ou, o equivalente a meio ministro).

Para completar esse time de “superstars da incompetência”, Milton Ribeiro foi o último escolhido. Credenciado por suas “conexões” com o mundo religioso, Ribeiro também buscou se aproximar do Centrão, e prometia uma gestão com menos polêmicas e desgastes midiáticos. Não foi o que aconteceu.

 

Quem fica com a chave do cofre?

No início de sua gestão, Ribeiro seguiu um caminho diferente de seus antecessores. Era quase invisível. Durante meses, parecia que o Ministério não tinha titular. Mas então começaram surgir indícios de incapacidade de gestão e de favorecimento a pessoas próximas, com cargos importantes sendo distribuídos para pessoas sem qualificação.

Quando começou a bambear, mudou a estratégia e passou a promover a agitação midiática de seus antecessores, com declarações despropositadas como a defesa do ensino superior “para poucos” e comentários que desrespeitaram estudantes com deficiência, entre muitas outras barbaridades. Além disso, corroborou o negacionismo criminoso durante a pandemia e os cortes de verba do presidente Bolsonaro, enquanto abandonou a educação nos diferentes níveis. Seu foco eram pautas como escolas cívico-militares e o homeschooling, que são “cavalos de troia” para agradar setores extremistas anti-educação.

Mesmo sem apresentar resultados positivos, mantinha-se no cargo de forma relativamente estável porque tinha apoio da primeira-dama e da ala radical do fundamentalismo religioso do governo. Mas isso durou até a divulgação, pela imprensa, de que dois pastores sem cargo oficial no Ministério definiam a agenda do ministro e também intermediavam, em troca de propinas, a destinação de recursos federais para prefeitos.

As primeiras informações do escândalo foram divulgadas quando o jornal O Estado de São Paulo revelou a atuação dos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura no MEC. Participando de eventos públicos como se fossem autoridades, os religiosos intermediavam reuniões e definiam para quem eram destinados milhões de reais de dinheiro público da Educação.

Posteriormente, reportagens revelaram um áudio de Milton Ribeiro, no qual ele não só explicita sem nenhum constrangimento que privilegia “os amigos” dos pastores, como diz que agia assim por orientação direta de Jair Bolsonaro que, segundo o então ministro, havia solicitado que atendesse aos “pedidos especiais” dos pastores.

Investigações revelaram também que os pastores pediam propina aos prefeitos com quem se reuniam, chegando a pedir que parte desses pagamentos ilícitos fossem feitos em barras de ouro (uma forma de não deixar rastros em contas bancárias).

Para não desagradar a base fundamentalista, Bolsonaro fez um esforço para tentar limpar a barra de seu ministro. Mas novas revelações terminaram por derrubar os argumentos governistas e as estratégias de defesa de Ribeiro.

Por mais que o ministro tenha se desligado do governo, buscando não ferir ainda mais a campanha de Bolsonaro à reeleição, o estrago já está feito.

Espera-se agora que a Justiça cumpra suas funções e investigue a fundo todas as ramificações deste escândalo, que tem raízes no Palácio do Planalto, com fortes indícios de participação do ocupante da cadeira de presidente.

 

Novo ministro

O governo indicou como novo ministro Victor Godoy, que é auditor federal de finanças e controle da Controladoria-Geral da União (CGU), onde trabalhou desde 2004 até ser convidado ao cargo de secretário-executivo do MEC, em julho de 2020.

A questão é: se ele era o braço direito de Ribeiro, não sabia de nada do que estava acontecendo no MEC?

 

Fonte: APUFPR


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