Em tempos da instabilidade dos comandos institucionais que fragilizam anseios e ideais republicanos, e inserida na plenitude desta sofrível crise pandêmica, a nação brasileira, olhando o mundo pelas janelas da esperança, se despede, com emoção, de muitas das figuras referenciais que partilharam a construção do perfil artístico e cultural deste país.
Com efeito, ficamos mais pobres, perdemos ícones, vetores do bem, que permaneceram vinculados aos caminhos que traçaram nossa existência. Perdemos Aldir Blanc, um nome emblemático da canção progressista pela redemocratização, e tantos outros que nos fizeram testemunhas de suas obras memoráveis.
Nestes momentos de inquietação a que estamos todos subordinados, a APUFPR manifesta solidariedade plena às famílias enlutadas e expressa profundo pesar pela perda dessas importantes personalidades da cultura nacional. Desejamos, sempre, a esperança da rápida chegada de um mundo renovado e melhor para todos.
Oldemir Carlos Mangili
Diretor de esportes da APUFPR
Caça à Raposa –
João Bosco
O olhar dos cães, a mão nas rédeas
E o verde da floresta
Dentes brancos, cães
A trompa ao longe, o riso
Os cães, a mão na testa:
O olhar procura, antecipa
A dor no coração vermelho
Senhoritas, seus anéis, corcéis
E a dor no coração vermelho
O rebenque estala, um leque aponta: foi por lá!…
Um olhar de cão, as mãos são pernas
E o verde da floresta
– Oh, manhã entre manhãs! –
A trompa em cima, os cães
Nenhuma fresta
O olhar se fecha, uma lembrança
Afaga o coração vermelho:
Uma cabeleira sobre o feno
Afoga o coração vermelho
Montarias freiam, dentes brancos: terminou…
Línguas rubras dos amantes
Sonhos sempre incandescentes
Recomeçam desde instantes
Que os julgamos mais ausentes
Ah, recomeçar, recomeçar
Como canções e epidemias
Ah, recomeçar como as colheitas
Como a lua e a covardia
Ah, recomeçar como a paixão e o fogo
Fonte: APUFPR