Como a paranoia infantilizada da “ameaça comunista” ainda é usada para enganar a população?

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Como a paranoia infantilizada da “ameaça comunista” ainda é usada para enganar a população?

Segundo uma das definições mais aceitas no campo da psiquiatria, a paranoia é uma doença crônica caracterizada por um fluxo de distúrbios na personalidade e de delírios e alucinações. Entre estes, incluem-se os delírios persecutórios (de perseguição) e de grandeza, e a hipocondria (consumo excessivo de medicamentos).

Apresentar sinais de paranoia não é nenhuma vergonha, é uma condição que requer acolhimento e tratamento adequados. O problema surge quando grupos políticos usam o medo e estimulam paranoias como armas políticas para chegar ao poder e permanecer nele (ganhando algo no meio do caminho).

É o que vivemos hoje com o governo Bolsonaro e sua base extremista, que ressuscitaram “o fantasma do comunismo” dos tempos da Guerra Fria, de forma descabida e até infantilizada, para fazer valer seus interesses mesquinhos e prejudiciais à maioria da sociedade.

Espalhar o medo de uma “ameaça comunista” é como fazer crianças menores acreditarem que o bicho-papão vai sair do armário, que o homem-do-saco leva embora crianças malcriadas ou que um filho não é bom menino porque faz xixi na cama. Não é racional, mas ainda engana muita gente por aí.

 

Paranoia anticomunista é o novo ‘Cavalo de Troia’

No universo das paranoias anticomunistas, existem dois grupos envolvidos: os que criam e espalham as mentiras, e os que consomem e acreditam nelas. É preciso ter em mente, já de início, que as pessoas que criam paranoias anticomunistas e as usam como arma política, geralmente, não acreditam nessas mentiras que elas mesmas elaboram (guarde essa informação, falaremos sobre isso mais adiante neste texto).

É um subterfúgio. Você conhece a mitologia grega sobre o Cavalo de Troia, aquele gigante feito de madeira que os gregos teriam dado para os troianos como “símbolo da vitória” na guerra entre os dois povos? No final, era uma enganação, porque aquele falso monumento foi colocado para dentro das muralhas fortificadas da cidade-Estado de Troia, mas no interior do cavalo estava o exército grego que, dessa forma, conseguiu entrar e derrotar os troianos ‘por dentro’.

Pois bem. A paranoia anticomunista é o Cavalo de Troia dos tempos atuais. É engodo, tapeação, cilada, charlatanismo, arapuca, armadilha. Enfim, uma enganação.

Por quê?

Bem, primeiramente, espalhar essas mentiras esconde as intenções das camadas mais ricas da sociedade (as tais “elites”), a quem interessa acumular riquezas e, quando possível, poder político (visando, novamente, acumular ainda mais riquezas).

Eles sabem que a imensa maioria das pessoas não pretende, espontaneamente, dar dinheiro e poder a quem já tem muito. Sabem também que, geralmente, a população não concordaria com projetos que retiram direitos (trabalhistas, civis e sociais), reduzem salários e impedem que as pessoas tenham acesso a uma vida mais digna. Muito menos com a entrega do patrimônio brasileiro a preço de banana para mãos estrangeiras.

Por isso, aqueles setores ‘poderosos’ entram na política ou financiam políticos, blogueiros, youtubers, pseudojornalistas, comentaristas, marketeiros, milícias digitais, sites de fake news, agrupamentos radicais, líderes religiosos, influencers, facções extremistas e até emissoras de rádio e televisão para defender suas pautas “custe o que custar”.

Mas, como dissemos, não é tão fácil assim conseguir apoio da população a propostas que só beneficiam os mais ricos. Por isso, eles precisam esconder seus reais interesses. É aí que entram com o ‘Cavalo de Troia’ na vida das pessoas, tratando de temas variados e que, muitas vezes, são sensíveis para as pessoas.

 

O “pulo do gato”

Para ganhar seguidores ou votos, os oportunistas precisam se “conectar” às pessoas de certos segmentos da sociedade que são mais propensos a acreditar com facilidade em teorias conspiratórias sem refletir muito. Por isso, focam seu discurso em questões polêmicas e, geralmente, cercadas de tabus, medos e preocupações exageradas.

