Afinal, qual o papel da universidade no contexto atual?

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Os últimos anos ficarão marcados para sempre na história das universidades públicas do Brasil.

Para o bem ou para o mal, nós e nossos contemporâneos seremos lembrados porque vivenciamos um momento ímpar, em que o ensino superior público esteve sob as maiores ameaças de sua história, quer no âmbito “simbólico”, apunhalado por discursos de ódio e pelo negacionismo científico daqueles que nos governam e dos séquitos que os seguem, quer no campo estrutural, com seguidas políticas de sucateamento e cortes orçamentários que colocam essas instituições a um passo de fecharem as portas (literalmente).

O ponto é que, o que se coloca como a “luta” do momento, isto é, combater esses descalabros e defender a sobrevivência da universidade, à sua maneira, também reflete a interpretação desses nossos tempos.

É evidente que denunciar cortes e perseguições, discutir a recomposição orçamentária das instituições ou a realização de concursos públicos é parte essencial desse processo. Mas, a partir do momento que a luta se resume a esta linha, estamos limitando o tratamento à universidade como algo menor, como uma instituição que aceita manobras e tenta apenas conter danos.

Esse é o primeiro passo, porque se trata de uma situação de exceção. Mas não pode ser o único.

O contexto

Antes de entendermos o que deve constituir a luta, é preciso compreender as condições sobre as quais as políticas de desmonte das universidades públicas acontecem.

É preciso enxergar isso não como uma atitude isolada, parte de uma crise financeira, de um jogo de “contingenciamento” ou “descontingenciamento” (esses eufemismos cuja estética linguística representam a cara do governo atual), ou de uma escolha econômica (afinal, cortes orçamentários não são novidade), mas como mais um dos sintomas de um projeto degenerado de poder, que tem a crueldade como uma de suas bases mais sólidas.

Um projeto de poder que coloca em prática a transformação do sentido e do significado da universidade pública.

Um projeto que dispensa a capacidade e do potencial crítico das universidades para sociedade e que abre caminho para que prevaleçam os interesses particulares de setores mesquinhos e egoístas da sociedade.

O dilema

Neste contexto, o dilema que se coloca é: pelo que lutar?

A luta deve ser para a reflexão sobre o papel da universidade. Afinal, trata-se de uma instituição que pode produzir conhecimento crítico em relação a qualquer outra instituição ou a qualquer setor da sociedade.

Por isso, é preciso ir além. Não só reivindicar o fim dos cortes orçamentário ou a retomada da valorização das carreiras docentes, mas reafirmar o papel da universidade pública, longe das amarras do mercado, longe dos interesses particulares, e tendo como principal objetivo a análise crítica da sociedade e a construção de teorias sociais que efetivamente desenvolvam nosso país e sejam capazes de ajudar a superar as nossas contradições.

E apesar de todas as violências, tanto as “oficiais” como as dos setores extremistas que apoiam o projeto do governo, os professores universitários possuem inserção real na sociedade e suas vozes permanecem relevantes.

E são justamente essas vozes, dotadas de rigor científico, que poderão abrir caminho em meio às trevas que se avizinham cada vez mais sobre nosso país. Cada um em sua área, mas todas e todos com plenas condições de interferir na realidade.

Como dissemos no começo desse texto, seremos lembrados porque vivenciamos este momento ímpar. Isso nos leva ao passo seguinte: qual marca levaremos pelo que fizemos para mudar essa realidade?

 

 

Fonte: APUFPR


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