

Cercado por muita expectativa e nervosismo, o primeiro debate das eleições presidenciais de 2022, realizado no domingo (28), não tematizou algumas das principais questões da administração pública, como a urgente e necessária valorização do serviço público e de seu funcionalismo.
Dos seis candidatos participantes, apenas o desconhecido e inexpressivo Luiz Felipe D’Ávila, do partido NOVO (conhecido como startup dos banqueiros), abordou a questão do serviço público, só que defendendo sua completa privatização (de forma enfadonhamente insistente).
Enquanto Lula (PT) mostrava os feitos de seu governo, inclusive o crescimento do ensino superior, Jair Bolsonaro (PL) tentava se defender de temas sensíveis (especialmente dos erros na pandemia e sua reiterada misoginia). Já Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil) não demonstraram preocupação com a valorização e as condições de trabalho dos servidores públicos.
O NOVO sendo a velha política oligárquica
Empresário e neto de um ex-deputado federal, Luiz Felipe D’Ávila foi o único candidato que abordou questões concernentes ao serviço público e ao cotidiano dos servidores durante o debate. Seria melhor que não o tivesse feito.
Felizmente, sem expressividade, o desconhecido D’Ávila – chamado por Ciro Gomes, e apenas por ele, de “professor” – despejou a velha cartilha do NOVO, desqualificando o serviço público com termos desgastados como “cabide de empregos”, e associou-o a “privilégios”, enquanto endeusava o mercado como a solução para todos os nossos problemas.
Seu discurso, descolado da realidade da imensa maioria dos brasileiros, minimiza as causas das injustiças sociais, da fome e da miséria, dando a entender que a riqueza dependeria apenas do esforço individual e do benemérito do empresariado que, na (falta de) visão dele, estariam sempre dispostos a “ajudar” o país.
Apesar de ser o candidato a presidente com maior patrimônio declarado à Justiça Eleitoral (mais de R$ 24 milhões), disse que era uma pessoa igual ao restante dos brasileiros. Um tipo de declaração que, aos ouvidos de 99% dos brasileiros, soa como piada pronta.
D’Ávila ainda encontrou tempo para defender entusiasticamente o agronegócio, associando-o (pasmem) à preservação do meio ambiente. “O agro brasileiro é o que mais sofre quando se desmata no Brasil”, apontou, sem apresentar argumentos sólidos.
Prioridade?
Em um debate que durou cerca de três horas, a preocupação com o serviço público não esteve no foco dos embates diretos e nem nas perguntas de jornalistas que, por sinal, pouco questionaram sobre programas de governo e políticas públicas, focando mais nos conflitos entre os candidatos.
Sempre apresentando desenvoltura para espalhar mentiras e agressões, o presidente Jair Bolsonaro tentou enganar os espectadores ao afirmar que seu governo “tem um olhar todo especial para os pobres” (sendo que contribuiu para o aumento da miséria e da fome) e também procurou, com base em afirmações falsas, defender as supostas políticas de transferência de renda do atual Governo Federal – boa parte delas garantidas graças ao Congresso Nacional, contra a vontade do Executivo.
Bolsonaro também foi muito criticado pela péssima condução da pandemia de Covid-19 e pela falta de transparência, com sigilo de até cem anos em dados e documentos públicos para esconder informações.
Tebet e Thronicke abordaram questões relativas ao papel das mulheres na política, especialmente depois que Bolsonaro atacou, de forma machista, uma jornalista que havia lhe feito uma pergunta, e Ciro Gomes acusou Bolsonaro de “corromper” seus filhos e ex-mulheres.
A APUFPR espera que nos próximos debates haja mais propostas para o serviço público, para que fique mais claro as diferenças entre os projetos que estão colocados e quais interesses estão sendo representados por cada candidatura.
Fonte: APUFPR