Comemorar o golpe militar é um desrespeito à história e aos mais de 320 mil mortos na pandemia

31 de março de 2021
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Comemorar o golpe militar em um momento em que sentimentos autoritários crescem em setores radicais é um descompasso com a história do Brasil.

A tomada de poder com um golpe militar, com apoio de setores ligados às elites civis do país, na madrugada entre 31 de março e 1º de abril de 1964, deu início ao período mais duro e triste da história do Brasil desde a constituição da República.

Foram 20 anos de perseguição política e ideológica, que manteve brasileiros amordaçados, sob o domínio do medo. Nesse período, sindicatos foram imobilizados, lideranças políticas perseguidas, políticos opositores foram cassados, milhares de opositores foram presos e torturados, e centenas foram mortos ou desapareceram.

Neste momento em que o Brasil chega a quase 320 mil mortos pela Covid-19, o governo de Jair Bolsonaro joga peso em uma celebração que tem, como objetivo principal, mobilizar os setores mais radicais da sociedade, em meio à escalada retórica (mas com reflexos na vida social) que aventa possibilidades de um novo golpe contra a Democracia.

É um completo oportunismo porque serve também, como tem sido praxe no atual governo, de cortina de fumaça para polemizar sobre um assunto que reabre profundas feridas no país, desviando o foco nas ações propositadamente irresponsáveis do próprio governo na condução da pandemia.

O momento é tão inoportuno que se dá em meio a uma crise com o alto escalão das Forças Armadas, já que, pela primeira vez na história, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica deixam seus cargos por não concordarem com o discurso violento do presidente e de seus apoiadores contra a Democracia.

Certamente, Bolsonaro joga para manter seu público mais radical (os mesmos que agora ameaçam a vida de prefeitos e governadores que decretam medidas de isolamento radical para salvar vidas) dentro de suas rédeas, e pretende se conectar ao baixo escalão militar (não apenas das Forças Armadas, mas polícias militares nos estados, que são mais propensos a cometer atos violentos contra a população).

Bolsonaro vem aumentando a radicalidade em seus discursos, utilizando expressões como “minhas Forças Armadas”, como um proto ditador que é, ao mesmo tempo, perigoso porque inflama setores extremistas da sociedade, mas também caricato, porque se parece com um daqueles velhos ditadores de filmes norte-americanos das décadas de 1970 e 1980.

O mundo olha hoje estupefato para o Brasil, sem conseguir entender como um presidente comanda de forma tão incompetente uma pandemia (sem compreender o conjunto da obra, não consegue enxergar que isso faz parte de uma estratégia política) e gasta tempo e recursos para celebrar algo que deveria ter ficado apenas na história.

Enquanto países que têm em seu passado motivos dos quais não se orgulham resolveram olhar para o futuro, o Brasil de Bolsonaro e seus radicais olha para o passado e se esforça para fazer o país regredir. Enquanto na Alemanha e em outros países é crime qualquer tipo de saudação ao nazismo ou a negação do holocausto, por aqui, o governo foi buscar na justiça a autorização para celebrar o período mais triste da vida política da história da nossa República.

A geração atual, que hoje está à frente dos sindicatos e demais organizações que lutam por direitos tem como dever a preservação da Democracia conquistada por muitos que dedicaram a própria vida para garantir a liberdade do nosso país.

Nossa homenagem hoje é para aqueles que morreram, foram exilados ou perderam parentes e amigos, e para todos aqueles que lutaram contra o regime sanguinário para garantir que hoje possamos expressar a nossa voz e tenhamos o direito de decidir sobre nosso próprio futuro.

 

Diretoria da APUFPR

31 de março de 2021

 


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