Misturam religião, família, questões sexuais, morais e de gênero num mesmo balaio, e fazem as pessoas acreditarem que terríveis ameaças pairam sobre esses temas. Novamente, o medo é impulsionador de comportamentos fora “do normal”, e isso cai muito bem no jogo político deles.

Por medo, pessoas abrem mão de princípios básicos de civilidade e acabam ficando suscetíveis a outras pautas que são – essas sim – as que realmente interessam às elites que patrocinam as paranoias.

Veja, não é coincidência que essas mesmas pessoas apoiam ou, no caso de políticos, votam em projetos que prejudicam a população ou que basicamente direcionam recursos e benefícios para aquelas camadas mais ricas e já privilegiadas.

Mas é preciso dar uma cara a tudo isso, afinal, é difícil fazer as pessoas acreditarem que precisam enfrentar algo abstrato. E é aí que eles resgatam as velhas paranoias da tal “ameaça comunista”.

O passo seguinte é juntar todas as questões sensíveis para aqueles setores da população e resumir como “comunismo”, fazendo com que a expressão pareça um xingamento.

Depois que as pessoas acreditam que essa é a “maior ameaça” que pode existir (sem nem fazer ideia do que se trata), elas se tornam simpatizantes daqueles oportunistas que dizem que são os únicos que podem protegê-las desse ‘perigo’ (que, na verdade, não existe). Assim, passam a apoiar qualquer pauta que eles defendem.

E é aí que se finaliza o “pulo do gato”: depois de conquistar uma audiência fiel que acredita na falsa mensagem de salvação, esses oportunistas passam a convencê-los das pautas econômicas, que são aquelas que realmente lhes interessam (e a quem os patrocina).

No final, a imensa maioria dos eloquentes defensores de pautas moralistas não passa de charlatões demagogos e hipócritas. Só que eles descobriram como enganar milhões de pessoas.

Como diria a expressão em inglês: it´s all about money (é tudo sobre dinheiro).

 

Mas e o tal comunismo?

Na verdade, a imensa maioria das pessoas que têm ‘medo do comunismo’ nem faz ideia do que se trata. E nem que não existe uma só concepção. São muitas visões porque é um conceito teórico, e não uma receita de bolo.

Portanto, nosso objetivo não é explicá-las e, muito menos, apresentar qualquer tipo de defesa. Apenas mostrar que as polêmicas só existem porque servem para enganar uma parcela da população.

Então, de forma resumida (mas muito resumida mesmo), as concepções estão geralmente ligadas a ideia de ausência da divisão de classes e da propriedade privada dos meios de produção. Portanto, são concepções de bases mais econômicas do que ‘morais’.

Todas as demais questões que recebem críticas dos radicais são construções históricas e sociais que vão sendo elaboradas ou alteradas de acordo com o tempo, a conjuntura e a realidade do momento.

Por exemplo, direitos (humanos, civis, trabalhistas e sociais) que estão consolidados há muito tempo em certos países ‘mais desenvolvidos’, mesmo naqueles que são administrados por governos conservadores, por aqui são chamados de “coisa de comunista” (novamente, como se fosse um xingamento).

Para os radicais, igualdade, fraternidade, solidariedade, empatia e sororidade também são “coisa de comunista”, assim como o combate ao racismo e a luta contra desigualdades.

Mas o que importa para as “elites” daqui é impedir o avanço de concepções que possam ameaçar a estrutura de mundo que é benéfica somente a elas. Afinal, para quem está “no topo” da sociedade, é muito melhor que tudo permaneça como está.

Por isso, elas misturam todas as pautas sociais, econômicas, políticas, humanitárias e até a luta por direitos e igualdade, e fazem parecer que essas questões são uma ameaça à sociedade. Aí o toque final é personificá-las de forma simplista, resgatando a velha paranoia das “ameaças comunistas”.

 

Mas isso cola fácil?

De início, as pessoas não tendem a acreditar em fantasmas ou inimigos invisíveis, assim como crianças não acreditam em bicho-papão logo de cara.

Isso só acontece se as mentiras forem reafirmadas muitas e muitas vezes. É preciso implementar um método de convencimento, e isso os extremistas aprenderam a fazer.

De tanto receberem inúmeras postagens falando a mesma coisa, além de uma infinidade de fake news estridentes e mirabolantes, aquelas pessoas que foram atraídas pelo discurso demagogo dos oportunistas acabam acreditando que a tal ‘ameaça comunista’ (que nem existe) é um perigo muito maior para o país do que qualquer atrocidade que os próprios extremistas aprovem no mundo político ou espalhem em suas redes sociais.

