Bolsonaro confirma interferência no Enem: “começa a ter a cara do governo”

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Bolsonaro confirma interferência no Enem: “começa a ter a cara do governo”

Em declarações dadas à imprensa em Dubai – Emirado Árabe escolhido pelo governo brasileiro para ampliar sua vergonha mundial – o presidente Jair Bolsonaro afirmou que o conteúdo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) começa “a ter a cara do governo”, admitindo explicitamente que há intervenção ideológica na elaboração de provas que deveriam ser baseadas em critérios técnicos e pedagógicos.

Além de cometer um ‘sincericídio’, Bolsonaro acabou “acertando” na análise. Afinal, o Enem tem sim cada vez mais a cara de seu governo: cada vez mais desorganizado, desigual e pautado por interesses alheios à educação e ao interesse público.

Quem sabe o próximo passo do governo de Jair Bolsonaro para o seu Enem seja a inclusão de questões com bases vindos de Olavo de Carvalho e de Carlos Alberto Brilhante Ustra.

Na cabeça do governo, essa interferência no conteúdo do Enem poderia servir para fazer uma “triagem” prévia dos futuros estudantes universitários.

 

Revolta de servidores no Inep

Prevista para os dias 21 e 28 de novembro, a edição de 2021 do Enem teve inúmeros problemas desde sua elaboração, marcada por problemas de organização, intervenções ideológicas e intimidação de servidores.

A censura a conteúdos pedagógicos por parte do Governo Federal tornou-se pública no começo de novembro, quando 35 servidores do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão responsável pelo conteúdo do Enem, pediram demissão em protesto.

Em entrevistas posteriormente concedidas sob anonimato, os servidores confirmaram que o conteúdo da prova foi censurado pelo Governo Federal, que interveio em mais de 20 questões da primeira versão da prova elaborada.

Não por acaso, a censura tinha como alvo questões com conteúdo histórico e socioeconômico: para Bolsonaro, a boa educação é aquela que ensina a obedecer e aceitar, não a pensar e transformar.

As questões do Enem são elaboradas por professores escolhidos por edital. Após sua produção, são enviadas a um banco de dados, sendo filtradas posteriormente por técnicos do Inep com base na Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e nas competências exigidas para o ensino superior.

O processo todo sempre foi conduzido em sigilo, para garantir que o conteúdo não vaze antes da realização da prova. Com as interferências de Bolsonaro, no entanto, esse processo tem sido cada vez menos seguro e organizado.

Segundo os servidores que se demitiram, houve diversas pressões do Executivo, que aumentou muito o número de pessoas com acesso à prova e chegou a enviar um policial federal para pressionar os técnicos.

 

Enem mais desigual da história

Da mesma forma como ocorre em outras áreas de seu governo, o presidente Bolsonaro atua e se pronuncia neste caso com olhos voltados à sua base de apoiadores mais extremistas, sobretudo nas redes sociais.

Buscando sempre mantê-los mobilizados e coesos, o governo e seu “gabinete do ódio” utilizam-se das polêmicas vazias das chamadas “guerras culturais” para desviar o foco de um país que a cada dia está mais em crise social e econômica.

Com isso, o Enem está mais excludente e desigual. A edição deste ano teve o menor número de inscrições dos últimos 14 anos, com apenas 3,1 milhões – o número já foi de 8,7 milhões.

Segundo dados do Semesp (Sindicato das Mantenedoras de Ensino Superior), 11,7% dos inscritos são pretos, sendo a menor proporção desde 2009, quando o índice era de 6,3%. O exame chegou a ter cerca de 1,1 milhão de inscritos pretos em 2016; em 2021, serão apenas 362,3 mil.

42,2% dos inscritos declararam-se pardos. É o menor percentual desde 2012, quando foram 41,4% do total.

Entre os inscritos com isenção da taxa por declaração de carência houve redução de 77% em relação à última prova. Só 26,5% das inscrições conseguiram a abstenção da taxa por situação de vulnerabilidade financeira.

 Fonte: APUFPR


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