O veterinário Lúcio Guerra chegou a temer pela sua vida e da sua família. Depois da suspensão da audiência pública ele passou a mudar seus horários para chegar em casa. Lúcio foi incluído em grupos de whatsapp onde sofreu ameaças, além de receber ligações oferecendo serviços funerários.
Assim como os outros defensores, ele diz que, antes mesmo de ser incluído no programa, ele e sua mulher já sofriam intimidações. “A gente sempre, de certa forma, foi perseguido. Já tiveram vários casos da gente daqui para Belo Horizonte ser perseguido por carro, eu daqui para a fazenda ser perseguido também por funcionário da mineradora”, contou.
Questionado se se arrepende de ter entrado nesta luta, devido às consequências, ele respondeu: “Faria tudo de novo e talvez faria até mais”.
Lúcio Guerra acompanha os impactos da mineração desde o início, com a chegada da empresa na cidade, em 2006. Sua família possui um terreno que é vizinho à mineração. Ele lembrou que, no início, a empresa chegou pressionando os moradores para comprar as terras. “Com a ampliação do empreendimento intensificou, aumentou e tem tendência de aumentar ainda mais os impactos contra as pessoas. A gente assiste a todo tipo de violação possível tanto por parte da empresa, como do Estado, que é conivente”, ressaltou.

“A gente assiste a todo tipo de violação possível tanto por parte da empresa, como do Estado, que é conivente”

Na avaliação do veterinário, o principal impacto que as comunidades sentiram com a instalação da mineradora foi a falta de água. “A gente ainda não tem nem ideia do que será no futuro, da contaminação da água, do lençol freático”, destacou. A poeira, o barulho, também prejudicaram as comunidades vizinhas ao empreendimento.
A mineração também mudou o jeito dos moradores da cidade. As pessoas, segundo ele, passaram “a desconfiar do ser humano”. “As pessoas aqui na região te recebem pela cozinha. Depois de ver os interesses por trás da mineradora, que era só uma fachada, as pessoas passaram a receber com restrição e, às vezes, a nem receber”, avaliou. No interior de Minas, é um hábito as pessoas oferecerem, pelo menos, um café um pedaço de queijo para os visitantes.
Para Lúcio Guerra a luta dos cinco defensores está servindo, principalmente, para tornar pública as irregularidades do empreendimento da Anglo American. “Agora, só é uma pena que não esteja servindo tanto para o Estado que ainda continua a apoiar o empreendimento dessa maneira”.

FONTE: https://theintercept.com/2018/03/27/ameacas-moradores-mineracao-anglo-american/