Assim como os troianos foram derrotados com essa manobra, os brasileiros vão perdendo direitos, vendo sua vida piorar, e o país vai naufragando, mas aqueles que criam e espalham as mentiras faturam alto (politicamente ou financeiramente) com tudo isso. O que vale, no final do dia, é fazer seus apoiadores alcançarem uma falsa sensação do tipo “pelo menos livrei meu país dos ‘comunas’” (sem saber que foram enganados e envolvidos em um jogo político e financeiro mesquinho).

 

“Uma mentira contada mil vezes…”

Assim como no caso de outros expoentes internacionais de facções extremistas, os membros do governo Bolsonaro e seus aliados utilizam a paranoia anticomunista para esconder seus verdadeiros interesses: aproveitar-se dos cargos que ocupam para lotear a política, se apropriar dos recursos do país, vender o patrimônio nacional para agradar grupos econômicos (que lhes darão algo em troca), implantar esquemas de corrupção e, se possível, permanecer mais tempo no cargo para continuar fazendo tudo isso.

Ou seja, essa conversa sobre “comunismo” tem muito mais a ver com interesses mesquinhos do que com ideologia política (novamente, eles mesmos não acreditam que exista algum tipo de ameaça). Vamos lembrar que, no passado, Jair Bolsonaro se declarou fã do então presidente venezuelano Hugo Chaves.

Mas ele não é o único a mentir sobre isso ou mudar de posição conforme a conveniência do momento. A maioria dos membros de seu governo, políticos do entornou ou pessoas da sua base radical de apoio nunca se preocuparam com essa questão do ‘comunismo’ porque sabem que não existe qualquer ameaça ou perigo ao país. Só que, de repente, de uns anos para cá, isso virou “a” principal pauta deles. Puro oportunismo.

Na realidade, a maioria deles adotou essa pauta quando viu que “a onda do momento” era retomar os discursos extremistas, ou quando viram que espalhar ódio e violência dava mais votos e, se possível, muito dinheiro, atraindo pessoas com muito mais facilidade.

Para eles, é mais vantajoso convencer as pessoas de que eles são o caminho da salvação do que apresentar propostas reais para a economia, geração de emprego e renda, redução da miséria ou melhoria da qualidade de vida da população. Basta criar uma conta no Youtube e nas redes sociais e gravar vídeos espalhando teorias conspiratórias, paranoias ou mentiras (muitos extremistas criaram novas carreiras política fazendo exatamente isso). “O Brasil se afunda em fome, desemprego, violência crescente e corrupção, mas o importante é que pensem que nós estamos combatendo o comunismo”.

 

Custa caro manter a máquina de fake news

Como as ideias extremistas não são ‘naturais’ em uma sociedade minimamente saudável, é preciso construir uma gigantesca máquina de mentiras para alimentar medos infundados e paranoias infantis. Para isso, investem pesadamente em uma estrutura para disseminar fake news, em um esforço permanente de propagandas difamatórias, baseadas no conflito e no ódio.

Eles aplicam os conceitos cunhados pelo então ministro da Propaganda na Alemanha nazista, Joseph Goebbels: “mentiras repetidas à exaustão tornam-se verdades”.  A jogada é fazer com que esses conteúdos cheguem massivamente para pessoas que reproduzem ideias sem muita reflexão. Essa estratégia foi muito bem assimilada pelos militantes extremistas da atualidade.

Importante lembrar que muitos membros do governo Bolsonaro já demonstraram simpatia por ideias nazistas, como um ex-secretário de Cultura que caiu porque imitou a estética e o conteúdo nazista em um pronunciamento, um secretário especial que foi flagrado fazendo gestos “white power” (supremacista), e até o próprio presidente da República e pessoas do seu entorno, que se encontraram sorridentemente com uma deputada alemã neonazista em agosto de 2021.

Muito dinheiro é empregado para construir e sustentar grandes redes de “milícias digitais”, muitas vezes irrigadas com recursos públicos e que espalham conteúdos absurdos e descabidos, mas que, bombardeados à exaustão, acabam tendo poder de convencimento e se espalham com facilidade.

