A luta por mudanças sociais também passa pelo combate aos agrotóxicos

19 de junho de 2019

Escolher o que consumir também é um ato político, sobretudo na atual conjuntura. De janeiro a maio deste ano, o Brasil liberou o uso de 169 novos agrotóxicos. A título de comparação, o número de licenças concedidas é 445% maior do que o de registros feitos no mesmo período de 2011, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Apesar do aval da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e das declarações da ministra da Agricultura, Tereza Cristina – que assegura que os únicos motivos para que as substâncias não fossem liberadas em governos anteriores eram “problemas ideológicos” – boa parte da comunidade científica discorda tecnicamente que os produtos licenciados em massa no país sejam totalmente inofensivos para seres humanos.

De acordo com informações do próprio Ministério da Agricultura e de movimentos que lutam pela causa ambiental, 33% dos agrotóxicos que agora podem ser utilizados nas plantações brasileiras são classificados como “extremamente tóxicos”. Outros 40% são considerados “medianamente tóxicos”.

Dos produtos que receberam permissão em 2019 até o momento, pelo menos 8 são compostos por glifosato, utilizado para o combate de ervas daninhas. O herbicida é classificado como 2A na tabela de risco da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC, da sigla em inglês). Esse nível indica probabilidade significativa de que a substância seja responsável pelo desenvolvimento de células cancerígenas no organismo.

O produto foi banido em diversos países mais desenvolvidos. Porém o novo governo cede às vontades das multinacionais que utilizam o princípio em suas fórmulas, ampliando a política adotada pelo governo Temer.

Danos muito além do consumo

Apesar dos alarmantes impactos negativos de agrotóxicos na saúde, a luta contra venenos do gênero não deve ser abraçada pela sociedade apenas por preocupações individuais. Os efeitos negativos da política de liberação desenfreada desses produtos são preocupantes em uma perspectiva coletiva.

O motivo é simples: os primeiros afetados pelos prejuízos que essas substâncias causam são os trabalhadores rurais, que as manuseiam e aplicam nas plantações. Essa população costuma ter contato com os venenos em grandes quantidades e por longos períodos de tempo, levando ao inevitável surgimento de problemas de saúde.

Um estudo conduzido pela Universidade Federal do Ceará entre 2007 e 2011 mostrou que, entre 500 pessoas que trabalhavam no campo, 97% estavam expostos a níveis insalubres de 4 a 30 agrotóxicos. Além de câncer, a exposição prolongada aos produtos também pode provocar o desenvolvimento de doenças crônicas que afetam rim, fígado, pele, tireoide, sistema nervoso e cardiovascular.

Por isso, não é exagero dizer que lutar pelos direitos dos trabalhadores e seguir apoiando a indústria de agrotóxicos é um contrassenso.

Como os agrotóxicos liberados em 2019 afetam os alimentos

Infelizmente, alguns dos alimentos mais populares na mesa da família brasileira são justamente os mais afetados pelo uso de agrotóxicos. Itens porosos, expostos a grandes quantidades de água durante o cultivo, com alta taxa de absorção e com cascas mais grossas costumam concentrar maiores índices de resíduos.

De acordo com dados da própria Anvisa, os campeões em contaminação pelas substâncias são alimentos como pimentão, uva, pepino, morango, alface, tomate, cenoura, abacaxi, couve, beterraba e mamão.

A primeira saída para cuidar da própria saúde, da segurança dos trabalhadores do campo e do meio ambiente neste contexto é aumentar o consumo de alimentos produzidos em cultivo orgânico, geralmente comercializados em feiras próprias do segmento e em centrais de cooperativas.

Dando preferência à agricultura orgânica, em geral familiar, as pessoas deixam de financiar perversa a indústria dos agrotóxicos banidos no mundo civilizado e contribuem para a construção de uma sociedade mais saudável e ambientalmente equilibrada.

Fonte: APUFPR-SSind


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