APUFPR em defesa da Democracia: o dever histórico nos chama

2 de setembro de 2022
APUFPR - Ditadura

Defender a Democracia não é uma bandeira que se constrói do dia para a noite. O processo de conquista de direitos civis no Brasil é complexo e ainda segue em permanente disputa. E esse fenômeno reflete-se também na trajetória da composição dos espaços de formação opinião pública, principalmente as universidades. E, claro, a comunidade da UFPR faz parte dessa trajetória, com destaque para o papel dos docentes.

Fundada em 1962, a Associação do Professores da UFPR (APUFPR) surgiu em um contexto que defendia a formação de uma universidade crítica, anti-dogmática e imune às discriminações de ordem econômica, ideológica, política e social. A pequena sala alugada com os recursos de alguns filiados deu início a um processo que, nos primeiros anos de existência, se furtou de cumprir o seu papel histórico – sendo um espaço de recreação, assistência e confraternização dos professores.

Com o golpe de 1964, que instalou a ditadura militar (ou civil-militar), o então reitor da UFPR, Flávio Suplicy de Lacerda, foi alçado ao cargo de ministro da Educação e decretou a extinção da UNE e de outras entidades estudantis. No mesmo ano, os professores da UFPR José Rodrigues Vieira Neto, Amílcar Gigante e Reginis Prochmann foram expulsos pela ditadura.

Em 1967, Suplicy voltou a ser reitor da UFPR e tentou estabelecer a cobrança de anuidade para os novos ingressantes na universidade.  O movimento estudantil organizou-se para barrar esse processo em um enfrentamento que culminou na ocupação da reitoria, com cerca de cinco mil estudantes. Alguns alunos tomaram o prédio, outros criaram um cordão de segurança em torno do prédio, que foi cercado por familiares dos estudantes, médicos, juízes e promotores – para impedir repressão policial.  O protestou terminou de forma pacífica e o Conselho Universitário extinguiu a possibilidade de cobrança.

Enquanto a escalada do autoritarismo do regime militar aumentava, a APUFPR, ainda com poucos filiados, permanecia alheia às questões políticas. No final da década de 60, a entidade adquiriu oficialmente o direito de representar os docentes da UFPR. Ainda assim, durante o período de 1970 a 1979 – marcado pelo período mais truculento da repressão no regime militar – a associação manteve seu caráter assistencialista e recreativo.

Isso não significa que não havia resistência. Pelo contrário, estudantes e professores (de forma quase clandestina) se organizavam para resistir e lutar contra o endurecimento do regime e, principalmente, contra a privatização do ensino público. E os frutos dessa trajetória heroica seriam colhidos já no final dos anos 70.

 

Universidade Necessária

Em 1979, a conjuntura política de reabertura atinge em cheio a universidade. E o dia 25 de maio daquele ano entrou para história da APUFPR. No primeiro processo eleitoral em que houve disputa, a situação vence por uma diferença de apenas 14 votos. A inscrição da chapa de oposição “Universidade Necessária”, com um projeto claramente sindical e reivindicativo, marca os primeiros passos do surgimento de um movimento político dos professores na UFPR.

 

Enquanto isso, no movimento estudantil

O DCE da UFPR havia sido fechado em 1968, após o período de mobilização contra a cobrança de taxas na instituição. A repressão avançou sobre o movimento com o AI-5, resultando em período de refluxo em que a entidade se manteve na ilegalidade.

Em 1976, tem início o movimento pró-DCE Livre, que em fevereiro e abril de 1979 gera um clima de efervescência política na instituição com a realização de um plebiscito para decidir sobre a fundação da entidade e o seu estatuto.

Às manifestações dos estudantes pela fundação do Diretório soma-se também a luta dos professores pela transformação da APUFPR em uma entidade com caráter sindical.

 

A refundação da história

Na greve de 1980, uma comissão do movimento “Universidade Necessária” esteve presente em Campinas para a fundação da ANDES, Associação Nacional dos Docentes de Ensino Superior. Um passo importante de reconhecimento e integração da luta por democracia, direitos e educação pública de qualidade.

Em maio de 1981, a chapa composta pelos integrantes do “Universidade Necessária” vence as eleições da APUFPR e quebra o paradigma do caráter da associação. Eles dão início a um processo de escalada de conquistas e o avanço das lutas pela autonomia e abertura das universidades, promessas não cumpridas da “transição gradual”, e o combate à privatização – mobilizando greves em 1981 e 1982.

“Diretas Já” nasceu em Curitiba

Em janeiro de 1984, a campanha das Diretas Já foi lançada em Curitiba. No mesmo ano, a universidade organizou uma greve que contou com a iniciativa “Universidade Na Praça” para romper os muros da academia e mobilizar a comunidade em torno das pautas da UFPR. Uma grande manifestação histórica, após uma assembleia de professores, também ficou marcada na história. Vestidos de pretos, envoltos por saco de lixo, eles desceram pela rua XV e foram em passeata até à Delegacia de Educação. Com o tamanho da mobilização, as autoridades foram forçadas a aceitar a entrada de uma Comissão que entregaram as reivindicações.

 

Avanços e conquistas de fora para dentro – Eleições diretas para reitor e plano único de carreira

As greves realizadas na primeira metade dos anos 80 foram fundamentais para frear o ímpeto privatista instaurado pelo regime militar. Enquanto a sociedade civil já se organizava para pautar a Constituinte e garantir a educação pública de qualidade como direito irrevogável, os professores da UFPR, liderados pela APUFPR, realizaram uma greve em 1987 e conseguiram avançar também em pautas importantes específicas da categoria como o plano único de carreira e escolha para reitoria.

 

União

Nas gestões de 1987 a 1989, a APUFPR se assumiu oficialmente o caráter de representação sindical. Foi uma mudança complexa que envolveu também a filiação da ANDES a uma central sindical. Ao mesmo tempo, os docentes também se envolviam na elaboração de uma proposta de universidade brasileira para a Constituinte.

Ou seja, se no começo de sua história, a Associação não cumpria papel algum na política local, estadual e tampouco nacional. A partir daquele momento ela já estava consolidada como uma peça fundamental da consolidação do processo de redemocratização do país – e de sua própria história.

 

O dever histórico nos chama

O contexto nacional mais uma vez nos chama a cerrar fileiras com a sociedade civil em defesa da Democracia, da educação pública de qualidade e da justiça social. O país passa fome e, não por acaso, os ataques do governo Bolsonaro são centrados diretamente nas universidades públicas e no direito à educação.

Nos últimos anos, a educação pública vem sofrendo desmontes por meio dos cortes de verbas e do aparelhamento ideológico voltado para uma cultura da violência e da propagação do ódio e do ataque à educação crítica, cerceando a liberdade de cátedra e desvalorizando a profissão docente.

Com isso, o bolsonarismo ataca e sufoca a atuação do Estado no sentido da promoção de uma cultura democrática e de bem-estar entre as pessoas, que permita o exercício da cidadania, o espírito crítico e as múltiplas formas de existir.

Por isso, imbuídos do espírito histórico que nos trouxe até aqui, urge unir esforços no sentido de mobilizar toda a comunidade universitária em torno da defesa de um país mais justo, livre e democrático.

 

Fonte: APUFPR


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