Como chegam até pessoas previamente amedrontadas e que já passaram a enxergar a realidade de forma distorcida, é fácil convencê-las a compartilhar e disseminar as mensagens.

Uma das práticas mais comuns dessas milícias é atacar a reputação e a credibilidade de jornalistas, artistas, intelectuais, cientistas, professores e outros produtores de conhecimento que desmontam as mentiras do governo. Qual a solução que encontram para isso? Exato: chamá-los de comunistas (novamente, como isso representasse ‘todo o mal da sociedade’).

Para atender aos interesses das ‘elites’, fazem o mesmo contra quem luta por direitos, como entidades sindicais e ativistas (de qualquer causa, inclusive do meio ambiente, que incomodam desmatadores e vendedores de madeira ilegal, por exemplo).

Além de tudo isso, a paranoia é um elemento essencial para que a base extremista do governo Bolsonaro permaneça fiel mesmo diante da brutalidade, da desqualificação e da vergonha mundial que o país se tornou nos últimos tempos, de todos os índices fracassados na economia, do número absurdo de mortes na pandemia de Covid-19, dos casos de corrupção, entre tantos problemas que contribuem para levar o Brasil para o abismo.

Só com a criação de um universo paralelo, distante da realidade, é possível convencer pessoas a sustentar esse governo.

É claro que nem sempre essa tática dá certo, porque de vez em quando alguém resolve investigar atividades suspeitas e descobre esquemas como rachadinhas de salários, tentativas de aquisições superfaturadas de vacinas ou orçamentos paralelos para comprar apoio de parlamentares.

Aí, quando esses esquemas são revelados, a saída dos extremistas é acionar as redes de fake news para criar novas paranoias e desviar o foco sobre os problemas e crimes do governo ou de seus apoiadores (inclusive daqueles que lucram muito produzindo esses conteúdos de ódio e mentiras).

 

Diga-me com quem andas…

Um dos principais formuladores de estratégias para espalhar pensamentos extremistas na atualidade é o norte-americano Steve Banon. Ele, que chegou a assessorar Jair Bolsonaro durante as eleições de 2018, foi preso por desviar recursos nos Estados Unidos, numa espécie de ‘rachadinha’ com o dinheiro do muro que o ex-presidente Donald Trump (a quem também serviu de estrategista-chefe) construía na fronteira com o México.

 

Truque antigo  

A “ameaça comunista” era muito propalada pelo governo dos Estados Unidos durante a Guerra Fria (que vigorou entre o final dos anos 1940 e o começo dos anos 1990), quando a polarização entre americanos e soviéticos envolvia grandes esforços de propaganda.

Nos anos 1950, o então senador Joseph McCarthy iniciou um movimento para perseguir qualquer um que discordasse de sua visão política: o macarthismo. Durou cerca de três anos, fez inúmeras pessoas perderem empregos, serem presas ou terem suas vidas destruídas. No final, o país entendeu que tudo não passava de uma farsa e o senador caiu em completo descrédito. Até hoje, isso ainda causa mal-estar social por lá (para a maioria dos norte-americanos é um tipo de vergonha na história nacional).

Então, convenhamos, a paranoia anticomunista no Brasil está 70 anos atrasada.

Nas décadas seguintes, esses mesmos discursos ajudaram a intensificar a intervenção norte-americana nos processos políticos da América Latina. O resultado foi uma série de golpes militares que também tinham como mote o combate a esse fantasma inexistente da ‘ameaça comunista’, inclusive no Brasil.

O ex-presidente norte-americano Donald Trump até tentou reviver um pouco disso, mas em uma escala muito menor, adotando os métodos ensinados por Steve Bannon. A tática de Trump não colou e ele foi derrotado em 2020 por Joe Biden.

 

Ameaças fantasmas de ontem e de hoje

Se o uso do “fantasma do comunismo” já era “forçar a barra” nos anos 1950 e 1960, hoje em dia é um completo delírio, ainda mais no Brasil atual, onde os anticomunistas sequer sabem dizer contra o quê ou a favor do quê eles lutam.

Sem conhecer absolutamente nada do termo (seja do ponto de vista conceitual ou histórico), alimentam a ideia de que existe um perigo invisível e constante, que seria combatido pelos (falsos) salvadores da pátria, mesmo que sejam liderados por um ex-deputado que, por décadas, nunca trouxe qualquer contribuição ao país e ainda implementou esquemas de rachadinhas de salários em seu gabinete e no dos filhos que ele colocou na política.

