Brasil vive desmonte dos institutos de pesquisa. A quem isso interessa?

3 de junho de 2019

A resolução dos problemas de um país depende do importante trabalho dos institutos de pesquisa, responsáveis por diagnósticos precisos sobre o perfil e as condições de vida da população brasileira. Contrariando essa relevância, o país está vivendo o desmonte de seus órgãos de levantamento demográfico.

Em abril, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que a verba destinada para a realização do Censo Demográfico 2020 terá redução de 25%. Trata-se da maior e mais importante pesquisa sobre a população do Brasil. O estudo é reconhecido mundialmente por sua metodologia e amplitude.

Ele serve de base para a formulação de políticas públicas e iniciativas de diversas áreas, com destaque para a Educação e a Saúde. Além disso, as pesquisas do IBGE permitem o mapeamento do repasse das verbas federais para cada município brasileiro, o que auxilia na Gestão Pública.

Isso significa que os gastos com as pesquisas demográficas são também investimentos, uma vez que proporcionam um entendimento maior sobre quais devem ser a prioridade do Poder Público em todas as esferas.

O corte no IBGE não será apenas no orçamento, será também no formulário. O Governo pretende reduzir a quantidade de perguntas, deixando de fora itens importantes que contribuem para uma análise mais da realidade do país – essenciais inclusive para pesquisadores das universidades públicas – e para a formulação de políticas pública em todas as esferas.

A redução dos dados impedirá uma análise mais completa da demografia brasileira. Isso apenas irá beneficiar aqueles que não querem saber com profundidade o que se passa no país.

Desmontes

Os primeiros indícios do desmonte, no entanto, surgiram em 2018, quando o Governo Federal propôs que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) fosse desvinculado do antigo Ministério do Planejamento. Na época, especialistas ligados à área manifestaram preocupação quanto ao futuro dos levantamentos demográficos no Brasil.

Nos dois casos, o Poder Público se apoiou no discurso da redução de gastos para propor as mudanças. O receio é de que, por trás da narrativa do ajuste fiscal, esteja um plano de desmonte das pesquisas demográficas, justamente no momento em que o país precisa ainda mais de bons diagnósticos para conseguir superar os problemas.

Além da relevância técnica das pesquisas demográficas, elas são importantes instrumentos de promoção do pensamento crítico. Mas para isso, esses órgãos precisam trabalhar com liberdade e autonomia, sem interferência dos governos de plantão.

Essa mesma lógica tem sido aplicada em outras esferas, como no Instituto Municipal de Administração Pública (Imap) da Prefeitura de Curitiba-PR, e o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes) do governo estadual.

Uma população que desconhece os seus problemas dificilmente têm clareza sobre as soluções.

Nesse sentido, o que está em jogo não é só a manutenção das pesquisas: é o entendimento da sociedade sobre a sua própria condição e o desenvolvimento de ações efetivas para solução de problemas sociais.

Fonte: APUFPR-SSind


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