Reuni digital: governo tem pavor de ver estudantes em espaços democráticos

Reuni digital governo tem pavor de ver estudantes em espaços democráticos_APUFPR

Reuni DigitalEm maio de 2021, o Ministério da Educação (MEC) enviou para as universidades a minuta do Reuni Digital, uma proposta de 64 páginas que, se implementada, pode trazer mais prejuízos à já sucateada educação superior no Brasil ao priorizar indiscriminadamente o ensino à distância.

Segundo a divulgação do Governo Federal, o Reuni Digital teria como principal objetivo cumprir com as metas de expansão do ensino superior previstas no Plano Nacional de Educação (PNE) de 2012 a 2024 – principalmente em relação à meta 12, que prevê aumento de 50% na taxa bruta de matrículas. Destas vagas, 40% deveriam ser no ensino público.

Qual o objetivo real?

Setores extremistas da sociedade (e isso inclui o governo Bolsonaro) têm pavor de qualquer ambiente democrático que estimule o pensamento crítico, afinal, o extremismo é a antítese da reflexão e do debate saudável entre as pessoas.

Por isso, as universidades públicas são tratadas como inimigas pelo presidente e por seus apoiadores muito antes de sua posse, já que existência política das ideologias do ódio e, agora, de seu governo, só conseguem sustentar suas pautas anti-humanitárias em ambientes onde impera uma visão única e distópica de mundo (obviamente, com eles no comando da repressão), regada a uma infinidade de paranoias cujo verniz falsamente moralista não passa, na maioria das vezes, de uma estratégia para escamotear a verdadeira pauta, que é a econômica.

Assim como a proposta de homeschooling, o Reuni Digital tem como objetivo afastar os estudantes das instituições de ensino e do convívio com outras pessoas. Isolados em suas próprias residências, estão mais suscetíveis às teorias conspiratórias, paranoias, fake news e toda uma gama de estratégias lançadas pelos dois campos que têm interesse na proposta: os próprios extremistas e os setores econômicos que desejam manter tudo como está (afinal, mesmo em tempos de pandemia, conseguiram lucrar sobre o sofrimento da população).

Para eles, livros, ciência, pesquisas, convívio, troca de experiências, debate de ideias, divergências de opinião, construção coletiva e solidariedade são consideradas sérias “ameaças”. E as universidades públicas abrem espaço para tudo isso.

Pegar uma ideia e piorar ela

A leitura atenta do documento produzido pelo MEC, e das diversas críticas que já surgiram a essa proposta, evidencia outros aspectos para além dos propagandeados.

Desde o início da atual gestão, o Governo Federal tem cortado o orçamento das universidades de maneira drástica. A proposta do MEC não só ignora essa situação como defende a expansão das matrículas com base meramente em plataformas virtuais, com pouca ou nenhuma garantia da qualidade do ensino.

Em maio de 2021, 30 das 69 universidades federais alertaram não ter recursos para chegar até o fim do ano com as contas em dia. A situação afeta não só milhares de estudantes, mas também serviços prestados à população, como os hospitais universitários, e funcionários e professores, que têm cada vez menos condições de trabalhar com qualidade.

Para o MEC, isso não parece ser um problema. Pelo contrário, uma vez que durante a atual gestão o Ministério tem se empenhado explicitamente em enfraquecer as universidades públicas, espalhando fake news sobre “baderna” e produção de drogas ilícitas (entre outras mentiras que já renderam duas condenações ao ex-ministro Abraham Weintraub, com denúncias apresentadas pela APUFPR).

A minuta não cita em nenhum momento a situação das vagas atualmente existentes em universidades, nem defende estratégias para melhorar a qualidade do ensino e da pesquisa produzidos ou das condições de trabalho e infraestrutura.

Não são previstos mais investimentos nas universidades nem a criação de novos campi ou vagas presenciais. Na verdade, o Reuni Digital, inclusive, prevê que parte das vagas atualmente presenciais possam ser convertidas em modalidades à distância ou semipresenciais. Mesmo pesquisas de mestrado e doutorado poderiam ser feitas à distância, o que também já levantou diversas críticas de especialistas.

Pesquisa e extensão universitária são outros pontos ignorados pela minuta do MEC, que trata o ensino superior apenas em um dos seus aspectos, as aulas, esquecendo-se da importância que a ciência tem não só para as universidades como para a toda sociedade – função essa também cumprida pelas atividades de extensão, responsáveis por levar o conhecimento para fora dos muros das instituições.

Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), em 2018 e 2019 houve uma redução de 3,8% nas vagas de cursos presenciais de ensino superior, com um aumento de 19,1% nas de cursos virtuais. Em 2019, 28,5% dos alunos de graduação no Brasil estudavam em modalidades à distância. Se depender do governo, isso é só o começo.

Trata-se de uma proposta voltada para os números, o que, no limite, não passa de propaganda política e eleitoral antecipada para reduzir a percepção da população sobre a péssima atuação do governo na Educação.

O governo de Jair Bolsonaro vem tentando, com muito esforço, isolar as universidades públicas da sociedade e, da mesma forma, manter as pessoas em bolhas montadas para espalhar ódio e mentiras. O Reuni Digital seria apenas mais uma etapa dessa estratégia.

 

Fonte: APUFPR


BOLETIM ELETRÔNICO


REDES SOCIAIS