A ideia é resgatar as paranoias da Guerra Fria e criar um tipo de xingamento infantilizado que se resume no “comunismo”.

A tática não é nova. Os nazistas iniciaram a Segunda Guerra Mundial espalhando mentiras sobre a “ameaça” dos poloneses, mas antes já haviam criado leis para segregar os judeus por causa da “ameaça” de contaminação da raça ariana (outra invenção).

O medo previamente espalhado fez essa segregação se tornar aceitável na sociedade alemã, inclusive quando começaram a enviar os judeus para guetos. Depois, veio o extermínio em campos de concentração, que resultou na morte de mais de 6 milhões de judeus e outras minorias (por sinal, extremistas no Brasil também têm ódio de minorias).

Por aqui, quando as pessoas gritam “vai pra Cuba”, na verdade estão reproduzindo a mesma ideia. Querem expulsar os “diferentes”. Dependendo do grau da paranoia, muitos desejariam trocar “Cuba” por “campos de extermínio” naquela frase. Como mostramos anteriormente, o medo elevado a níveis tóxicos faz as pessoas abrirem mão de sua própria civilidade.

Mas essas paranoias criam também outros tipos de infantilidades, como o jargão “minha bandeira jamais será vermelha”, repetido por simpatizantes do extremismo como um mantra, como se houvesse qualquer intenção de alguém mudar a cor da bandeira brasileira. Elas esquecem que a maioria dos países do mundo têm vermelho em sua bandeira, inclusive 13 dos 15 considerados mais desenvolvidos.

Como o extremismo faz as pessoas enxergarem a realidade distorcida, surgem situações vexatórias, como o já clássico caso da militante radical que xingou uma bandeira do Japão como se fosse um símbolo de que o “comunismo estava tomando conta do Brasil” (as duas bandeiras têm um círculo no meio). Passou vergonha e se tornou instantaneamente um meme na internet, onde seu vexame está eternizado.

Por que o medo?

Mas se nem mesmo os extremistas acreditam nas próprias mentiras, por que eles escolheram essa tática de espalhar medos e paranoias para chegar ao poder e se manter nele?

Porque o projeto de poder deles se resume à exploração do país e de seus recursos no menor espaço de tempo possível. Não há um projeto de desenvolvimento, garantia de bem-estar e ampliação dos direitos.

Basta ver o esforço para destinar o máximo de dinheiro para o sistema financeiro (que consome quase metade do orçamento federal), aprovar projetos que retiram direitos dos trabalhadores ou que beneficiam apenas determinadas camadas da sociedade que já são privilegiadas (como grandes empresários), ou privatizar tudo o que for possível a preço de banana (mesmo que represente prejuízos gigantescos ao país).

Não é coincidência que colocaram no comando do Ministério do Meio Ambiente alguém favorável ao desmatamento (que bateu recordes em sua gestão) e que deu a ideia de se aproveitar da pandemia para “passar a boiada”, reduzindo as proteções ambientais. Ele só pediu para sair porque foi pego em um escândalo envolvendo a venda milionária de madeiras ilegais e tinha medo de ser preso ainda no cargo (o que representaria um vexame ainda maior para o governo).

Tudo isso mostra que, enquanto muitos seguidores são levados a acreditar que estão fazendo parte de um combate do “bem x mal”, na verdade, são manipulados por interesses políticos e financeiros das pessoas que criam, divulgam e propagam mentiras sobre as ameaças que não existem.

Sem distribuir essas paranoias com tanta frequência, o governo e seus apoiadores radicais teriam muito menos seguidores, votos e dinheiro.

Afinal, é difícil imaginar que parcelas consideráveis da população seriam naturalmente favoráveis ao desmatamento e ao fim de seus próprios direitos. Mas entre apoiadores fervorosos do governo, inúmeros desdenham das necessidades de proteção ambiental e apoiam projetos que acabam com direitos.

Como uma parte da população seria contrária às vacinas ou iria preferir usar medicamentos sem eficácia comprovada? Se isso tivesse acontecido no passado ainda teríamos que enfrentar doenças como poliomielite, sarampo, difteria e rubéola. Mas durante a pandemia, o governo conseguiu convencer muitas pessoas a comprarem remédios ineficazes, enquanto laboratórios que ganharam muito dinheiro com tudo isso patrocinavam entidades ‘médicas’ de fachadas para reforçar as mentiras governistas (é tudo sobre dinheiro, lembra?).

Se não fossem as bolhas de ódio, não haveria tantas pessoas atacando a educação, a ciência, as artes, a cultura, a literatura, as universidades públicas, os professores, os cientistas, os direitos humanos, civis e trabalhistas, e nem perseguindo ambientalistas e ONGs ou tentando acabar com a liberdade de imprensa, de pensamento, ou com a própria liberdade de escolha.

A história nos mostrou o quanto é temeroso um governo que persegue educadores, pesquisadores e cientistas. Na Alemanha nazista, livros eram queimados em grandes fogueiras em praça pública. Para o pensamento totalitário, educação e cultura são sempre um perigo.

 

Aversão ao pensamento crítico

Como mostramos, o projeto de poder dos extremistas está ligado intimamente às “elites” e só consegue se sustentar se eles convencerem seus seguidores de que existem inimigos invisíveis a serem combatidos. Eles precisam transformar tudo em algo assustador para manter a coesão da sua base de apoio.

Qualquer posicionamento contrário às mentiras ou absurdos do governo é rapidamente classificado como “comunista”. Até políticos da extrema-direita ‘democrática’, como Sérgio Moro e João Doria, foram taxados de comunistas por romperem com o governo de Jair Bolsonaro.

Para eles, não basta a pessoa ser “de direita” ou “liberal”, é preciso ser contrário aos princípios democráticos e compartilhar ideais extremistas (mesmo que se aproxime do neonazismo, como vimos acima).

A defesa da ciência também se tornou sinal de “comunismo”, afinal, ela desmente facilmente as teorias conspiratórias espalhadas pelos radicais.

Professores também são perseguidos e instituições públicas de ensino são alvo de campanhas difamatórias por serem espaços que estimulam o pensamento crítico. Como poucas reflexões e o pensamento lógico já são suficientes para desmontar suas bases e seus argumentos frágeis, os extremistas odeiam também quem produz conhecimento. E as elites, que financiam esses radicais, temem qualquer coisa que possa ajudar as pessoas a questionarem a realidade em que vivem (porque isso pode abalar o “deixa tudo como está”).

É por isso que a máquina de paranoia distorceu completamente a visão de uma parte da sociedade sobre as universidades públicas, que deveriam ser alvo de orgulho por sua qualidade reconhecida (elas lideram todos os rankings de qualidade no Brasil e na América Latina, além de produzirem 99% da ciência brasileira).

As milícias digitais são, muitas vezes, financiadas com dinheiro público e também por empresários que não têm afinidade nenhuma com pautas moralistas (aqueles que servem como “Cavalos de Troia), mas que possuem grandes interesses econômicos em um governo servil que cumpra todos seus desejos de concentração de riqueza e corte de direitos dos trabalhadores.

Os corruptos também se aproveitam dessa demagogia e contribuem para espalhar o pânico “anticomunista” na sociedade, porque isso ajuda a desestabilizar o país e enfraquecer as instituições que irão investigá-los (para eles, é melhor que as autoridades estejam caçando comunistas invisíveis do que investigando crimes).

Elaboradas cientificamente para enganar, suas campanhas caríssimas permanentes de fake news misturam medos infundados e preconceitos, que nada têm a ver com conceitos comunistas, para criar um grande monstro imaginário que “tudo ameaça”, mesmo que as pessoas tenham que abrir mão de parte de sua humanidade no meio disso (de outra forma, seria muito mais difícil combinar, por exemplo, questões religiosas, violência, armas, desmatamento, pena de morte, agrotóxicos e retirada de direitos em um mesmo balaio).

Só mesmo com medo do “bicho-papão”, criado para assustar crianças pequenas, caso elas “não se comportem bem”, ou amedrontar adultos, para que se mantenha “tudo como está”.

Assim, Bolsonaro, seus filhos e aliados gerem um país usando mentiras, espalhando paranoias, medos, pavores, ódio e violência, ignorando todas as consequências sobre a população e sobre o futuro do país. Já passa da hora de serem responsabilizados pelas ‘travessuras’ nada inocentes.

Fonte: APUFPR


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